
Educar para desacelerar as atrocidades ambientais que temos cometido
“Falo da urgência de educar para um consumo mais consciente, que seja capaz de desacelerar (e quem me dera travar), todas as atrocidades ambientais que temos cometido desde o dia em que passámos a achar que éramos os reis da selva.”
Ideias para ensinar a amar o verde do mundo. E a protegê-lo.
Preocupamo-nos muito em saber se os nossos filhos dizem bom dia, ensinamo-los a dizer desculpa e a pedir por favor. Insistimos com a arrumação do quarto e com as tarefas da casa, mas muitas vezes esquecemo-nos de outras coisas igualmente importantes que transcendem aquele que é nosso cantinho ou o conforto imediato a que nos habituámos.
Falo da importância de os ensinar a cuidar do planeta no qual têm o privilégio de crescer. O planeta que lhes oferece, todos os dias, experiências absolutamente extraordinárias. Falo da urgência de educar para um consumo mais consciente. Um consumo capaz de desacelerar (e quem me dera travar), todas as atrocidades ambientais que temos cometido desde o dia em que passámos a achar que éramos os reis da selva.
Afinal o mundo merece bem melhor do que aquilo que lhe temos feito. Eu acredito que este pequeno grande ser de quem tenho a honra de ser mãe, pode ter em mãos o enorme desafio da mudança que urge. Partilho por isso três premissas base, que procuramos ter como norte nesta tarefa tão necessária de educar para um consumo mais consciente e cada vez mais responsável e refletido:
1. Nós ensinamos aquilo que fazemos.
Este será sempre o primeiro passo, nesta e em todas as missões da parentalidade. De pouco adianta dizer-lhes que é importante poupar água se depois nos veem a lavar os legumes com a torneira aberta. Fazer, será sempre mais impactante do que dizer e eles aprenderão naturalmente a seguir os hábitos ecológicos da família. Partilho convosco um dos momentos recentes em que isto se tornou ainda mais claro para mim. Tentamos ter o hábito de, na praia ou noutros sítios por onde passamos, encher um saco com algum do lixo que vamos encontrando pelo caminho.
Ontem, num dos passeios de final do dia com o meu filho, dei por ele a apanhar uma garrafa de plástico que estava no chão e levá-la connosco até ao ecoponto mais próximo. Confesso que nem reparei na dita, mas lembrei-me porque é que ele estava a fazê-lo, inchei o peito de orgulho e dei-lhe um beijo, seguido de um sussurro: “Boa, companheiro!”
2. Antes de comprar, pensar.
O mundo é uma montra gigante. São as lojas, são os outdoors, são os anúncios dos canais infantis. São os brinquedos dos outros, são as pessoas, que oferecem prometem, acenam… E nós, andamos maravilhados na demanda pelo produto mágico que promete resolver todos os nossos problemas. Eles também, primeiro porque aprendem esegundo porque precisam de ajuda para aprender a ler nas entrelinhas.
Lutar contra o apelo constante do marketing e da publicidade é tarefa inglória. Ensiná-los a refletir, a questionar, a perguntar porquê e para quê, é o caminho que mais nos faz sentido. Seja sobre o catálogo dos brinquedos ou seja acerca da escolha dos iogurtes que têm menos papel ou plástico à volta. Seja na compra dos legumes ao pequeno produtor. Seja no hábito de pensar e criar os presentes para os amigos (em vez de os comprar). Seja na roupa emprestada dos amigos. Tudo são boas desculpas para contrariar o consumo desenfreado e torná-lo cada vez mais sustentável.
3. O mundo é a nossa casa.
Para querer proteger o mundo, é preciso sentir de que substância se faz a sua preciosidade.
É preciso pôr os pés na terra e fazer bolos de lama. É preciso apanhar com a chuva na cara e lamber-lhe as gotas. É preciso saber os nomes dos animais todos e conhecer-lhes a casa. É preciso amar o sol. Venerar as árvores e olhar a lua, sabendo que tudo aquilo que somos é apenas uma ínfima parte de um bem tão maior do que nós.
É preciso lutar contra a tentação fácil de deixar que as crianças cresçam enjauladas, sem saber de onde lhes vem a comida que têm no prato ou achar que a vida se encerra na estrada que percorrem todos os dias para a escola ou no baloiço do parque do bairro.
Eu, enquanto mãe e sobretudo enquanto ser humano, penso todos os dias que o meu contributo podia ter sido maior. Que podia ter-me descentrado um pouco mais do meu bem estar imediato e escolhido o caminho menos fácil. Mesmo que estivesse com pressa.
Penso nisto todos os dias. E todos os dias aprendo mais um bocadinho e faço melhor. Com a vantagem de que agora, conto com ele, para me dar a mão e dizer:
“Olha mãe, está ali uma garrafa de plástico. Vamos levá-la connosco?”
Desenvolve atividade formativa com pais, docentes e assistentes operacionais, maioritariamente nos domínios da Disciplina Positiva.