
Geração Verão azul. Quando não deixávamos ninguém para trás.
Geração Verão azul.
Quando não deixávamos ninguém para trás.
Tenho saudades daquela altura da minha vida em que podia fazer tudo sem quaisquer preocupações, responsabilidades ou consequências!
Lembram-se desse tempo?
Da altura em partíamos cabeças porque caiamos das árvore enquanto nos escondíamos para pregar uma partida? Do tempo em que andávamos tanto de bicicleta que chegávamos a ter de trocar os pneus por ficarem carecas! Sim, isto foi no tempo em que uma bicicleta durava uma vida!
Quando os pais só ralhavam se chegávamos depois de anoitecer porque o combinado era voltar sempre antes do sol se pôr!
Naquele tempo éramos nós que trocávamos os cromos uns com os outros e que os colávamos na caderneta com cola branca UHU. Imaginem se os nossos pais fariam isso por nós?!
Aprendíamos a nadar sozinhos – mais cedo ou mais tarde já sabíamos. E tornámo-nos bons nadadores porque passávamos horas dentro da água. O sol ainda não fazia mal e estávamos na praia de manhã à noite.
Gostávamos de tocar às campainhas e fugir e de fazer corridas uns com os outros.
Estes eram programas tão válidos como quaisquer outros.
Não precisávamos de brinquedos para nos divertirmos.
Aliás, todos os miúdos faziam corridas, jogavam ao berlinde e saltavam ao eixo, porque as brincadeiras eram feitas em grupo. E, quando já estávamos cansados, alguém dizia: “O que é que vamos fazer agora?”
Isto foi no tempo em que não deixávamos ninguém para trás.
Os grupos eram coesos e equilibrados. Havia sempre um líder, um palhaço, um mariquinhas, o dos truque do skate, o da bomba da asma, um que gostava de bichos e de fazer experiências, o que não gostava de bichos e um mais responsável mas que alinhava em tudo e que, por vezes, lá metia juízo na cabeça de todos os outros…
Esta era a altura em que valia tudo.
Aqui éramos imortais. E nada era impossível para nós. Porque crescemos livres e ao ar livre e aprendemos a enfrentar desafios.
Aprendemos a andar de bicicleta sozinhos e isso tornou-nos persistentes e batalhadores. Éramos a geração do verão azul, alguém se lembra?
Não nos queixávamos aos nossos pais porque não queríamos que soubessem que tínhamos feito asneira. Isto atribuiu-nos responsabilidades acrescidas e ensinou-nos a gerir os nossos atos. E a pensar antes de agir.
Aprendemos a fazer as nossas escolhas através da experiência.
Algumas não foram boas escolhas na altura mas, de uma forma ou de outra, tornaram-nos pessoas mais fortes e mais conscientes.
Aprendemos a subir às árvores e habituámo-nos a cair e a subir outra vez. Estes foram alguns dos nossos ensinamentos para a vida, e o que nos ajudou a tornar nas pessoas que hoje somos.
Hoje sabemos que o melhor contributo para criar crianças desembaraçadas e bem estruturadas, decididas, persistentes e com uma boa autoestima é dar-lhes liberdade.
Liberdade essa que, infelizmente, hoje em dia não podemos, não queremos, e até temos medo de dar aos nossos filhos.
Porque a necessidade de os protegermos e de os mantermos felizes é tão grande que os fechamos debaixo das nossas saias como se por aqui o sol brilhasse todos os dias.
Contamos com mais de uma centena de especialistas que produzem conteúdos na área da saúde, comportamento, educação, alimentação, parentalidade e muito mais. Acreditamos em Pais reais, com filhos reais.
Sim, como Mãe de 3 lembro-me perfeitamente desses tempos. Foram tempos felizes e, por vezes, também de algumas preocupações porque as coisas aconteciam e “não se sabia” porquê.
É claro que, quando damos liberdade responsabilizada aos nossos filhos também é porque sabemos que eles têm todos (ou quase todos os ingredientes) para corresponder…
Lembro-me que costumava dizer-lhes em pequeninos “sei as sementes que estou a semear e por isso sei os frutos que vou colher”.
A verdade é esta: passada uma geração as coisas já não são iguais, já não são o que eram antigamente.
No entanto, como Avó que sou, tento acompanhar (naquilo que posso e consigo) o progresso geracional. Por isso, embora compreenda que haja um certo “saudosismo” dos tempos que já não voltam mais, temos que pensar em seguir em frente e estar de olhos postos no futuro.
E que futuro? perguntamo-nos. Esse futuro somos nós todos que o fazemos (com mais ou menos crises estruturais a nível mundial) porque no mundo todas as pessoas são iguais – só a vertente cultural é que é diferente. Bom, então somos diferentes! É verdade mas sentimos, amamos, odiamos da mesma maneira – por razões distintas.
Há cerca de vinte anos atrás aprendi que o ser humano tem uma capacidade inimaginável de adaptação. É essa ideia, esse pensamento, essa esperança que desejo aqui deixar expressos. A vida, mercê do desenvolvimento tecnológico e de outros fatores mudou muito mas, afinal, se nós “lutarmos” por manter a nossa estrutura, o nosso núcleo e a nossa família coesa, podemos arranjar sempre alternativas para que as crianças e os jovens continuem a ter uma vida feliz!