Ensinar os filhos a esperar
Atualmente, parece que tudo é difícil de aguentar, sob todas as perspetivas.
Os filhos passam por circunstâncias sobre as quais manifestam dificuldades em gerir. No outro ângulo, encontram-se os pais que ficam tão ou mais aflitos quando sentem as crias em apuros. E se o instinto natural impele a ajudar, é isso mesmo que deve ser feito. Já resolver tudo, de modo imediato, independentemente da idade, (e, por vezes até, oferecendo soluções antes de o problema ser manifestado), é ação merecedora de ocorrência no registo criminal da parentalidade.
Cultura do instantâneo
Nascemos todos sob o princípio do prazer, isto é, “tenho fome, alimenta-me já!”; “quero água, como é que ainda não está aqui?”; “a fralda está suja: a troca é para hoje ou amanhã?”. E, sem o domínio da comunicação verbal, o choro serve de alerta para todos os sinais que queremos dar.
Pressupõe-se que, com o desenvolvimento, entre outros aspetos, se desenvolva a capacidade de esperar. Ou seja, de conseguir aguentar os diversos desconfortos que vamos sentindo na vivência diária, sem almejar soluções instantâneas. No entanto, para alcançar esta capacidade de forma ajustada, requer-se que os cuidadores (pais, avós, tios, etc) possuam também esta capacidade. A de aguentar as manifestações de desconforto, por parte de quem cuidam, sem o impulso de querer solucionar, prontamente tudo.
Exemplos disto, relativos a uma fase mais inicial da vida, são a chucha que aparece rapidamente ao primeiro choro, e os avós que surgem como recurso imediato quando os pequenotes demonstram resistência em ir à escola.
Dar tempo para aprender a esperar.
A questão fulcral reside no facto da reação-resposta não dar tempo para aprender a esperar. Não dar tempo para reconhecer o sentir, confrontando-o e suportando-o até passar ou ser resolvido. Ter a capacidade de parar para pensar o sentimento é imprescindível a um desenvolvimento mais harmonioso e equilibrado, mas não “nasce” sem treino.
Não pensar no que se sente, privilegia a fuga.
O evitamento; a incapacidade de olhar para dentro, pelo receio daquilo que possa encontrar-se. E, não conseguir olhar para dentro, é como estar na selva, em frente ao Cuquedo, a anunciar-lhe que ele – Cuquedo – é muito assustador, muito embora, na verdade, ele seja o oposto do susto (sendo que só assusta porque existe essa expectativa sobre ele). Isto é, pode avolumar-se como um perigo.
A verdade é que, não obstante as boas intenções dos cuidadores, um tempo de latência na resposta aos pedidos dos pequenotes (e mesmo dos “crescidotes”), só traz benefícios. Se, por um lado, os ensina a saber esperar; por outro, transmite-lhes a mensagem que quem os cuida está tranquilo. Que não se deixa abalar com o mal estar dos filhos, sendo, por isso, sentidos como uma fonte de apoio muito mais securizante. (É natural que os cuidadores se preocupem. Devem, no entanto, de forma verbal e não verbal, passar a mensagem contrária, para que possam ser vivenciados como porto de abrigo).
Na certeza que a vida não acontece ao sabor do tempo e vontade de cada um. É importante preparar para o desenvolvimento de recursos internos que permitam aguentar mais os “mal-estar” do quotidiano. Na tentativa de evitar que, mais tarde, perante as adversidades da vida, se manifeste a sensação de perda de controlo e, (por norma) consequentes, crises de ansiedade.
1 comentário
Há um provérbio muito antigo que diz “Cabras apressadas parem os filhos mortos” , saber esperar é tão importante como saber agir rápido se a situação o justificar.