São muitos os pais que desabafam sobre a falta de responsabilidade dos filhos.
Ora não fazem os trabalhos de casa, ora não arrumam o quarto. Ora não colocam a roupa no cesto da roupa suja. Não ajudam nas tarefas domésticas, não arrumam a mochila e/ou o saco do desporto, entre muitas outras queixas. Se o convidar a si que está a ler este texto, como mãe/pai ou educador a recuar ao seu tempo de criança, como via a responsabilidade? Conhecia esta palavra? Era fácil de ouvi-la e entendê-la?
Vejo que para muitos de nós, adultos, esta palavra acarreta sempre um peso e até é pronunciada, por vezes, de forma leviana em frases “tens que assumir as tuas responsabilidades”, quando na verdade a maioria de nós não a assume verdadeiramente.
Como em toda a educação, a responsabilidade ensina-se a partir da premissa base : Assumindo-a.
Pode estar, neste momento, a pensar: ainda mais do que já faço?
Eu faço tudo!
Sim, acredito que sim. Mas não é dessa responsabilidade que estou a falar.
Estou a falar da responsabilidade de cuidarmos de nós próprios. Das nossas emoções. Dos nossos pensamentos. Das nossas palavras que saem para fora ou que ficam dentro de nós. Das nossas ações diárias, das nossas relações, daquilo que é verdadeiramente importante para nós. Confundimos muito a responsabilidade, pensando que só se trata de tarefas domésticas, atividades profissionais, tudo o que implica uma obrigação e que deve ser feito com muita seriedade. O que seria se ensinássemos às crianças que responsabilidade é apenas viver a vida com curiosidade? Aprendermos cada vez mais sobre nós, olhando com gentileza para as nossas emoções? Que é dar-nos colo quando mais precisamos. É colocarmos no centro da nossa vida, pois é lá que pertencemos.
A responsabilidade e a auto-estima nas crianças
Quando ensinamos responsabilidade a uma criança demonstrando que somos adultos responsáveis, ensinamos-lhe também que pode criar um vínculo seguro consigo própria, isto é, uma auto-estima saudável que floresce de uma presença cuidada em estar bem consigo em todos os momentos da sua vida.
A criança que nasce dependente de outro ser humano, inevitavelmente vai aprendendo com o tempo que é autónoma e independente. Sendo este o caminho, que seja trilhado com amor próprio. Que seja um caminho em que ela sabe que a responsabilidade pessoal começa em cuidar de si e sim, com isso, a criança plena de bem-estar consegue igualmente fazer todas as tarefas domésticas destinadas à sua idade, com muita brincadeira e leveza.
Se queremos que as crianças sejam crianças, seres humanos inteiros, repletos de responsabilidade, temos que nós adultos assumir as nossas responsabilidades pelas escolhas que andamos adiar. Pelos sonhos que deixamos de concretizar. Por todas as responsabilidades que carregamos às costas que não nos pertencem, como é o caso do que os outros sentem, pensam e fazem.
Sabem quantas crianças hoje assumem responsabilidades que não lhes estão destinadas?
Nomeadamente, assumem a responsabilidade pela relação com os pais, inclusivé, cuidam deles emocionalmente. São muitas as crianças. Nós também fomos essas crianças que assumimos responsabilidades de adultos na nossa época pelos nossos pais.
E naqueles momentos em que já não sabemos se estamos a ensinar a responsabilidade da maneira “certa”, podemos observar a criança. Esta já nasce com todos os recursos para nos mostrar o que é na verdade a tal da responsabilidade que tanto falamos.
Sempre senti em mim a coragem de ajudar o próximo. Sentia que o caminho começava por mim, enquanto pessoa e como terapeuta e rapidamente percebi que esse caminho é para a vida toda.