
Game of Thrones – Versão mães
Game of Thrones – Versão mães
Adoras aqueles episódios emocionantes que te deixam colada ao ecrã e te levavam às lágrimas cada vez que termina uma temporada? Se és mãe, tenho uma excelente notícia para ti – não precisas de esperar pelo próximo episódio! Na verdade, tu fazes parte da série. Nunca tinhas reparado?! Não faz mal, já vais perceber do que falo.
Todos sabemos que “quando nasce um bebé, nasce uma mãe“. O que poucos sabem é que as mães vivem em reinos que se distinguem pelas suas crenças e convicções. Alguns destes reinos são mais hostis, outros mais pacíficos, mas quase todos partilham uma guerra antiga – o desejo de conquistar a coroa dos 7 reinos, aquela que lhes confere o título de “Melhores Mães de Sempre”.
Talvez te estejas a questionar sobre o local onde se dão as batalhas. Basta entrares num grupo de facebook direccionado para mães ou em páginas dedicadas à maternidade para assistires a lutas sanguinárias, daquelas em que vale tudo, até arrancar olhos, e onde um post simples como “o rabinho do meu bebé está assado, que creme recomendam?” termina com frases como “isso só aconteceu porque não teve cuidado nenhum, a culpa é completamente sua, aposto que também tem o rabo assado“.
As personagens dos diferentes reinos andam sempre à espreita, de segunda a domingo, esperando ansiosamente que surja um post que lhes permita atacar sem dó nem piedade, defendendo as cores (crenças) da bandeira do seu reino.
Provavelmente já estão a conseguir identificar alguns dos reinos rivais a que me refiro. Ainda assim, permitam-me que os (re)apresente.
1 – Reino da Amamentação vs. Reino da não-Amamentação
Estes reinos andam constantemente de costas voltadas. Num dos lados vivem as mães que de peito inchado (literalmente) defendem a amamentação, que comparam o leite materno a ouro e aproveitam qualquer conversa para mostrar que são umas survivers, que “só não dá de mamar quem não se esforça“, que as “gajas do reino ao lado são negligentes, estão a criar crianças anafadas e que irão estar sempre doentes“. No outro lado vivem as mães que dão leite artificial; estas acham as primeiras umas histéricas, obcecadas, umas imaturas que cheiram a leite (literalmente), e que no fundo têm inveja dos peitinhos firmes e orientados para Norte das mães que vivem neste reino.
2 – Reino do Parto Natural vs. Reino da Cesariana
A verdadeira mãe é aquela que vive as dores do parto, que tem de fazer força para dar à luz e que no dia seguinte tem dores em baixo e não se consegue sentar– isto são algumas das frases que ouves nas ruas do Reino do Parto Natural. Dentro deste reino existem diferentes graus de mérito – em primeiro lugar, o parto natural sem epidural e sem pontos (estas são as “máiores”); em segundo lugar, aquelas que cumpriram um destes dois critérios; por último, as que não cumpriram nenhum, vistas como as mais fraquinhas da classe. Ainda assim, nada se compara às cobardes do reino rival, aquelas dondocas que se limitam a deitar na marquesa para dar à luz, umas mimadas a quem a vida é facilitada e que não vivem verdadeiramente a experiência de ser mãe.
No Reino da Cesariana riem-se dos comentários das vizinhas e tratam-nas como umas frustradas, umas traumatizadas que sofreram horrores nos partos, umas mal resolvidas cujo pipi já deu tudo o que tinha para dar.
3 – Reino das Papas Compradas vs. Reino das Papas Caseiras
Assim que uma mãe do Reino das Papas Compradas cria um post a perguntar se determinado sabor/marca de papa comprada no hipermercado é geralmente bem aceite pelos bebés, as rivais do Reino das Papas Caseiras surgem como tubarões que cheiraram sangue, atiram-se e mordem sem grandes ponderações – chovem culpabilizações, suposições de que a criança será um obeso miserável e sem auto-estima, palavras técnicas como maltodextrina, receitas de papas caseiras, acusações de que as tipas que dão papas compradas são umas preguiçosas, e um manancial de estudos que fundamentam todas as afirmações anteriormente feitas.
No reino vizinho acreditam que as inimigas passam a vida na cozinha e que para preparar as tais papas caseiras de que tanto se gabam não têm tempo para brincar com os filhos, são uma espécie de hippies que querem tudo natural mas que provavelmente ao cair da noite se enchem de chocolates e gomas para compensar as horas de tédio passadas à procura de estudos para usar como arma.
