Quando engravidamos a primeira vez, as mães que nos rodeiam, quer sejam amigas, conhecidas ou perfeitas estranhas, têm sempre um conselho para nos dar. Não sei se, querer instruir as outras mulheres fará parte do instinto maternal, como se fossemos enviadas numa missão especial com o objetivo de proteger todos os recém-nascidos das garras de uma mãe inexperiente. Ou se queremos apenas mostrar que sabemos mais, característica própria da vaidade do sexo feminino.
Mas o facto é que a maior parte dos conselhos que me deram foram inúteis e vazios. “Dorme tudo agora, que depois não tens tempo”, “aproveita bem que eles crescem num instante”. Eu já me cruzei com estas mães. Eu sei que vocês também, e eu sei que muitas vezes já nos tornamos nelas.
As mães, por natureza são um ser controlador e possessivo. Há muitas que assumem: “Eu sou muito mãe-galinha!”… Será só isso?
Se há algum conselho que eu posso dar, e que aprendi com a experiência é:
“ Não queiras ser uma control freak ”
Tudo começou quando nasceu o nosso primeiro filho. Eu amamentei sempre, por isso, quando ele acordava à noite habituei-me a ir lá. Nem sempre era para mamar. Mas era sempre eu que me levantava. Enquanto habituava o meu filho a ter a mãe para o aconchegar sempre que chorava, habituava o meu marido a dormir ferrado ao som do choro de um bebé.
Durante o dia, dava dicas úteis ao meu marido porque como eu passava mais tempo com o bebé… achava que eu é que sabia o que era e como era melhor.!
Sempre mudei as fraldas porque achava que o pai nunca punha o creme certo a seguir ou a fralda não ficava bem presa como quando era eu a trocar. Acabava por sair xixi. O bebé ficava com soluços e eu teimava que só eu é que o sabia ajudar nos soluços. Mudava-lhe a roupa, e às vezes punha-a de parte para o pai vestir. Mas ele não sabia como apertar os cueiros e, por vezes, vestia as costas para a frente.
Sempre achei que era melhor eu ir ver e dar uma ajuda.
Porque eu é que sei o que é melhor para o meu filho, como ele gosta de se deitar, de arrotar e quais a rotinas dele. O pai pega-lhe ao colo. Eu digo-lhe que tem de agarrar a cabeça do bebé. Ele diz que sabe, mas nem sempre agarra. Eu estou sempre lá, a dizer o que fazer, como o fazer, e quando o fazer.
Oito anos depois, temos três filhos e eu estou grávida do quarto. Acordamos de manhã cedo, muito cedo. O pai vai fazer a barba e tomar banho. Eu acordo os miúdos e ponho-os a fazer xixi e a lavar a cara.
Escolho as roupas conforme as actividades escolares de cada um porque eu é que estou a par dos horários deles. Ajudo-os a vestir. Os mais velhos já se vestem sozinhos por isso dou-lhes a roupa e vou tratar do mais novo. Quando volto ainda estão a calçar as meias. Visto todos rapidamente.
Preparo o saco ou mochila de cada um porque só eu é que sei o que é para levar cada dia. Os miúdos nem me deixam pensar “que dia é hoje” para saber o que colocar nas suas mochilas. Enchem-me os ouvidos de histórias sobre os seus sonhos, e perguntas sobre como será este dia. Sobrepõem-se aos gritos para se fazerem ouvir. Tenho de recorrer telemóvel para saber a que dia estamos: o telemóvel não está onde era suposto. Algum deles já andou a jogar de manhã no meu telefone. Acordam a pensar em gadgets… Fecho as mochilas.
Preparo almoço para um, e snacks para os mais novos, que gostam de petiscar uns cereais ou bolachas quando chegam ao colégio e ainda estão lá poucas crianças. É muito cedo. Mochilas preparadas, sacos das actividades fechados, cesto e lancheiras à porta. Já tomaram o pequeno-almoço, o pai deu um iogurte, preparou um pão de leite a cada um e fica a ver as notícias enquanto toma, também, o seu pequeno almoço.
