Há desafios que desafiam mesmo a sério
Foi num livro sobre a metodologia educativa de Reggio Emília que descobrimos este desafio e não queríamos deixar de o experimentar.
A metodologia de Reggio Emília assenta numa pedagogia de relação e de escuta, que parte do pressuposto que a criança é um ser em pesquisa, curiosa e atenta e neste processo de aprendizagem produz as suas teorias interpretativas do mundo. Como prática educativa, o educador é um observador no seu trabalho diário, documentando, formulando hipóteses, interpretando, pesquisando e escutando. É também o responsável por criar o contexto mais adequado para que as crianças se sintam confiantes, confortáveis, estimuladas e respeitadas durante o seu processo cognitivo de descoberta do mundo.
E o desafio que queremos aqui partilhar é muito simples! Experimente fazer com os seus filhos ou com os amigos dos seus filhos: construir uma ponte apenas de barro e arame. Sem esquecer que a construção deve ter equilíbrio – não é suposto uma ponte cair! – e uma função – será para pessoas ou para carros ou para …? -, deve também ser bonita e criativa – não fosse este um exercício artístico e não fossem estas construções denominadas de “obras de arte”!
Fácil, não é?!
Sim, sem dúvida!
Mas o desafio maior não está no resultado desta construção mas sim no: a ponte deve ser executada a dois! Se à primeira vista vos parecer que nada disto é difícil, experimentem observar os comentários e comportamentos das crianças quando realizam este exercício. As crianças estão habituadas a trabalhar sozinhas e, perante um trabalho de expressão plástica deste género, muitas são as que sentem algumas dificuldades em superar o desafio de trabalhar com o outro. Ter de ouvir as ideias do seu colega, expor as suas, abrir mão de ideias que julgava como certas, aceitar que o outro também tem ideias e que são tão válidas como as suas, é um desafio que poucas crianças têm a oportunidade de experimentar já que nem todas as escolas ou metodologias educativas realizam este tipo de exercícios em idades mais novas. Apenas em idade escolar é que somos “obrigados” a realizar os “trabalhos de grupo” mas que na verdade funcionam – até mesmo na idade adulta, ao nível de licenciaturas ou mestrados – como trabalhos individuais, cada aluno ficando responsável por uma das componentes do trabalho de grupo.
Este é assim um bom desafio para Educadores e Professores: é um bom exercício para aprendermos a ouvir mais o outro, a fazer valer as nossas ideias, a saber abdicar delas e a aceitar as ideias dos outros…à partida, tão válidas quanto as nossas.
Ora experimentem!
Por Patrícia Azevedo, Programadora Cultural
para Up To Kids®
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