
Não desisto de ti!
Não desisto de ti!
Avisaram que os três anos seriam mais complicados do que os dois.
Com o meu pensamento positivo recebi os três anos de braços abertos, fosses tu a excepção ou a regra, meu amor.
E, meu amor, confirma-se que os teus três anos não estão a ser “fáceis”, que há um desafio constante, uma procura do teu lugar no mundo, uma falta de controlo das emoções, uma frustração muito presentes nos teus dias.
Todos os dias têm sido uma lição. Há momentos em que saio da sala e vou chorar baixinho para a cozinha para me acalmar, momentos em que não sei qual a resposta certa para tantas dúvidas. Sigo o meu instinto, sigo o meu coração, eles raramente me deixam ficar mal.
Acima de tudo, continuo do teu lado como se as tuas palavras e as tuas atitudes não me ferissem por dentro e, muitas vezes ferem.
Tens APENAS três anos. É o mantra que repito para mim mesma, quando levantas a mão ou dizes algo que não deves. É com esse mantra no fundo do pensamento que tento ensinar-te a diferença entre o bem e o mal, como devemos tratar os outros, principalmente, os que nos são mais queridos.
Sei que até ao cinco anos está provado que há uma incapacidade de gerir alguns sentimentos, alguma frustração e tento acompanhar-te nisso sem fazer cara feia, mas por vezes não consigo. Por vezes preciso que entendas que todas as tuas atitudes têm uma consequência e que essa consequência muitas vezes se manifesta na relação que os outros terão contigo. Explico, tento não levantar a voz, tento que te encontres no meio do caos. Tento e por vezes falho. E sei que faço o melhor que consigo.
Há quem diga que sou demasiado branda, que deveria pespegar-te duas palmadonas à primeira coisa errada, mas eu sou tua mãe. E isso significa que te conheço como ninguém. E que sei diferenciar falta de educação de desafio, personalidade de birra. Se fosse seguir a corrente da palmada no rabo estarias negra e na mesma. Na mesma sei que não pois o teu porto de abrigo, aquele que deveria indicar-te o caminho seria para ti a figura que ao primeiro erro te castiga em vez de te ensinar.
Tenho o meu jeito de fazer as coisas e não acho que seja melhor ou pior do que os dos outros pais. Acho que é o que faz com que consigamos seguir em frente tendo uma relação que se baseia no amor e não no medo (da palmada, do castigo, do grito). Depois dos momentos mais complicados passarem conseguimos conversar sobre eles, entender as lições. E irei fazê-lo mesmo que o coração se aperte cá dentro porque estás a fazer algo que eu nunca fiz e que desejo que nunca tivesses feito, como levantar a mão a um avô. Não olho para o lado, não finjo que não acontece, deixo que os envolvidos resolvam o conflito e no fim acrescento o que acredito que falta, se faltar alguma coisa.
Lembro-me agora de uma viagem de metro que fizemos no mês passado. Estava alguma gente e estavas a portar-te lindamente, o que é a regra. Um senhor que estava junto a nós meteu-se contigo e, apesar do teu comportamento exemplar, disse: “vais ser má e eu vou estar cá para ver”. Se me dissessem que isto ia acontecer teria sido a primeira a dar certezas de como reagiria. Reagi dizendo “ela vai ser o que for e EU vou estar cá para ver”, sempre com um sorriso no rosto. Mais tarde interroguei-me sobre o que teria visto o senhor para fazer uma afirmação tão séria. E por que motivo não me tinha abalado o uso do adjectivo “má”. Acredito que é por saber, bem cá no fundo, que não é algo que eu controle. Serás, efectivamente, o que fores e há uma hipótese de o senhor vir a ter razão. E se fores uma miúda má, uma adulta má, serei a primeira pisar os teus calcanhares durante todo o teu caminho para te mostrar que não tem de ser assim. Que te conheço o suficiente para saber que há mais bondade dentro do teu coração do que muitas pessoas têm a oportunidade de sentir na ponta dos dedos. És intrinsecamente boa e amo-te por isso. Como te amaria se não o fosses, porque sou tua mãe. E como tua mãe não desisto de ti.
Continuarei a mostrar-te o caminho, mesmo que te desvies dele.
Chamar-te-ei à atenção, mesmo que teimes em não me ouvir.
Amar-te-ei sempre, para que haja nem que seja uma dúvida dentro de ti: para quê ser má quando o mundo é tão melhor quando somos bons?
Não te preocupes, traga o amanhã o que trouxer, eu estou aqui.
imagem@weheartit
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!