Concentradamente Sã: de pequenino se faz o caminho
“Look at us. Running around, always rushed, always late. I guess that’s why they call it the Human race.” – (Wally Mars, filme “The Switch”)
Vivemos, cada vez mais, submersos e imersos no ritmo alucinante do dia-a-dia.
Cada vez temos menos tempo para o que é realmente importante. Facilmente somos engolidos pelas exigências profissionais, escolares/académicas, familiares.
Vivemos, pensamos e sentimos a “1000 ao minuto” (“à hora” é passado e um privilégio nos dias que correm), e nem nos apercebemos do tanto que perdemos nestas andanças de autómato para que somos empurrados sem nos darmos conta.
Arriscamo-nos a não integrar o que por nós passa e em nós acontece, a não tomar como nosso.
As crianças são, desde que nascem, apresentadas a este mundo de horários a cumprir, de correrias entre creche, escola, casa, TPCs, atividades extracurriculares, “ser o melhor dos melhores”, mães e pais “a mil”. E elas, com a sua plasticidade própria e abertura ao mundo à sua volta, funcionam como esponjas, absorvendo o que as rodeia tem de bom e menos bom.
Não é por acaso, que se verifica um maior número de crianças diagnosticadas com “Hiperatividade”, tantas vezes rotuladas e entupidas com medicação desnecessariamente. As crianças são naturalmente hiperativas, pois são, inegavelmente, seres cheios de energia, uns autênticos “bichinhos-carpinteiros”, com um corpo pequeno. Há que ensiná-las a canalizar bem essa energia e a conhecer o seu enorme potencial.
Slow parenting – Pais sem pressa
A importância de pararmos, de nos abstrairmos do que está à nossa volta e de nos focarmos no “aqui e agora”, como se carregássemos no botão “pausa” do tempo, é já reconhecida há muito. E são também reconhecidos os inúmeros benefícios que este “desacelerar o passo” traz ao nosso bem-estar.
Nos anos 70, Jon Kabat-Zinn propôs o conceito de Minfulness, que se refere à capacidade de conscientemente concentrar a atenção no momento presente, com foco no “aqui e agora”, deixando de lado o passado e as inquietações do futuro. Isto equivale a ter a nossa mente mais lúcida e presente em todos os momentos da vida. Mas não foi pioneiro. As raízes do Mindfulness assentam nas filosofias orientais milenares: na Budista e no mais ancestral Yoga, em que a meditação ocupa o lugar central, reconhecendo-se, assim, o quão essencial é a sintonia entre corpo e mente.
As crianças são como pequenas esponjas, com a capacidade incrível de absorver o que as rodeia.
Se lhes dermos as ferramentas essenciais e o mais cedo possível, o potencial é imenso. Cmo ensinar as crianças a serem Mindful (e igualmente Heartful), a terem uma maior consciência de si próprias, dos seus comportamentos, do seu corpo, das suas emoções, dos seus pensamentos, a estarem menos dispersas e a focarem-se no “aqui e agora”?
Primeiro, importa perceber os principais benefícios que a prática regular do Mindfulness tem em Crianças.
O que as crianças e todos nós temos a ganhar:
- maior concentração e atenção
- maior e melhor adaptação a situações de ansiedade e stress – maior resiliência
- aumento da capacidade de memória
- maior autocontrolo (comportamental, emocional, mental)
- melhor capacidade de aprendizagem
- maior espírito de colaboração vs. competição
- imaginação e criatividade mais férteis
- maior empatia com o Outro
- maior lucidez
Agora sim, “mãos à obra”!
Sugestões para Mindfulness de todos os dias:
– Caminhada pela praia ou jardim
Desafiando a criança a fechar os olhos e sinta a terra/areia debaixo dos seus pés, enquanto imagina aquele caminho com as características que o adulto descrever (e.g., terra fofinha e castanha; areia dourada e macia).
– Silêncio
Num jardim, sentar em silêncio, fechar os olhos e concentrar até escutar apenas o som de um passarinho.
– Respiração
Deitar de barriga para cima e colocar um patinho de borracha (ou um outro peluche pequeno) na barriga da criança. A barriga será o lago dos patinhos e as ondas do lago a inspiração e expiração da criança (respiração abdominal – ótima para relaxar). Pode acrescentar um ritmo: inspirar contando até 3, expirar contando até 6. Junte-se a ela e vivenciem um momento sereno e relaxado juntos!
– Um lugar feliz
Deitada ou confortavelmente sentada, convide a criança a encontrar um lugar feliz no seu próprio corpo, onde vive um sorriso feliz. Encontrado o lugar, a criança pode (visualizando esse lugar) viajar até lá e permanecer sempre que quiser, imaginando que lá existe um cofre dourado onde tudo o que a aborrece, irrita, zanga, entristece se transforma em estrelas douradas de felicidade, amizade, tranquilidade, …
Colocando em prática algumas destas sugestões, é possível termos crianças mais felizes, mais conscientes e lúcidas, mais equilibradas e com um desenvolvimento mais harmonioso.
E agora que as férias do verão estão à porta, porque não aproveitar o ritmo mais brando que se aproxima e descobrir o super-ser Mindful que há nas nossas crianças – as “reais” e as “de dentro dos mais crescidos”?
Junte-se a elas e mãos à obra! A imaginação é o limite!
Alexandra Pinto, Psicóloga
para Up To Kids®
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