Medo do abandono – causas e consequências
Abandonar significa “deixar, largar, não se preocupar”, e ninguém deseja sentir essa experiência na pele. O medo de que a relação “não resulte” ou “que o outro deixe de gostar de mim” é comum e até certo ponto, saudável, mais associada ao início da relação. No entanto, quando a relação se vai desenvolvendo, a insegurança deveria dar lugar à estabilidade e conforto.
Mas, porque é que há pessoas que nunca ultrapassam essa barreira?
O medo do abandono tem o grande poder de transformar relações que poderiam ser extremamente positivas em verdadeiros desastres. No entanto, quem vive as relações através do medo de ser abandonado pode não conseguir perceber que o sente ou o porquê de o sentir. Mas, este medo não deixa de ter um poder enorme e de transformar a relação.
Medo do abandono: Como pode ser desenvolvido?
Na infância, as crianças dependem exclusivamente dos pais para sobreviver. O apoio, o afeto, o amor e a atenção são importantes para o sentido de segurança da criança e desenvolvimento saudável. Por vezes, essas necessidades não foram satisfeitas corretamente e na criança desenvolve-se a ideia de que “os outros não vão estar lá para mim”.
Todos temos a necessidade de criar laços e nos sentirmos seguros e amados nas nossas relações.
No entanto, algumas pessoas vivem as relações num contínuo de desconfiança e hipersensibilidade à rejeição. Normalmente, este medo baseia-se na crença de que “eu preciso desta pessoa, do seu amor e da sua presença na minha vida para ser feliz”, e se essa pessoa me deixar, “eu não aguento”, como se se referisse à falta de oxigénio no ar que respiramos.
A assustadora ideia da separação, da solidão e da dor que isso acarreta, pauta o dia-a-dia destas pessoas, gerando insatisfação, insegurança, baixa autoestima e infelicidade. A ideia de que não se é capaz de sobreviver sozinho (ou sem aquela pessoa em específico), é avassaladora, aumentando os esforços frenéticos para evitar o afastamento por parte do outro.
Quem é acompanhado por este tipo de medo, vive a relação como uma rede de segurança, que se não existir: “não sei o que fazer ou como viver”. A relação é vivida em função do outro, e nunca do eu ou do nós. O foco principal é sempre o evitamento de um hipotético abandono. A fim de evitar o abandono, a pessoa coloca as necessidades do outro à frente das suas, torna-se passiva e desafiando aqueles que seriam os seus limites. Em suma, a pessoa anula-se na relação enquanto ser individual.
A pessoa entra no modo de “fazer tudo para que esta pessoa continue a amar-me”. No entanto, o medo de ser abandonado pode arruinar o próprio relacionamento devido à insegurança que ele traz.
Porquê?
O amor tem de ser espontâneo e genuíno. Nestes casos, muitas vezes, deixa de o ser,
O amor disfuncional e dependente, leva muitas vezes ao afastamento do outro, culminando na perda e no “abandono” tão temido.
A intensidade destas relações nunca será possível ser comparado ao conforto sentido num relacionamento estável e seguro. Não que não o seja efetivamente, mas é sentido por um dos membros como instável e imprevisível.
Aumentando os seus esforços para garantir que isso não acontece, torna para o outro, aquilo que era um relacionamento seguro, num relacionamento onde se sente pressionado, sufocado e sempre posto à prova.
Medo do abandono: como se expressa?
- Preocupação excessiva de ser abandonado;
- Sentimentos de desconforto quando está sozinho;
- Necessidade de estar sempre em contacto;
- Pedindo confirmação constantemente devido à necessidade de garantir que são amados;
- Dificuldade em discordar do outro, com medo da perda de aprovação e afastamento:
- Disposição para fazer tudo pelo outro:
- Ciúmes extremos e injustificados.
Em qualquer relação deve existir o “Nós”, o “Eu” e o “Tu”. No entanto, quando deixam de existir duas pessoas individuais na relação para além do nós, começa a ser disfuncional. Quando um dos membros teme ser abandonado pelo outro, a dinâmica do relacionamento tende a criar uma divisão entre o “Nós” e o “Tu”, deixando meu “Eu” para trás, muitas vezes acompanhado pela crença de que “se eu não me dedicar a esta pessoa a 100%, então não serei suficiente para ela”.
Apesar das relações serem essenciais, e de em qualquer relação existir o fator da dependência (varia de casal para casal, e até certo ponto, é natural e saudável), se não houver um “eu” na relação, o “Nós” deixa de fazer sentido.
É importante ressaltar que tal como este padrão foi construído, também é possível realizar o processo contrário e “desconstruí-lo”. Um processo complexo onde o principal objetivo é quebrar os ciclos disfuncionais que se têm vindo a repetir até àquele momento da vida da pessoa e criar mudança a nível dos pensamentos, crenças emoções e comportamentos. Levando à vivência de relações mais seguras, mais confortáveis e mais duradouras.
Um espaço onde vai aprender a olhar para dentro, a reconhecer e respeitar os seus limites, a gerir as suas emoções, a potenciar as suas forças e a acarinhar as suas vulnerabilidades.