O equilíbrio da relação parental
Acredito que há uma relação direta entre o que fazemos como pais, os nossos hábitos, as nossas ações, e o comportamento e desenvolvimento dos nossos filhos. A forma como pensamos e nos comportamos influencia diretamente e molda o pensamento e o comportamento deles.
Acredito que o equilíbrio da relação parental e dos filhos depende em primeiro lugar, do equilíbrio e bem-estar emocional, psicológico, físico, espiritual e social dos pais.
Estas são as minhas bases.
Se eu estou bem, internamente e externamente, relaciono-me de forma equilibrada comigo e com os outros. Se eu estou bem, consigo manter-me presente e equilibrada nos momentos críticos e consigo assim ajudar os meus filhos a equilibrarem-se também. Se eu estou bem, os meus filhos estão bem.
Como adulto, tenho a grande responsabilidade perante mim e perante os outros de assegurar o meu próprio equilíbrio. Como Mãe tenho a tremenda responsabilidade de puder influenciar a balança da relação que tenho com os meus filhos (pelo menos até eles se tornarem aptos para funcionarem como adultos equilibrados e maduros).
Quando os meus filhos estão em desequilíbrio (estão chateados, frustrados, cansados etc.), alterando assim a nossa relação, a minha resposta é decisiva! O que penso e faço em consequência deste desequilíbrio, define para que lado vai a balança e quão grande será a oscilação dela. Ou seja:
- Se escolho reagir de forma automática, sem pensar ou compreender a situação, deixando o meu cérebro escolher o meu comportamento por mim, normalmente com base em padrões pré-existentes (por ex. os aprendidos durante a nossa infância, com os nossos próprios pais), o resultado mais provável será desequilibrar ainda mais a balança. A intensidade da minha reação fará com que este desequilíbrio seja maior ou menor.
- Se escolho manter-me presente, observar e compreender a situação, tentar descobrir o que a provocou e procurar agir de forma que me parece mais eficaz para a resolver, ajudo a repor o equilíbrio. A calma e eficácia da minha ação podem diminuir rapidamente a oscilação da balança.Vou dar-te um exemplo:
Fim do dia, estamos no carro, no caminho de regresso da escola para casa. A minha filha de 5 anos começa a queixar-se – ora porque o sol está sempre do lado da janela dela, ora porque está demasiado calor ou porque nunca mais toca a música que ela quer.
Eu estou a conduzir e está trânsito. Preciso de me concentrar e já estou a pensar nas próximas coisas que tenho para fazer assim que chegarmos à casa (banhos, jantar, etc.). Estou meio presente, meio ausente.
Ao ouvi-la, posso pensar e reagir de várias formas. Para exemplificar vou concentrar-me apenas em duas essenciais:
- Posso pensar que ela está a ser “chata” e está a incomodar-me com coisas sem importância. Este julgamento do comportamento dela vai levar-me à reagir de forma a afastar esta “melga”, dizendo de forma ríspida e pouco educada: “Pára de te queixar! Nada te agrada! Não vês que está trânsito? Preciso de me concentrar!”
Qual achas que será a reação dela? Muito provavelmente vai desatar a chorar porque se sente rejeitada, incompreendida e porque o problema dela está a ser ignorado. - Posso pensar que ela está realmente incomodada com algo e está a precisar de apoio para acalmar. Afinal, só tem 5 anos e acabou de passar 8h numa escola cheia de barulho e longe do seu conforto. Esta observação pode levar-me à ativar a minha concentração no momento presente, e enquanto conduzo com atenção, procurar focar a minha atenção nela. Observar, pensar, aceitar o que a está a incomodar e tentar ajuda-la calmamente. Posso dizer, por exemplo: “Oh, gostavas muito de ouvir aquela música, não é? Estás sempre a cantar quando ela toca. Queres tentar canta-la comigo?…” ou “Ah, hoje está mesmo quente, não é? Também estou cheia de calor. Gostavas de abrir um pouco a janela ou achas melhor aumentarmos o ar fresco?” Desta forma, abro à porta da comunicação e da empatia, e ela saberá que estou a ouvi-la e estou aí para a ajudar.
Qual achas que será a reação dela? Muito frequentemente vai acalmar gradualmente, porque está a sentir-se compreendida e apoiada.
O resultado deste momento depende, em grande parte, de mim. Depende da forma como eu o encaro, como penso sobre o que acontece, da minha presença, do meu equilíbrio e da minha disponibilidade em repor a balança no seu nível de equilíbrio, para ambas.
Quando EU estou em desequilíbrio, o meu comportamento pode provocar o desequilíbrio da nossa relação e, consequentemente, dos meus filhos. Neste caso, não posso esperar que sejam eles a calibrarem a balança por mim, pois obviamente, do ponto de vista de desenvolvimento ainda não têm a maturidade emocional e cognitiva necessária para tal. Mas eu tenho. Ou, pelo menos, é suposto ter.
Também acredito que a vida não é um equilíbrio constante, mas um conjunto de pequenas/grandes oscilações, pois para conseguirmos ficar em equilíbrio, temos que aprender a lidar também com o desequilíbrio.
E, à medida que os nossos filhos cresçam, a nossa responsabilidade em assegurar a balança torna-se cada vez mais partilhada. Cabe-nos ensinar aos nossos filhos ao longo do tempo como podem equilibrar a nossa relação e como podem assegurar o seu próprio equilíbrio. Uma competência que, mais tarde, vão usar para assegurar o equilíbrio da sua própria relação parental.
- Posso pensar que ela está a ser “chata” e está a incomodar-me com coisas sem importância. Este julgamento do comportamento dela vai levar-me à reagir de forma a afastar esta “melga”, dizendo de forma ríspida e pouco educada: “Pára de te queixar! Nada te agrada! Não vês que está trânsito? Preciso de me concentrar!”
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