Vai tudo para a casa de banho lavar os dentes. Eu vou lá conferir que ficam bem lavados. As perguntas e conversas são contínuas. Discute-se porque é que um leva mais cereais para a escola do que os outros (levam todos o mesmo), e quem é que joga primeiro consola quando chega a casa, sendo que só podem jogar ao fim de semana.
Finalmente saem de casa. O pai leva-os ao colégio todos os dias. São 8h00 e só me apetece voltar para a cama. Tomo o meu pequeno-almoço de pé, tomo banho e saio. Quando me sento no computador começo a ler os e-mails do colégio. Aponto datas de reuniões, datas de inscrições, data da festa de despedida das professoras de um, data da festa de ginástica de outro. O meu calendário enche-se de compromissos socio-escolares dos meus filhos. Sinto-me a adormecer no computador. Paro para beber um café. Começo a trabalhar e a manhã vai a meio.
A seguir ao almoço, retomo os e-mails. Tenho de dar resposta aos convites para as festas de aniversário. Articular os horários e disponibilidades para os levar e buscar. Antecipar se estamos cá nesses fins-de-semana e se eles podem aceitar os convites. Tenho de conhecer as crianças da sala de cada um para poder comprar os presentes de aniversário. Saber o que cada um gosta. As férias aproximam-se. Tenho de começar a planear os ATL em que os vou inscrever. O melhor seria mandar todos juntos, tenho de pesquisar bem! Já comecei a pensar onde serão as festas de aniversário este ano, e estou atenta aos sites específicos para tirar ideias dos temas e decors.
Não tirei o jantar de manhã antes de sair da casa (Como é que é possível). Tenho de tratar disso mal chegue para descongelar qualquer coisa. Às 16h00 tenho de sair de onde esteja para ir busca-los à escola. São três escolas, a volta é longa, e à tarde há sempre trânsito. Chegamos a casa. Há trabalhos de casa para fazer e banhos para dar. Esqueço-me do jantar. Peço ao pai para ir buscar uma pizza. Ele fica à espera que eu encomende a pizza, e que lhe diga a que horas está pronta, porque está habituado a não ter de pensar sequer o que é que cada um gosta de comer. E como em tudo o resto cá em casa, fica à espera de ordens para realizar tarefas.
Porque eu o habituei assim, e já não tenho como mudar esta rotina. Para mim é tarde demais, mas para quem ainda vai começar a ter filhos, para quem ainda está grávida eu posso dar este conselho: não sejam controladoras, não sejam possessivas, os filhos são dos dois. Deixem o pai da criança tratar das coisas.
À sua maneira, imperfeita e trapalhona. Deixem-no aquecer o leite, à próxima já vai acertar na temperatura. Se o xixi sair da fralda ele vai perceber que está mal posta. Ou não, e terá de mudar mais vezes, mas nenhum mal virá ao mundo. Deixem os pais comandarem e escolherem as roupas. Controlar o dia das actividades, e saberem qual é a gaveta das meias de desporto dos miúdos. Deixem-nos aprender a vestir um fato de ballet às meninas, e saber qual o material que se leva para a natação.
Quando o virem com o bebé calem a boca, fiquem sossegadas e deixem-no encontrar soluções. Assim não vão tornar-se em robots programados para cumprir ordens específicas.
E vocês vão acabar por desfrutar mais a longo prazo do vosso descanso! Acreditem.
Um dia mais tarde vão agradecer-me!
Contamos com mais de uma centena de especialistas que produzem conteúdos na área da saúde, comportamento, educação, alimentação, parentalidade e muito mais. Acreditamos em Pais reais, com filhos reais.
2 comentários
Estamos sempre a tempo de introduzir mudança nas nossas vidas e nas dos outros… Largando o controlo ficamos muitas vezes surpreendidos com o que as pessoas são capazes de fazer, mesmo quando achamos que é tarde de mais. Se neste momento ficasse doente (que não lhe desejo de nenhum modo tal 🙂 todas as tarefas eventualmente teriam de ser feitas. Pouco a pouco vale a pena largar algumas tarefas e ver o que os outros são capazes de fazer 🙂