Todos queremos ter uma boa relação com os nossos filhos. No entanto queixamo-nos deles sem nos darmos conta da nossa própria – gigante – contribuição para que essa boa relação seja possível. Esquecemo-nos de olhar para nós próprios em primeiro lugar.
Como em todas as relações que se querem saudáveis tem de sentir-se segurança, confiança, respeito e amor. E numa relação de pais e filhos essa verdade não é diferente. Aliás, é exactamente aí que tudo começa.
Todos queremos ter filhos que colaborem, que ajudem nas tarefas, que sejam responsáveis, que sejam respeitadores.
A grande maioria dos pais querem que os filhos sejam obedientes. E para isso recorrem a métodos punitivos quando as suas expectativas saem defraudadas, julgando essa ser a forma mais eficaz para fazer valer a sua autoridade.
E depois, quando a situação arrefece, muitas vezes ficam tristes, frustrados e tantas vezes arrependidos. Mas voltam a repeti-lo. E repetem-no vezes sem conta, porque na verdade, não conhecem outro caminho, ou não conseguem aceitar que existem outros caminhos. É o peso da história tantas vezes a falar por si.
Ao longo dos meus anos de pesquisa e observação, fiz uma fabulosa descoberta acerca do arrependimento. O arrependimento é uma forma que o nosso instinto encontra para nos enviar uma mensagem de alerta para a necessidade de mudança.
E muitas vezes o mais difícil é sabermos o que podemos fazer de diferente. Então voltamos ao que conhecemos.
Einstein dizia que “insanidade é continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”
Nesta nossa maravilhosa, compensadora mas misteriosa jornada enquanto pais, existem muitos caminhos que podemos escolher. E escolhermos a via pacífica não faz de nós maus pais. Muito pelo contrário.
Faz de nós melhores pais! Melhores mentores para os nossos filhos, melhores seres humanos, melhores cuidadores. Faz de nós pais ricos, porque é uma via que nos ensina a esforçarmo-nos, a desejar crescer por dentro. A melhorar.
Sermos pais pacíficos não significa de todo sermos pais permissivos.
Sermos pais pacíficos não significa fugirmos do conflito.
Sermos pais pacíficos não significa não estabelecermos limites.
Sermos pais pacíficos significa estabelecermos esses limites com empatia, regulando as nossas próprias emoções para que nos consigamos manter ligados de forma respeitosa e gentil enquanto o fazemos.
Sermos pais pacíficos, significa criarmos os nossos filhos através de atitudes positivas. E isso significa praticar a empatia e conexão com os nossos filhos nos momentos mais difíceis.
Significa deitar fora o método clássico do castigo/recompensa e aprendermos a relacionarmo-nos, a respeitar e a amar os nossos filhos sempre.
Por estarmos tão culturalmente formatados apenas para uma forma de educar, parece à partida estranho, senão impensável que se possa educar sem punir, sem ameaçar, sem exercermos o nosso poder.
Mas se queremos ter uma relação melhor com os nossos filhos, se queremos que eles sejam cada vez mais respeitadores, cada vez mais cooperantes, precisamos explorar as várias soluções que existem. E essas são vastíssimas.
A disciplina externa não desenvolve de forma alguma a auto-disciplina. Provoca resistência e é inútil.
Tentemos pôr-nos no lugar de uma criança por um momento. Não nos provoca resistência a nós? Quando nos sentimos encostados à parede, como nos sentimos? Quando somos pressionados a fazer algo que não gostamos, que desconfiamos ou que não queremos fazer, como nos sentimos? Somos maus por isso? Somos feios? Somos teimosos? Somos menos merecedores de compreensão, de consideração ou de amor?
Agora imaginemos uma criança pequena ou um adolescente que está ainda desenvolver toda a sua estrutura.
Então o que podemos fazer?
Bernard Shaw defendia que o progresso é impossível sem mudança. Ele afirmava que aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada.
Educar com sucesso as emoções de nossos filhos sem alterar a nossa forma de perceber, sentir, pensar, agir e comunicar com os nossos filhos não é provável. Criar e nutrir crianças mais equilibradas, estruturadas e felizes só é possível quando nós, como pais, sentirmos, pensarmos e agirmos de forma calma e respeitadora com nossos filhos. De forma mais equilibrada, mais consciente e mais estruturada.
Precisamos criar uma estrutura equilibrada e pacífica dentro de nossas próprias casas, para os nossos filhos seguirem o nosso exemplo.
O primeiro passo para o nosso sucesso como pais está exactamente em mudar a nossa mentalidade. Em alterar a nossa forma de educar, de nos relacionarmos com os nossos filhos. Significa reconhecermos a nossa responsabilidade em muitos dos seus comportamentos e em mudarmos os nossos próprios comportamentos e as nossas próprias percepções.
Criar e proteger uma relação harmoniosa com os nossos filhos é um assunto de importância tão primordial e vital, porque é ela que define e molda a maioria – senão todas as escolhas emocionais presentes e futuras.
E como é que se faz isso?
Precisamos de olhar para dentro de nós próprios e para a nossa maneira de trabalhar os nossos próprios problemas, emoções e frustrações.
Também devemos aprender a desprender-nos de todos os conceitos e mitos já enraizados sobre crianças e começar a observar activamente os nossos filhos profunda e claramente. Sem rótulos ou ideias pré-concebidas.
Depois, precisamos de aprender a criar dentro de nós mesmos novos sentimentos, novos pensamentos e novas crenças, com base na observação profunda.
Mas é na profunda gratidão que reside o maior segredo, a maior mudança, a chave mestra para o sucesso de uma boa relação entre pais e filhos. Gratidão por sermos amados por seres tão preciosos, mesmo quando os magoamos e erramos com mais frequência do que estamos dispostos a admitir.
Porque poder conhecer e viver seres tão valiosos e especiais é um privilégio que nunca deve ser tomado como garantido.
As crianças devem saber que podem descansar no nosso amor. E não passar a sua infância e adolescência a sentir que têm de lutar por ele.
Por M.J. Silva, para Up To Kids®
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