Minudências dirão alguns, necessidades básicas digo eu.
Estou há mais de cinco minutos focada numa nódoa do tamanho de uma moeda de vinte cêntimos que descobri na manga da camisola branca que tenho vestida. Num dia normal já estaria a pensar qual o produto mais adequado para fazer o pré-tratamento. Mas hoje, não sei porquê, acho que esta nódoa não caiu aqui por acaso. Hoje acho que esta nódoa é a prova inequívoca da falta de glamour da minha vida pós-maternidade.
Confesso que às vezes invejo aquelas mães das redes sociais sempre muito bem-vestidas, de unhas arranjadas e com imensa vida para lá dos filhos. Como é que elas conseguem é que eu não sei. É que desgraçadamente pertenço de corpo e alma à classe de pessoas que limpa a própria sanita. Desde que os putos nasceram que o expoente máximo da minha vida social sem eles é ir à casa-de-banho e sentar-me na sanita a olhar para o Facebook.
O meu estado é grave ao ponto de ver fotografias de copos de vinho nas mãos dos pais que se sentam no sofá juntos, depois de adormecerem as crianças, e a primeira pergunta que me vem à cabeça ser como é que já têm a cozinha arrumada àquela hora. E depois penso que se calhar têm empregadas. E que eu sou a única mãe no mundo que gasta mais de metade do tempo a dobrar meias. A fazer máquinas de roupa, passar a esfregona no chão ou limpar a fritadeira.
Caraças! Sempre que ouço dizer que é preciso existir para além dos filhos tenho vontade de me deitar em posição fetal e chorar.
É que o tempo que vou conseguindo sem eles gasto com tarefas muito pouco glamourosas, contudo, necessárias ao bom funcionamento cá de casa. E já sei que vão dizer que devia esquecer as tarefas domésticas e dedicar-me ao que realmente importa. Mas é capaz de ser chato não ter umas cuecas lavadas para vestir ou uma sopa para o jantar do puto. Minudências dirão alguns, necessidades básicas digo eu.
A verdade é que padeço de falta de tempo, pronto. E de falta de glamour. Em dias como hoje, despenteada e de nódoa na manga, sinto-me uma espécie de mãe de armazém chinês do Porto Alto num mundo de mães de lojas da Avenida da Liberdade.
E agora vou só ali tirar a loiça da máquina. Vou passar a ferro a roupa dos putos e fazer as camas com lençóis lavados. Tempo para lá dos filhos e da casa? Devo conseguir arranjar daqui a uns dez anos.
image@picturexe
E entre fraldas, papas e peças de Lego é isso que vai fazendo. Ou pelo menos tentando. Quando era miúda dizia que queria ser professora de ballet e que não queria ter filhos. Depois cresceu, mudou de ideias, licenciou-se em enfermagem e teve dois filhos em dois anos.
2 comentários
Muito bom!! Já somos duas! ? O expoente máximo é quando chegam de qualquer programa em casa das amigas e dizem “a mãe esteve sempre sentada no sofá a ver séries…” Quê?!!! Devo estar a fazer alguma coisa completamente errada… ?
ahahah tão típico! Ou naqueles trabalhos escolares em que perguntam que é que a mãe faz e eles respondem “nada” ou “cozinha” … Oh well!