“O filhos deviam trazer um manual de instruções” é uma frase que escuto com certa frequência.
A verdade é que não há manual de instruções e ser pai e mãe, ao contrário do que dizem por aí, não é instinto e nem nasce com a pessoa. É uma tarefa difícil, que exige aprendizado e, verdade seja dita, muita preparação emocional. Não há manual, mas já há treino de pais!
A ciência aponta que a fórmula criada entre a estrutura familiar, o comportamento dos pais e a personalidade das crianças faz com que os filhos apresentem mais ou menos problemas comportamentais e emocionais no seu desenvolvimento. Ser competente enquanto pai ou mãe implica acompanhar o desenvolvimento dos filhos dentro e fora de casa e prepará-los para os desafios sociais, académicos e profissionais que virão. É importante salientar que grande parte daquilo que as crianças aprendem é por observação do comportamento dos adultos, por isso não adianta dizer ao meu filho que está a agir mal quando grita ou bate em coisas, enquanto eu, adulta, sempre que algo não sai como planeei fico com raiva de tudo, e discuto com alguém na primeira oportunidade que tenho. Os comportamentos produzidos neste caso são diferentes, mas a maneira de lidar com a raiva é a mesma: pôr para fora, descontar em pessoas ou coisas externas a mim. Assim, o meu filho acaba por aprender muito mais pela maneira como faço as coisas do que pelo que digo sobre elas. Nesse contexto, “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” não funciona, definitivamente.
Neste sentido, a psicologia, através do treino de pais, vem a contribuir para instrumentar os pais durante os programas de treino com algumas estratégias de comportamento que promovam um desenvolvimento adaptativo dos filhos. O objetivo do treino de pais não é dizer-lhes o que fazem bem ou mal, mas orientá-los no sentido de fortificar as habilidades que já têm de forma a utilizá-las com mais frequência e de forma mais assertiva.
A verdade é que essa intervenção tem apresentado resultados positivos nos casos em que as crianças apresentam comportamentos agressivos, birras, comportamentos de oposição, mentiras excessivas, baixo rendimento escolar, entre outros comportamentos menos adaptados. A partir da queixa inicial, o psicólogo define o objetivo geral do programa e elabora, juntamente com os pais, cada etapa para superar a dificuldade apresentada.
O resultado, em geral, são pais mais satisfeitos e seguros na relação com os filhos e crianças mais saudáveis mentalmente e mais preparadas para os desafios da vida. Ao traduzir em números, o investimento na saúde emocional dos filhos vem a ser muito inferior aos custos de um cuidado de saúde mental com uma doença já instaurada no futuro. E, cá entre nós, não há nada melhor do que uma casa com pais e crianças a viver com mais harmonia.
Ilustração de Eduardo SouzaCampus