Como escolher uma arte marcial para os filhos
São muitas as razões que podem levar os pais a querer que os seus filhos pratiquem uma arte marcial. Aprender a concentrar-se, disciplinar-se, melhorar a coordenação motora ou aprender a defender-se, são alguns dos motivos mais apontados para tomar a decisão de levar os mais novos a experimentar uma aula de Judo, Karaté, Aikido ou outra actividade semelhante. Todas eles são válidos — tenho mais dúvidas quanto ao aprender a defender-se, mas disto falarei noutra ocasião — mas nem todos funcionam da mesma maneira em qualquer lugar ou com qualquer criança.
O que fazer então? Como saber onde levar os mais novos e que actividade praticar?
Antes de mais nada, é preciso ter uma ideia do que é cada arte marcial. Ao contrário da noção infelizmente ainda bastante enraizada, artes marciais não são genericamente “socos e pontapés”. Cada uma delas tem a sua história, a sua especificidade e as suas qualidades. Tirando casos felizmente raros, todas as artes marciais podem vir a ser extremamente úteis como ferramenta de apoio na educação das crianças e jovens. Os benefícios, que com o tempo se tornarão evidentes, não dependem da modalidade em si mas da qualidade do seu ensino e da sua adequação ou não à criança que a pratica. E esse é um trabalho de pesquisa que os pais deverão fazer.
Depois, é preciso conhecer bem a criança e pensar se a disciplina na qual estamos a pensar consistirá para ela um prazer ou um sacrifício. Se há muitas diferenças entre as várias artes marciais, mais diferenças existem entre crianças. Cada personalidade se adaptará de forma diferente a diferentes propostas e aquilo que é estimulante para um jovem poderá ser um constrangimento para outro.
Competição
Dentro das artes marciais, sejam elas japonesas, coreanas, chinesas ou europeias, há uma grande divisão logo à partida: o facto de serem ou não serem actividades competitivas ou desportivas. Isso fará toda a diferença para alguns dos futuros praticantes, já que nem todas as crianças são competitivas por natureza. As que o são, se bem guiadas pelo professor, tirarão o melhor partido dessa sua tendência. As que o não são, deverão ter um espaço onde praticar o movimento pelo movimento, sem ter que ganhar ou perder. É fundamental não esquecer que o prazer retirado da prática será a primeira motivação para uma criança se interessar por qualquer actividade.
A escolha
Por tudo o que escrevi acima, é fundamental que os responsáveis pelos mais novos se informem sobre que modalidades há e em que consistem. Em que é que são iguais, em que é que são diferentes, quais os seus objectivos, qual a sua história. É muito importante que tenham em conta que as artes marciais lidam, desejavelmente, com a domesticação da violência e da agressividade. Os dojo (termo japonês que designa o sítio onde se praticam as artes marciais) são por isso locais onde se lidará com relações de poder e com os seus equilíbrios. A fronteira entre a autoridade e o autoritarismo é ténue e a tentação de utilizar a força e as capacidades adquiridas é grande. Um professor não deverá fazer demonstrações de força gratuita e não deverá aceitar nunca a violência entre alunos, seja esta física ou psicológica.
É, assim, aconselhável que os pais peçam ao professor da disciplina que escolheram para assistir a uma aula antes de fazer a inscrição dos filhos. Tal será com certeza possível em praticamente todos os sítios e, se logo no primeiro dia a presença dos pais for dificultada ou impedida, isso poderá ser um mau sinal. Chamo a atenção para o facto de que me refiro apenas a assistir à primeira aula ou aula de experiência, já que na maioria dos locais de prática os pais não poderão estar presentes em todas as aulas. É também importante falar com o professor responsável e fazer as perguntas todas. Não há que ter medo de incomodar; ele estará com toda a certeza habituado a que assim seja e responderá a todas as dúvidas. É aliás do seu próprio interesse que os pais estejam devidamente informados.
Por fim, não se esqueça de que as actividades marciais poderão ser uma excelente ajuda no desenvolvimento dos mais novos, mas não substituem tudo o resto. Sem a ajuda dos pais e o interesse da criança, de pouco mais servirão do que para passar o tempo. Pondere no que cada arte marcial oferece para saber se é mesmo o que convém ao seu filho e desconfie de promessas milagrosas. A auto disciplina é desejável, mas interessará que uma criança se comporte como um militar? A prossecução de padrões de sucesso como numa empresa altamente competitiva será a melhor forma de educar? As propostas são muitas e é por vezes de facto difícil tomar a melhor opção. No fundo, tratar-se-á de de ter em conta alguns pontos para os quais tentei aqui chamar a atenção e seguir o melhor dos instintos: o de cada mãe ou pai.
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