Mães e Pais têm licença poética para serem ridículos

Mães e Pais têm licença poética para serem ridículos

Mães e Pais têm licença poética para serem ridículos

Quando nasce um filho, nasce também uma mãe e um pai.

O “nascer” mãe/pai não se dá como a data e horário do parto dos bebés, por exemplo: nasceu dia 04 de fevereiro de 2013, às 15:47 horas. A Mãe e pai vão nascendo aos poucos, adaptando-se às necessidades do rebento e transformando-se para acompanhar as fases de seus filhos. Haja amor para tantos partos de um mesmo filho, primeiro bebés e crianças, depois pré-adolescentes, adolescentes e, finalmente, adultos.

Lembro-me quando as minhas amigas me mostravam incansavelmente as fotos de seus filhos no telemóvel.

Eram milhares, todas iguais. Que chatice! Eu não era mãe! Além do mais para mim recém-nascidos sempre foram parecidos com joelhos: eram bonitinhos, mas inchados e sem forma.

Desmarcar compromissos de trabalho porque não tinham com quem deixar o bebé ou porque este adoeceu, sempre achei pouco ético e irresponsável. Emocionar-se quando o filho deu o primeiro passo ou disse a primeira palavra era desnecessário, afinal, é isso que se espera de uma criança, que ela se desenvolva. Mãe/pai a chorar porque chegou o dia de a criança ir para a escola, qual o sentido? Afinal, todas as crianças precisam de sociabilizar e aprender a ler e a escrever.

Até que, também eu fui mãe e, aos poucos, tudo isto foi fazendo sentido.

Mostrar fotos a toda a gente, incluindo aqueles que não querem ver (não são mães/pais), era quase uma obsessão. Os recém-nascidos já não têm cara de joelho, consigo identificar as características que são da mãe e as que são do pai, mesmo numa cara tão pequenina.

Quando o meu filho adoece, desmarco os compromissos pessoais, profissionais e, se no dia tiver um encontro com o papa, infelizmente também terá de ser desmarcado. Entendi perfeitamente o drama de mães/pais que deixam um filho no primeiro dia de escola, pois hoje eu sei que é a primeira “grande” separação.

Nascer mãe/pai faz com que nos preocupemos com uma possível terceira guerra mundial, com a fome, a Batalha de Aleppo, tsunamis, terremotos, falta de acesso à educação, saúde e segurança; surtos de doenças, acidentes de trânsito, política e economia, enfim, preocupamo-nos com tudo e com todos.

As Mães/pais têm um olhar refinado para identificar a dor dos outros.

Têm maior disponibilidade interna para perceber as crianças ou famílias que precisam de apoio e ajudá-los. Não digo que quem não tem filhos não seja capaz de se preocupar e se mobilizar para fazer um mundo melhor, mas sim que o “olhar” de mãe/pai faz uma leitura diferente de tudo à sua volta.

Nascer mãe/pai traz muitas alegrias.

Damos outro significado à vida e importância às pequenas coisas, mas viver dói mais. Tornar-se mãe/pai é preocupar-se com tudo o que acontece à volta e principalmente com o filho. É consultar a previsão do tempo antes de sair de casa, especializar-se em comidas saudáveis, pesquisar se existe um sequestrador de plantão nos arredores, tornar-se PHD em vacinas, estudar como se deve criar um filho no Google (porque tem horas em que não confiamos no nosso instinto).

Ser mãe/pai também é tornar-se mais sensível.

Choramos pelos filhos dos outros, pelas crianças inocentes que morrem, sofremos com as mães/pais que perdem seu filho.

As Mães/pais são pessoas fáceis de se reconhecerem.

Choram até num anúncio de margarina, mas são sábios o suficiente para dar importância ao que realmente vale a pena. É apreciar um domingo de sol para passear no parque, é identificar o sorriso das pessoas na rua, é admirar a professora do filho, é conciliar o trabalho com a parentalidade, é manter as amizades nessa trajetória da vida.

Talvez sejam coisas singelas, mas, possivelmente, sejam essas coisas que dão sentido à vida: sorrisos, beijos, abraços, momentos e a paz. Ser mãe/pai traz muitos desassossegos, mas refinar  o nosso olhar para observar a beleza nas pequenas coisas e acreditar no que vale a pena é ter fé na vida.

E o que seria do mundo se não fossem as mães/pais que fazem outra leitura dele?

Que sentem, compreendem a vida com mais ternura? Que transbordam um amor diferente?

Assim, digo que as mães têm o direito de mostrar as fotos dos seus filhos a todas as pessoas, de chorar quando os deixam na porta da escola, de se emocionar com o primeiro passo e a primeira palavra, de não dormir na véspera das vacinas dolorosas, de se deprimirem diante das atrocidades que são cometidas com milhares de crianças no mundo, porque tudo isso faz sentido quando se nasce mãe.

As Mães estão sempre com lágrimas nos olhos que podem ser de amor ou dor.

Estão sempre em estado de alerta para protegerem o filho ou outra criança. Somos bons a ensinar a afetividade e a ternura, mas somos melhores ainda quando se trata de defender as nossas crias.

Eu duvido que as mães não tenham exercido a sua “ridiculez” defendendo com “unhas e dentes” o seu ideal de criar o próprio filho, quando duvidou do pediatra, quando o filho apanhou de um colega, quando algum familiar questionou a educação dada à criança, quando houve criticas à comida oferecida ao bebé, enfim, a lista é infindável.

Por isso eu digo: nós, mães, temos licença poética para sermos “ridículos”!

E vamos continuar a ser “ridículos”, pois ainda há muitas coisas a serem feitas para melhorar o mundo para as  nossas crianças.

Por Elisangela Siqueira, para ContiOUTRA

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