Limites: a segurança emocional das crianças
Toda a criança precisa de limites seguros para o seu desenvolvimento. Vamos falar de limites como se fossem fronteiras. Os limites aprendem-se através dos sentidos, das sensações. A única forma natural e biológica que uma criança pequena tem de aprender sobre o mundo é mexendo nos objetos, para saber o que são. Nesta exploração, ela vai tendo reações dos seus cuidadores. Reações que podem ser positivas, que significam que é possível avançar e explorar mais as fronteiras onde se encontra. Quando recebe reações mais negativas, é hora de parar e de explorar outros caminhos.
Tudo isto acontece através de um vínculo seguro. Ou seja, uma relação saudável que ajuda a criança a explorar a envolvente e a regressar a casa quando precisa de ajuda para encontrar o seu equilíbrio emocional.
Comunicar limites
Para a criança conhecer os seus limites os pais também precisam de conhecer os seus próprios limites. E têm de saber comunicá-los com gentileza, assertividade e clareza. É difícil colocar fronteiras quando não as conhecemos. Quando essas fronteiras são rompidas é que muitos pais se queixam e afirmam “as crianças precisam de limites!”.
Isto leva-me também a falar da diferença entre limites e regras.
Regras são impostas, quase nunca questionadas, e até muitas das vezes quebradas. É o exemplo das regras de trânsito, quem nunca passou por um sinal vermelho ou um traço contínuo? A mesma coisa nas escolas. As regras da sala de aula facilmente conseguem ser trespassadas porque não foram criadas para aqueles alunos em específico. Normalmente, as regras são muito generalizadas e dificilmente vêem o indivíduo.
Já, os limites, as nossas fronteiras, falam sobre a nossa pele, sobre o nosso DNA, sobre a nossa integridade. Quando uma criança diz que “Não” e nós sem questionar simplesmente não respeitamos o seu “Não”, facilmente estamos a dizer-lhe que o seu limite não tem valor. Ou quando entramos num sistema de obrigar a criança a fazer algo sem explicação, mais uma vez, estamos a dizer que as suas necessidades não têm valor. Quando uma criança diz que não tem frio e rapidamente nós dizemos “Ai, tens tens!”, ou a mesma coisa com a fome, a criança diz que não tem mais fome, e nós continuamos a insistir.
São comportamentos que falam mais das nossas inseguranças.
Precisamos de aprender a confiar na criança e a acreditar que através de um sistema de colaboração há mais respeito pelos limites uns dos outros, maior respeito pela integridade e constrói-se uma auto-estima mais saudável. Precisamos de aprender a confiar em nós, e a escutar atentamente os nossos limites e, mesmo com medo, comunicá-los. O sistema de limites numa criança, muitas vezes, é idêntico ao sistema de limites dos seus pais. Se não conseguimos lidar com o nosso chefe, temos medo de lhe dizer o que pensamos, facilmente ficamos frustrados. Levamos essa frustração para casa, e descarregamos em cima de quem amamos.
Podemos então reflectir sobre os nossos limites e também é importante ensinar uma criança a reconhecer os próprios limites.
Eis alguns exemplos:
- Verificar se a criança começa a demonstrar sinais de cansaço, como por exemplo, sono ou fome e ajudá-la a preencher essas necessidades no imediato.
- Ajudá-la a perceber quando começa a chegar ao limite da sua paciência e a entrar numa onda de frustração. Como? Reconhecendo a sua impaciência e sugerindo uma pausa do que está a fazer e depois mais tarde regressar.
- Acolher a raiva, principalmente ajudar a criança a aliviar as suas explosões. Nesta situação, importa saber como lidamos com a nossa própria raiva e o que fazemos para nos auto-regular. Através dessa auto-regulação, ajudamos a criança a co-regular-se.
- Ajudar a criança em situações em que a criança não quer dar beijinhos, nem abraços, dizendo que ela não é obrigada a fazê-lo quando não tem vontade de o fazer.
- Com crianças mais crescidas, podemos também fazer role-plays de situações na escola, onde é necessário dizer não e colocar limites.
Em casa, é importante pararmos quando a criança nos diz para parar. Para parar a conversa e até as cócegas. Perceber que há um limite. Quando a criança não é ouvida, uma brincadeira pode tornar-se desagradável.
Se, nós adultos, não somos capazes de respeitar os seus limites, então a criança dificilmente consegue entender quando alguém o faz.
Sempre senti em mim a coragem de ajudar o próximo. Sentia que o caminho começava por mim, enquanto pessoa e como terapeuta e rapidamente percebi que esse caminho é para a vida toda.