
Grito, castigo e palmada: a tríade indesejada
Grito, castigo e palmada: a tríade indesejada
Quais as consequências de educar através do grito, castigo e palmada?
Não consigo encontrar bons motivos para usar alguma das 3 alternativas. Pelo contrário, só encontro problemas. Muitos! Os leitores poderão dizer: “mas eu apanhei e nunca me fez mal”. Sim, isso pode ser verdade para si, mas é um mau argumento porque, para muitas outras pessoas, apanhar FEZ MAL.
Se gritar, castigar ou bater são as únicas ferramentas que funcionam para educar e ensinar, é tempo de refletir e rever conceitos. Vamos a isso?
SABIA QUE:
Errar faz parte da aprendizagem humana.
Nenhuma criança erra de propósito ou com intenção de atacar os pais. É natural.
Errar é aprender.
Erros são oportunidades para aprender, não motivo para castigos.
Comportamentos desafiadores
Comportamentos desafiadores são, muitas vezes, tentativas desesperadas de comunicar. Podem ser mesmo a única forma que a criança tem… porque não conhece outras.
Comportamentos desafiadores revelam, muitas vezes, sofrimento e carência afetiva.
Punição não gera aprendizagem.
Gera desconforto, desamor, ressentimento e sensação de abandono.
Efeito da palmada
A criança não deixa de ter comportamentos indesejados por levar palmadas. Deixa de os ter por medo ou simplesmente porque não quer passar pela experiência de novo. Em muitos casos, os comportamentos indesejados até pioram. Noutros casos, a tendência pode ser esconder as suas ações dos pais ou tornar-se uma criança submissa e sem expressão.
Bater ou gritar pode resultar no momento imediato
A criança deixa de fazer o que estava a fazer. Mas quantas e mais vezes serão necessárias? E até quando? Acaba por ser uma bola de neve e, a longo prazo, a criança pode tornar-se agressiva porque a única coisa que aprende é a linguagem da agressividade e da violência.
Aprender através do exemplo
Ao crescer, a criança tende a reproduzir a mesma dinâmica no seu relacionamento com os outros: quem é maltratado, aprende mais a atacar e a defender-se, e aprende menos a amar o próximo.
Punição física
A punição física aumenta a probabilidade de a criança adotar comportamentos antissociais ou desenvolver problemas de saúde mental.
Gritar não tem poder educativo.
Tem apenas o poder do susto ou do medo.
Isto faz-lhe sentido? Educar pela positiva dá trabalho, exige treino e desconstrução de padrões antigos.
COMECE POR AQUI:
- Aprenda a gerir as suas próprias emoções. Procure introduzir na sua rotina individual, momentos e atividades de autorregulação e que lhe proporcionem bem-estar emocional. Se os pais não estão bem consigo mesmos, como podem querer que os filhos estejam?
- Promova o diálogo, as boas conversas e aposte na relação com os seus filhos.
- Estabeleça regras e limites saudáveis em parceria com os seus filhos. Sempre que possível, envolva a criança na tomada de decisões. Peça-lhes sugestões para a resolução de problemas. Ouça as propostas e avaliem-nas em conjunto.
- Aprenda a escutar. A escuta ativa é a base para uma boa comunicação.
- Perceba que autoritarismo é diferente de autoridade. Exerça a sua autoridade parental com respeito e carinho. Perceba que respeito é diferente de exigir obediência.
PENSE COMO UMA CRIANÇA:
A Criança que fomos pode ter as respostas que procuramos. Na perspetiva do adulto, os problemas das crianças podem parecer simples e de fácil resolução. Nem sempre conseguimos compreender ou acolher as suas dificuldades, tendendo a desvalorizá-las, mesmo sem intenção, com frases deste tipo:
– isso é um disparate!
– isso não é um problema!
– as crianças não têm problemas.
– vá, isso já passa.
– o teu problema é brincar.
– para com isso, deixa de ser assim!
– se soubesses os problemas que eu tenho..
– mas porque é que insistes em arreliar-me?
– tiras-me do sério!
– para de chorar senão dou-te motivos para chorar a sério
Os problemas da criança são tão válidos quanto os do adulto.
Simplesmente são proporcionais ao que cada um consegue carregar. Não posso comparar o tamanho da minha mochila com o tamanho de uma mochila infantil, correto?
Aquilo que para nós, hoje, é insignificante e sem importância, talvez já tenha sido um grande desafio para nós no passado. Trazer à memória a criança que fomos, pode ajudar-nos a compreender melhor as dificuldades, resistências e comportamentos indesejados das nossas crianças, a conectarmo-nos com elas, a empatizarmos com os seus problemas e a agir de forma mais consciente e equilibrada. Ou seja, sem ser por impulso, por desespero ou com recurso à força, ao castigo e palmada ou à punição.
Às vezes basta recordar como nós próprios éramos em criança:
– o que pensávamos sempre que….?
– o que sentíamos quando….?
– como reagíamos perante….?
– o que fazíamos se….?
– o que é que nos ajudava ou dificultava em determinada situação?
– como gostaríamos que os nossos pais nos tivessem tratado nessa situação?
Grito, castigo e palmada: a tríade indesejada
Está provado cientificamente que o grito, castigo e palmada não geram aprendizagem nem mudança saudável de comportamentos. Se queremos que as nossas crianças sejam emocionalmente estruturadas, com boa autoestima, que se sintam amadas e protegidas, e que colaborem connosco, temos que mudar primeiro o nosso mindset e a nossa abordagem. A mudança começa no adulto: pais, professores, cuidadores. Não deixemos para depois. A mudança começa agora!
Contribuir para que as crianças se compreendam, se saibam expressar e superem os desafios que lhes são colocados no dia a dia, é o meu compromisso.
quais são os artigos / evidências que baseiam sua argumentação?