Há pessoas que, certas de ser uma virtude, dizem tudo o que têm para dizer.
Percebe-se que não lhes importa mais nada a não ser dizer tudo aquilo que lhes atravessa a alma naquele instante. Percebe-se também que tomam o ‘dizer tudo’ como coisa boa e que experimentam alívio quando o fazem.
Esta visão do discurso inter-relacional é, quanto a mim, limitadora e passível de originar cenários destrutivos no seio de uma família. Onde a diversidade de perfis e idades coexistem.
Pior exemplo:
Um filho nosso é intolerante à lactose ou ao glúten. É incontornável que quanto à sua alimentação a nossa atitude de pais seja a escolha de alimentos alternativos que não contenham nenhum dos dois.
Porquê? Porque sabemos que, se não for assim, a saúde do nosso filho sofrerá consequências indesejáveis e nós não queremos isso.
Tal como na alimentação, também na comunicação existem conteúdos, formas e momentos que causam ‘alergias’ e ‘complicações digestivas’. Cada um de nós tem a sua resistência e sensibilidade. E cada elemento de uma família tem as suas particularidades ao nível do caráter. Cada um de nós pode fazer ‘reações alérgicas’ ou ficar ‘doente’ quando confrontado com determinado discurso num dado momento.
Comunicação adequada
Tendo consciência da pessoa com quem estou a falar, poderei adequar as ideias, as palavras, a forma de me exprimir e até refletir se é o momento oportuno para o fazer. A comunicação é algo magnífico que permite fazer chegar ao outro aquilo que habita em nós. Mas para comunicar é imprescindível que consigamos pôr-em-comum e isso só acontecerá se, no outro, existir a capacidade de integrar o que eu tenho para partilhar naquele momento. Assim, para que não provoquemos danos no outro por ‘alergia’ ou ‘indigestão’, é importante comunicarmos personalizadamente, ou seja, de maneira adaptada à pessoa a quem nos dirigimos.
Se, não cuidando das particularidades de que se reveste cada ser humano, eu disser tudo o que tenho para dizer sempre que me apetece, arrisco-me a ser violento e a magoar seriamente quem me rodeia. Em vez de comunicar, estarei simplesmente a debitar ideias, palavras e emoções que podem não se adequar ao contexto, à pessoa e à sua natureza. Estarei a ser egoísta e estarei a exigir que seja o mundo a adaptar-se a mim em vez de ser eu a procurar adaptar-me.
Numa família, esta atitude de vigilância quanto à comunicação faz a diferença.
Seja quando falamos com outros adultos ou quando falamos com crianças, pôr-em-comum exige que se vá ao encontro do outro. Que se procure conhecer o outro e se respeite a sua condição para que, revestida de compreensão, tolerância e amor, a comunicação seja efetiva e construtiva. Assim, os nossos filhos irão crescer, sabendo que existem formas saudáveis de nos comunicarmos com os outros e levarão para as suas vidas esta mais-valia tão importante nas relações.
Que nós – mães e pais, consigamos sentir a cada momento o pulsar de cada filho para, assim, conseguirmos chegar-lhes mais perto do coração e lhes sussurrarmos que para comunicar é importante saber usar o espaço, o tempo, o sol e a chuva, as palavras e o silêncio.
Vamos dar-lhes o melhor que temos – nós próprios!
Por Telmo Marques, para Up To Kids®
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