4 – Reino do Corpinho Pós-Parto Fantástico vs. Reino do Corpinho Pós-Parto em Recuperação
“Ela é” fotos de costas a mostrar um glúteo firme ao ponto de lhe tocar na nuca, “ela é” fotos a mostrar um six-pack utilizado como base para o filhote fazer escalada, tudo isto publicado nos grupos de mães com frases do género: “saí hoje da maternidade e já estou assim“. As “amigas” do reino ao lado, cujo corpo precisa de mais tempo para se ir recuperando, trocam mensagens privadas onde abundam palavras/frases como “convencida, snobe, cuida do corpo porque não cuida do filho, assim também eu“. Do outro lado, as vizinhas que criam aquele género de posts acham as rivais umas preguiçosas, que não cuidam de si, que acham que ser mãe serve como desculpa para se desleixarem, e que por isso precisam desta motivação extra.
5 – Reino do Dorme Connosco vs. Reino do Dorme no Berço
Se o teu filhote dorme contigo, não o digas a alguém do Reino do Dorme no Berço – vão aproveitar para dizer que estás a criar uma criança dependente, incapaz de estar sozinha, um fedelho mimado que se por acaso dormir menos bem receberá logo a justificação de que “isso acontece porque não o habituaram a dormir no berço“; podem até levar-te a pensar que tens uma perturbação qualquer que te impede de te separares momentaneamente da cria.
No outro reino as críticas ao primeiro também abundam, estes defendem que os pais que não partilham a cama com os filhos não se preocupam em criar laços, são frios e distantes, estão a fomentar nas crias um sentimento de abandono e rejeição capaz de explicar várias dificuldades que estas demonstram (“se dormisse com vocês nada disto aconteceria)”.
6 – Reino do Contra Tudo e Contra Todos Só Porque Sim
Este reino está em guerra constante com os restantes. As personagens que aqui habitam não defendem nenhuma “doutrina” em específico, a sua missão é apenas lançar o caos e contrariar tudo e todos só porque sim (daí o nome do reino). Se lhes falarem nas vantagens da amamentação, estas irão apresentar 1001 argumentos contra, se lhes falarem nas desvantagens da amamentação, irão buscar estudos que abordam “as 10 grandes vantagens de amamentar”. Num mesmo dia são capazes de aparecer em diferentes locais com posições opostas, não há limites, desde que se crie uma discussão séria a sua missão está cumprida.
Frequentemente estas personagens vivem infiltradas nos diversos reinos, esperando nas sombras que surja um tópico mais polémico que lhes permita dizer “não concordo!“. Depois de lançarem o seu veneno, afastam-se de mansinho e admiram ao longe as batalhas campais entre as restantes intervenientes; quando não têm esta oportunidade, lançam o tema e esperam, montando uma teia traiçoeira onde as mães dos outros reinos caem sem que se apercebam.
7 – Reino das Mães Livres
Contrariamente aos restantes reinos, aqui não existem guerras, nem ninguém ambiciona a coroa de “Melhor Mãe de Sempre”. Pelas ruas podem-se encontrar mães que fugiram de todos os reinos (excepto do 6!), convivendo de forma saudável e feliz. Não importa se dás LM ou LA, papas caseiras ou papas compradas, se partilhas a cama com o teu filhote ou não, se o teu corpo se está a recuperar mais ou menos depressa. O lema é “só tu sabes o que é melhor para o teu bebé”, por isso ninguém se mete na vida alheia, nem vive a pretensão de se achar capaz de determinar aquilo que é ou não melhor para os outros (até porque têm vida própria e muito com que se ocupar). Se virem algo que mexe com tudo aquilo em que acreditam, percebendo que existe abertura por parte da outra mãe, partilham esse sentimento, contudo sem tentar impor a sua posição – como poderiam impor algo sem conhecer aquele bebé, aquela mãe, aquela relação, aquela família, aquele meio?
Limitam-se a viver livres de pressupostos, da necessidade de ter razão e de fazer as suas opiniões prevalecer. Apenas cuidam dos seus o melhor que podem, um dia de cada vez, sabendo que deixaram de ser mães perfeitas no dia em que o seu bebé nasceu.
imagem@fanpop.com
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A entrada no mundo da maternidade rapidamente se revelou menos “purpurino-brilhante” do que havia imaginado. Poderei ser uma mãe que se sente completa, com disponibilidade para a sua prol, se não cuidar de mim enquanto mulher? Poderei ser uma mulher feliz se não me sentir uma mãe livre?
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