Com as novas tecnologias, onde fica o convĂvio social?
No fim de semana fui almoçar com uma amiga, e enquanto estávamos a conversar uma com a outra, olhei para um casal na mesa ao lado que se encontrava também a conversar. Mas era uma conversa muito diferente, não falavam um com o outro, mas sim com as novas tecnologias: enquanto ela estava agarrada ao tablet, ele estava agarrado ao smartphone. Não olharam um para o outro nem trocaram uma palavra durante todo o tempo que ali estiveram.
Tenho reparado, como todos nĂłs, em situações crescentes deste gĂ©nero, em que as novas tecnologias se sobrepõem ao convĂvio e ao relacionamento saudável entre as pessoas, tanto adultos, como crianças, e sobretudo adolescentes!
Concordo que todas estas novas possibilidades de contacto com o mundo exterior nos trazem oportunidades de relacionamento com pessoas que não vemos há muito tempo, com o que se passa lá fora, com novos projectos e novidades dos nossos amigos e conhecidos. E ao mesmo tempo acompanhamos a evolução da sociedade actual.
Mas nĂŁo andaremos nĂłs demasiado presos ao que os outros fazem e a esquecermo-nos de conviver com aqueles que nos sĂŁo mais prĂłximos?
As novas tecnologias tornam-nos pessoas menos sociáveis, mais isoladas, menos empáticas, menos verdadeiras, mais consumistas.
1.Menos sociáveis e mais isoladas
Porque já não convivemos tanto como antigamente, convivemos através das novidades das redes sociais, da internet e do que os outros andam a fazer. Olhamos para o que está no ecrã à nossa frente, não ouvimos o que a outra pessoa nos diz, pois estamos mais ocupados a enviar uma mensagem ou um post do que foi o nosso almoço, ou a partilhar o nosso dia para uma máquina.
2. Menos empáticas
Porque passamos cada vez mais tempo ligados Ă televisĂŁo e aos jogos e tornamo-nos imunes Ă forma como os outros se sentem e nĂŁo conseguimos empatizar com eles, piorando o comportamento e gerando comportamento antisociais. A violĂŞncia dos jogos e da televisĂŁo gera a falta de empatia entre os adolescentes, que se tornam menos sensĂveis relativamente aos pensamentos ou consequĂŞncias que podem afectar o outro, ao mesmo tempo que condiciona a adequação no relacionamento.(Antisocial Teenagers Unable to Empathize)
3. Menos verdadeiras
Porque temos a liberdade de nos escondermos atrás de um ecrã e de mostrarmos apenas aquilo que achamos que os outros querem de nós. Não socializamos directamente e o facto de termos um mediador, torna tudo mais fácil e “camuflado”.
4. Mais consumistas
Porque deparamo-nos com uma oferta tĂŁo grande, que nĂŁo conseguimos parar para distinguir o que Ă© realmente essencial e nos faz falta, daquilo que Ă© apenas um capricho. A informação entra “gratuitamente” no nosso cĂ©rebro e temos vontade imediata de adquirir, de ter. É excesso de ruĂdo, excesso de efeitos especiais, excesso de gĂrias, de ironia, muitas vezes excesso de bullying e excesso de publicidade. AtĂ© os prĂłprios filmes incentivam o consumo.
E o que fazer quanto a isto?
Sei que os nossos empregos e as nossas vidas actuais não nos permitem muitas vezes que desliguemos totalmente do que se passa no mundo, mas e o “nosso mundo” em particular?
Sei que na nossa altura, quando Ă©ramos pequenos(as), tambĂ©m passávamos horas ao telefone com os(as) nossos(as) amigos(as) e que as contas de telefone eram gigantescas. Mas será que nĂŁo convivĂamos directamente um pouco mais?
Sei que todos gostamos de nos distrair e ver um pouco de televisĂŁo. Mas a oferta Ă© tanta que a certa altura, nĂŁo a deverĂamos desligar, para descansar a cabeça com o excesso de informação?
Sei que gostamos de saber o que os outros estĂŁo a fazer naquele momento. Mas nĂŁo será muito mais interessante saber o que Ă© que a pessoa Ă nossa frente, ou a nossa famĂlia, está a fazer naquele momento?
Cada um de nós pode chegar às suas próprias conclusões e arranjar a melhor forma de diminuir um pouco a carga de tecnologia e aumentar um pouco o volume do relacionamento humano na nossa vida.
Como li em algum sĂtio num destes dias:
Passamos nove meses agarrados ao cordĂŁo umbilical, depois passamos o resto da nossa vida agarrados ao carregador do smartphone…
Pensemos nisto!
imagen@CelineMahou
4 comentários
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Minha querida Rita
Certeiro, na mouche !
Rita, o seu artigo levanta um problema actual ( ao qual estou bastante sensivel) que reside na incapacidade de gerir a quantidade de informação que circula nos meios actuais e na inadequada utilização dos equipamentos moveis. Um dos grandes desafios nesta sociedade de informação actual reside em conseguir encontrar aquilo que Ă© importante e relevante e nao estarmos constantemente a consumir aquilo que nos cai a frente. Um desafio de auto-curadoria. Relativamente a utilização dos tablets e smartphones, julgo que o problema tambĂ©m reside na educação. O exemplo dado em casa Ă© fundamental, os princĂpios orientadores na utilização devem ser ensinados e “treinados”. Porque se hoje sĂŁo estes os equipamentos, amanha poderĂŁo serĂŁo uns Ăłculos onde nem sequer conseguimos perceber se estĂŁo online ou offline. Depois da fase da descoberta e do fascĂnio Ă© necessário re-estabelecer o equilĂbrio entre o virtual e o real, e nas crianças isso e fundamental para um desenvolvimento amplo e completo.