Dos EUA chega-nos muita informação imprescindível ao dia-a-dia, a todos os níveis, mas também grandes idiotices como a da fotografia que anda a circular na Internet: “Mães sem tatuagens têm crianças com futuro / As suas tatuagens fazem de si uma mãe horrível”.
Não queria acreditar quando me cruzei com isto! Ainda o famoso tatuador de Miami Ink, Amy James, não se tinha pronunciado sobre isto no FB.
Como é que é possível que alguém considere e analise o papel de uma mãe ou pai porque tem uma ou várias tatuagens?
Eu tenho uma filha e antes de fazer a minha primeira tatuagem, há quase um ano, pensei bem e sabia que um dia ela pode querer fazer também uma no seu corpo e usar a minha como argumento.
Mas tal como a minha tatuagem me diz muito, pois decidi eternizar no pulso do lado do coração o nome das minhas filhas, tantas e tantas outras mães (e pais) tatuaram o nome dos filhos, as suas datas de nascimento, as suas fotografias.
O rol de figuras públicas tatuadas por Amy James no Rock in Rio é vasto.
Claro, que não estamos nos EUA, mas ainda há muito a mentalidade de olhar de lado para quem tem tatuagens.
Mas daí a catalogar as mães porque têm, ou não, tatuagens vai uma grande distância!
A maioria das mães que conheço que perderam filhos, tal como eu, tatuaram o nome dos mesmos ou algo que os simboliza.
Sinceramente fazer a minha tatuagem foi ter, de certa maneira, a minha Leonor, sempre comigo. Da única maneira que posso.
Não sou a única. Há milhares de pessoas a fazê-lo pelo mundo fora.
Mesmo que a tatuagem nada tenha a ver com uma situação particular como esta, é sempre algo que muito diz à pessoa que a decide fazer.
Implica dor física.
Ninguém a faz só porque está na moda. Melhor, há quem o faça e depois se arrependa, mas isso dá mercado para os cirurgiões plásticos.
Quando se tatua algo, no nosso corpo, que sabemos que é para ficar até à morte, fazemo-lo com sentimento, e para mim uma mãe ou pai que tenha a capacidade de demonstrar que sente, seja o que for, e que marca isso no seu corpo tem imenso valor.
Saber mostrar sentimentos é também uma arte. Tal como tatuar.
Tatuar sentimentos, gostos, sonhos, desejos é de uma enorme coragem.
Se um dia a minha filha quererá fazer uma tatuagem não sei.
Eu sei que quero tatuá-la. Quero marcá-la para sempre com a maior tatuagem da vida: a de ter a coragem de assumir quem é, sem medos ou pudores. Com ou sem desenhos impressos no corpo.
Por Irina Gomes,
para Up To Lisbon Kids®
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