Somos a todo o momento bombardeados com histórias bem reais de pedófilos, que se propagam como uma verdadeira praga. Mas que na verdade sempre existiram. Por estes dias, a Ministra da Justiça, a Drª Paula Teixeira de Cruz, abriu o debate sobre uma possível lista de pedófilos ser disponibilizada a pais e cuidadores a pedido dos mesmos. Debate esse que abre muitas dúvidas por parte dos legisladores na assembleia da República, mas poucas por parte de muitos pais com quem falo diariamente. Mas trará o poder de ter acesso a uma lista, de facto algum poder a pais e cuidadores além de criar uma alerta social de medo e insegurança?
Quantas vezes, vem a público, que um ou uma predador/a sexual tenha tido livre acesso a crianças ao qual os pais confiaram acima de qualquer tipo de suspeita? Demasiadas. Sem raras excepções, vem nos media que um padre, um professor ou professora (isto porque há mulheres abusadora/predadoras também e convém não esquecer), um educador, um cuidador usa da sua posição para poder ter acesso sem restrição a crianças.
Mas como é que nós, enquanto pais, podemos proteger as nossas crianças? Porque são estas questões que nos inundam os pesadelos. É sabido, que os abusos a crianças não está restringido ao género, a nenhuma faixa etária, a aparência física e muito menos a estrato social. Também não é só o estranho. Não é a crise que dita acções desviantes de carácter e/ou criminais e infelizmente segundo vários estudos acontece no próprio seio familiar. Nós não podemos colocar os nosso filhos numa redoma, e muito menos investigar e ou interrogar exaustivamente todas as pessoas que interagem com os nossos filhos para descobrir se fulano ou Sicrano são potenciais predadores sexuais! E se realmente for um vizinho? Mudamos de casa? Chamamos a polícia? Ou comeamos nós mesmos a policiar todos os movimentos dos nossos filhos?
Porque a verdade é esta: eles estão em todo o lado, e podem mesmo ser o vizinho simpático ou o estranho que se mudou recentemente para o bairro. Porque até no paraíso havia uma serpente…
Também não podemos desconfiar do mundo, e não permitir que os nosso filhos vivam e interajam com o mundo criando as suas próprias memórias de vida. Podemos sim dar-lhes ‘armas’ e conhecimento para se defenderem o melhor que podemos.
Por este motivo,decidi quando a minha fez os seus 2 anos de idade começar a fala sobre o seu corpo como algo privado, só seu. Sobre o que é certo ou errado, do que é uma invasão de privacidade, sobre tipos de brincadeiras e do que o que não está certo ‘brincar’ ou com quem. Desde sempre falei-lhe, de forma honesta e verdadeira mas suavemente claro, que em caso de acontecer algo Ela poderia falar comigo! Que a culpa nunca seria dela, mas o mais importante que Ela teria e poderia dizer que dizer NÃO! Essa é a sua arma e espero que nunca tenha que usar e enquanto escrevo isto o medo está em mim, mas é uma arma que leva para a vida seja qual for a sua idade. O corpo é seu, e não é não!
Obviamente, e tendo em atenção à sua idade, as conversas que tenho tido alertam que o tal ‘papão’ de que falo no titulo deste post, pode estar em todo o lado e que pode parecer de diferentes formas. As conversas têm evoluído e são relembradas quando necessário, e como o tenho feito com cuidado não é algo que a impeça de viver a vida, nem que crie medos desnecessários! Não de todo, apenas a ‘armo’ com informação para que saiba como se defender. Mas mesmo isto não chapa ganha! Mas é algo. É retomar o poder nas nossas mãos em defesa contra algo que parece crescer da escoridão
Já sei que devem estar a perguntar, não estarei eu a criar medos onde não devem existir? Se colocarmos a cabeça na areia, aí nunca saberemos nada nem precisaremos nunca de agir. Aliás foi assim ao longo dos tempos, crianças abusadas não sabiam como se defender nem os pais ou a sociedade como lidar com estes crimes. A quantidade de predadores sexuais que vivem à nossa volta é alarmante. Basta ver os números dos relatórios internacionais de organizações como a Terre Des Hommes, que demonstram que não só ‘eles’ estão em todo o lado como podem ser MESMO qualquer pessoa. Alarmante? Assustador? De facto é, mas não é necessário começarmos a correr as voltas de braços esticados e em prantos. Há que viver, mas se falamos aos nossos filhos e nós próprios ouvimos em criança, para não falar com estranhos, nem comer os ditos doces, porque não sermos mais francos com eles e contarmos-lhes a verdade? Não é esta geração de facto mais perspicaz de qualquer forma? Não passam imenso tempo na internet, onde o perigo espreita a cada página? Não são eles que nos ensinam como usar o iphone sem nunca terem sido ensinados? Não são eles que dançam ao som de músicas pop super a moda, mas que traduzindo são autênticas letras de soft porn? Muitas até encitam ao abuso sobre as mulheres, escondidas sob o Inglês que cantarolamos mas ignoramos o seu significado…ora leiam a Blurred Lines de Pharell e Thicke. Pois é. Já para não falar nos video clips.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=fQYkPqbsykw]
No Reino Unido, nos Estados Unidos e até na India, já há organizações que produzem vídeos que podem ajudar pais e filhos a iniciar este tipo de conversa, que talvez seja a mais difícil que alguma vez terá com os seus filhos. Para mim foi.
O vídeo #HowToTellYourChildren é para mim uma boa forma de iniciar o tema, mas falha por não falar que o corpo de cada um é propriedade privada e que NINGUÉM pode abusar. [youtube https://www.youtube.com/watch?v=uJCWysVuxcs]
O vídeo #HowToTellYourChildren é para mim uma boa forma de iniciar o tema, mas falha por não falar que o corpo de cada um é propriedade privada e que NINGUÉM pode abusar. [youtube https://www.youtube.com/watch?v=uJCWysVuxcs]
Nem que os tais grupos de segurança não são necessariamente seguros se não souberem identificar situações de risco, mesmo vindo de uma pessoa que deveria ser quem os defende. Como é o caso de certos cuidadores, como um pai ou uma mãe, um padre ou um chefe de escuteiros,da vida que teriam acesso ao núcleo de segurança indicado pelos pais. A União Europeia apoiou o ‘Aqui ninguém toca’ ou ‘The Underware rule’ uma campanha a nível nacional, que se foca em delinear os limites que as crianças devem estar cientes para se defenderem e para denunciar abusos.
Conhecer o seu corpo, lidar sem culpa e com naturalidade, saber os limites do seu espaço individual e único, são a forma mais eficaz. O conhecimento, educação, são de facto mais poderosas que qualquer arma. Empoderamento da criança contra os verdadeiros ‘papões’. Sejam eles desconhecidos ou conhecidos. Talvez porque os números de abusos em família são alarmantes, talvez se devesse estender às escolas, onde se pudesse falar disto sem tabus.
imagem capa@futuromais