Chega o mês de dezembro e começa-se a pensar nas prendas de Natal, em como vai ser a festa, e em que pessoas da família estarão presentes. Nos papás e mamãs surgem ainda outras questões.
No outro dia, ouvi de uma amiga minha o quão preocupada ela estava por não saber se devia contar a filha a verdade sobre o Pai Natal e, mais ainda, sobre a culpa que sentia por ter “inventado” a história toda. Com muita angústia, veio perguntar-me o que eu achava que ela deveria fazer. Eu a ouvi e expliquei exatamente o que lhes vou contar agora.
1) O Pai Natal estimula o desenvolvimento cognitivo
As brincadeiras, os jogos, as fantasias e a imaginação são essenciais para o desenvolvimento saudável das crianças e ajudam a desenvolver mentes criativas. Nesse sentido, o Pai Natal não é única personagem a fazer esse papel de estimular a imaginação, mas acaba, inevitavelmente, por ser uma das principais durante a infância.
Conforme a criança cresce ela começa a ser exposta a outros aprendizados e evidências de dados reais. Assim, aprende implicitamente que se leva muito tempo para viajar de uma cidade para outra, que entrar na casa das pessoas não é assim tão fácil e que trenós –ou carros – não voam. E, aos poucos, os elementos da realidade contradizem a fantasia. Quando começam a surgir dúvidas importantes sobre como ele consegue entregar as prendas todas em uma só noite, ou como é possível o trenó voar, é sinal de que a criança está a ter um bom desenvolvimento cognitivo, pois começa a ser capaz de separar a fantasia da realidade.
2) Os pais não são mentirosos
Alimentar a história do Natal e toda a fantasia que envolve a época é dar a possibilidade às crianças de imaginar e sonhar. Através do contacto com a fantasia, a criança vive um mundo de possiblidades e aprende a pensar! Ao dar-se conta de alguns aspetos, a criança tem o seu pensar estimulado, faz cálculos e suposições e levanta hipóteses, questiona indícios do mito e da realidade. E é daí que surgem as perguntas “Como o Pai Natal consegue carregar todas as prendas no trenó?”, “Como é que ele entra na casa se não tem chaminé?”.
Estimular a fantasia das crianças é estimular seu desenvolvimento cognitivo e criativo, dando-lhes hipóteses de aprender a classificar o que é realidade e o que é mito, a traçar estratégias de solucionar problemas ao tentar responder a suas próprias dúvidas, e a aprender as diversas regras sociais de comportamento, por exemplo.
3) Os pais devem responder as dúvidas que surgirem
Aqui entra uma dúvida constante para os pais. Como responder sobre as perguntas em relação ao Pai Natal? Bom, o mais importante é não deixar as crianças sem resposta. Todas as perguntas que eles fizerem serão baseadas em algum tipo de investigação que eles já fizeram, por isso, esse esforço não pode ser desencorajado. É exatamente essa investigação que estimula a capacidade de pensar. Assim, para ajudar ainda mais nesse processo, os pais devem devolver as perguntas a elas e ver o que elas já sabem sobre o assunto.
Se perceber que as respostas já estão muito concretas e que a desconfiança em relação ao Pai Natal já está muito grande, conte a verdade aos poucos. Pode falar que embora a figura do Pai Natal não exista em carne e osso, ele representa a ideia de que as pessoas devem amar o próximo, devem ser solidárias e alegres. E que devem sempre acreditar no melhor. As ideias que fazem parte do Natal é que são essenciais. É importante ficar atento porque, algumas vezes, as crianças já sabem a verdade e estão a testar se os pais estão a ser sinceros. Por isso, escute atentamente, investigue o quanto a criança já sabe e adeque suas respostas em relação a isso.
4) Se houver irmãos menores, devem fazer do filho um cúmplice
A ideia do Natal não precisa acabar quando o Pai Natal deixa de existir. Muitas vezes a criança sente-se já crescida quando divide esse segredo com os pais. Por isso, se houver irmãos mais novos, é importante conversar e explicar o quão divertido é acreditar no Pai Natal e fazer surpresas no Natal, lembrar de quanto ele(a) gostava das surpresas e o quão bom seria se os irmãos pudessem também ter isso por mais algum tempo, até serem grandes o suficiente para descobrirem. Assim eles tornam-se cúmplices da tradição – e eles normalmente adoram!
5) Com que idade é “normal” a criança descobrir a verdade?
Em geral, as crianças começam a fazer perguntas e levam muitos Natais até descobrir toda a verdade. Isso dá-se por volta dos 7 anos, podendo variar um pouco para mais ou para menos. Se a criança seguir a acreditar em Pai Natal por muito mais tempo, é importante avaliar se elas estão a ter a oportunidade de estimular esse lado criativo em outros contextos – jogos, filmes, brincadeiras – ou se estão a manter essa ideia como forma de compensar a escassez de recursos criativos em suas vidas. É importante que a criança transite entre os mundos de fantasia e realidade e os pais devem estar sempre atentos a isso. Na dúvida, procure ajuda especializada para orientação.
Perante tanta realidade cruel, poder educar crianças criativas e felizes com base numa história de amor ao próximo e solidariedade, é poder ter a chance de lembrar o que é realmente importante. Se pudermos, ao mesmo tempo, estimular seu desenvolvimento cognitivo e torna-los adultos flexíveis e com capacidade de pensar, porque deveríamos sentir-nos culpados? O Natal é mágico e traz sempre a certeza de um ano melhor – com ou sem Pai Natal.
Por Letícia Machado, coach pessoal e profissional e psicóloga especialista em psicologia hospitalar, com ampla experiência no atendimento à crianças e adolescentes. Atualmente realiza atendimentos na YellowRoad através do coaching infantil e do treino de pais
imagem@feriasparatodos
2 comentários
Temas bastante interessantes e actuais.
Obrigada Maria Fernanda, se partilhar ajuda-nos a divulgar! <3