Quando há necessidade de recorrer à fisioterapia respiratória?
A fisioterapia respiratória, indicada em todas as idades, é particularmente importante em pediatria porque as crianças e bebés, devido às especificidades do seu aparelho respiratório e pelo seu sistema imunitário não estar totalmente desenvolvido, têm uma sensibilidade maior a determinados microrganismos, como os vírus e as bactérias, desenvolvendo facilmente infeções respiratórias.
Esta intervenção, individual e personalizada, é recomendada quando há associação de sintomas como a obstrução nasal, a tosse, os “gatinhos” (sibilâncias), febre, diminuição do apetite ou sono alterado. Estes sintomas indicam que a infeção pode ter progredido para as vias aéreas inferiores, ou seja, para o interior dos pulmões, sendo agravada pelo facto de a criança apresentar dificuldade em libertar as secreções, que se acumulam criando um espaço ideal para o desenvolvimento dos microrganismos. No entanto, é importante realçar que se a criança consegue libertar as secreções sozinha, deveremos estimular esse sucesso e não intervir!
A fisioterapia respiratória consiste, assim, na reprodução do movimento normal da inspiração e expiração facilitada pelas mãos do fisioterapeuta, com o objetivo de mobilizar e eliminar as secreções. São utilizadas técnicas como a aspiração nasal, técnicas inspiratórias forçadas, a expiração lenta e prolongada, associados (ou não) à tosse provocada.
Durante a intervenção é provável que a criança chore, esperneie, chame pela atenção dos pais ou tente tirar as mãos do fisioterapeuta do seu corpo. Estes sinais de inquietação apenas significam que a criança não está a gostar que a agarrem à força e a obriguem a sujeitar-se à introdução de soro nas narinas e de alguma pressão no tórax. No entanto, é importante informar os pais que nenhuma destas técnicas provoca dor ou representa qualquer risco para a criança. Por outro lado, o choro pode ser considerado um amigo, pois a vibração que provoca é transmitida às vias aéreas pulmonares, ajudando no descolamento das secreções.
Estas técnicas têm sido estudadas nos últimos anos, verificando-se uma melhoria significativa dos sintomas logo após a primeira sessão e uma diminuição do tempo de recuperação. Deste modo, evita-se o uso abusivo de antibióticos, que não têm influência no curso das infeções virais, incentivam ao aparecimento de numerosas resistências bacterianas e podem matar bactérias benéficas para o corpo.
A fisioterapia pode e deve atuar também na prevenção das infeções respiratórias, contribuindo para a qualidade de vida da criança e dos pais. Os ganhos dessa intervenção podem ser significativos: poupam-se os custos com hospitalizações, reduz-se problemas como a ausência laboral dos pais e reduz-se a morbidade associada a problemas respiratórios na primeira infância. Desta forma, o fisioterapeuta pode capacitar os cuidadores, nomeadamente os pais e educadores de infância, das ferramentas necessárias para reconhecer e lidar com as infeções das vias aéreas superiores, atuando de forma preventiva e evitando possíveis recidivas.
A fisioterapia respiratória pediátrica contribui para prevenir, reverter ou minimizar possíveis disfunções e respetivas complicações, promovendo a melhoria da qualidade de vida da criança, através da integração social e familiar e do aumento da sua funcionalidade.
Por Nelma Paiva, Fisioterapeuta do Crescer com Afecto – Saúde Pais e filhos,
Para Up to Lisbon Kids®
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