Mindfulness como componente da intervenção Cognitivo Comportamental

Mindfulness como componente da intervenção Cognitivo Comportamental

Mindfulness como componente da intervenção Cognitivo Comportamental

Ao longo dos últimos anos temos vindo a assistir ao fenómeno crescente que tem sido o mindfulness. Uma prática oriental comum que surgiu na europa e que parece ter vindo revolucionar alguns aspetos da intervenção psicoterapêutica, sobretudo no que toca a perturbações de ansiedade e do humor.

Mas afinal, o que é o mindfulness?

O mindfulness é uma prática com origem no Budismo e que existe em diversas vertentes, embora esteja sempre de alguma forma associada à prática religiosa. Quando foi introduzido no ocidente, a componente religiosa foi removida, ficando apenas os restantes princípios. O mindfulness é, então, caracterizado pela atenção intencional e sem julgamento do momento presente. Pode ser praticado formal ou informalmente e essa prática é feita essencialmente através da respiração e de body scans.

Os dois pilares em que se assenta são a autorregulação da atenção e a orientação para o momento presente.

Estes pilares estes vão contra o nosso estado natural do dia a dia, no qual vivemos essencialmente em piloto automático, não vivendo efetivamente o presente em cada momento. Quando este modo de automatismo é quebrado, muitas vezes o que dele resulta é autocrítica, ruminação e espiral de pensamentos, que quase sempre tentamos reprimir, evitando estar sozinhos/as apenas com os nossos pensamentos e é isto que o mindfulness tenta mudar.

E os benefícios do mindfulness, quais são?

Com o aumento do interesse nesta prática e com a sua crescente utilização, foram surgindo estudos acerca da eficácia e dos benefícios que o mindfulness pode ter, em particular na intervenção psicológica.

Uma conclusão que parece ser transversal é a de que a prática regular de mindfulness aumenta a capacidade de manter o foco atencional no momento presente e que isso está diretamente relacionado com maior bem-estar psicológico. Outras capacidades que também podem ser desenvolvidas através de uma prática regular são:

  • a diminuição da reatividade a eventos negativos;
  • aumento da auto compaixão;
  • aumento da consciência em relação a pensamentos;
  • emoções e sensações corporais;
  • aumento da capacidade de aceitação;
  • aumento da curiosidade e abertura ao novo;
  • diminuição da probabilidade de recaída em casos de depressão;
  • redução do stress e sintomas de ansiedade.

Com a crescente investigação acerca do tema, foram sendo criadas intervenções baseadas na prática do mindfulness que podem ser utilizadas nos seguintes casos:

  • Ansiedade;
  • Depressão;
  • Abuso de substâncias;
  • Perturbações alimentares;
  • Insónia;
  • Dor crónica.

Estas intervenções aliam os princípios e a prática do mindfulness com os princípios da terapia cognitivo comportamental (TCC), como é o caso da MBCT (Terapia Cognitiva Baseada no Mindfulness), a abordagem mais estudada e também a mais utilizada, sobretudo para a prevenção de recaída em casos de depressão. Neste tipo de intervenção, os princípios do mindfulness são utilizados para ajudar a pessoa a reconhecer a deterioração do humor sem que haja um julgamento automático, promovendo a alteração de padrões desajustados. Também nos casos de ansiedade existem efeitos significativos na redução dos sintomas e na promoção do bem-estar.

O que é que a MBCT combina da TCC e do mindfulness?

Existem muitas semelhanças entre a abordagem exclusivamente cognitivo comportamental e a prática de mindfulness.

  • Têm como objetivo a redução do sofrimento psicológico e procurarem atingir este objetivo através de exercícios terapêuticos;
  • Tanto numa abordagem como na outra é promovida a dessensibilização de respostas condicionadas através do treino da atenção intencional;
  • Nas duas existe a ideia de base de que os fenómenos internos (pensamentos, emoções e sensações) são experiências temporárias.

No entanto, existem algumas diferenças, tais como a TCC atuar na modificação de crenças e desafio de pensamentos, enquanto o mindfulness se foca apenas na observação dos pensamentos e na aceitação dos mesmos, significando isto que a TCC é mais orientada para objetivos em comparação com o mindfulness.

O casamento entre estas duas abordagens combina o melhor de cada uma. Uma abordagem orientada por objetivos, que pretende que a pessoa desenvolva consciência dos seus estados internos, aceitando-os, mas promovendo a sua reestruturação quando estes se revelam promotores de sofrimento.

Como é que funciona a MCBT na prática?

Começa-se sempre pela psicoeducação acerca do mindfulness para que o cliente tenha conhecimento acerca das bases e elementos fundamentais desta prática. Esta pode ser feita através de explicações dadas pelo/a terapeuta e de leituras simples. Posteriormente, são introduzidas técnicas simples de mindfulness tais como:

  • estar quieto/a durante um período de tempo;
  • observar atentamente objetos;
  • usar a respiração como âncora ao momento presente.

Mais tarde são introduzidos os body scans, nos quais é pedido que a pessoa vá prestando atenção às sensações de cada área do corpo, sem efetuar julgamentos ou analisar em demasia. Após a pessoa conseguir dominar estas práticas em consulta, pode passar a realizá-las em casa com o apoio de áudio guias e generalizando a outras atividades do dia a dia.

O que é que a prática de mindfulness pode fazer em casos de depressão e ansiedade?

A ruminação e a catastrofização são modos de pensamento comuns na depressão e na ansiedade. Tratam-se de características promotoras de sofrimento, nas quais o mindfulness atua. Ao promover maior consciência dos pensamentos, aliado à disputa dos mesmos, o mindfulness contribui para que as pessoas modifiquem a sua forma de pensar, contribuindo para uma melhoria do humor e a diminuição do estado de preocupação. A prática de mindfulness permite ainda flexibilizar o pensamento, levando a uma melhor aceitação daquilo que se pensa e sente, proporcionando maior bem-estar.

Sendo que a depressão é orientada para o passado e a ansiedade orientada para o futuro, o mindfulness permite também que o foco seja gradualmente orientado para o presente, levando a uma visão menos categorizada dos pensamentos e dos sentimentos, o que flexibiliza o pensamento, diminuindo o sofrimento psicológico.

O que posso retirar daqui?

O mindfulness é uma prática recente. Tem vindo a revelar bastante útil para a intervenção psicológica, particularmente quando aliada à terapia cognitivo comportamental. A sua eficácia tem sido estudada e os resultados em casos de depressão e ansiedade têm-se demonstrado muito eficazes, promovendo a redução do mal-estar, a flexibilização do pensamento, o desenvolvimento de competências importantes para a criação de padrões mais ajustados e prevenindo a recaída nos casos de depressão.

Por Inês Serôdio – Psicóloga na Clínica Sara Cruz

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