
Não queremos crianças-marionetas dependentes das orientações do professor
Não queremos crianças-marionetas dependentes das orientações do professor
Uma abordagem coaching nas escolas
Há muitos anos que trabalho em escolas e lido diariamente com diferentes turmas e respetivos Professores Titulares. Tenho passado por diferentes escolas, com diferentes contextos sociais e com diferentes abordagens de ensino, mas, em todas me deparo com um denominador comum: o desafio cada vez maior para conseguir cativar os alunos, quando, muitos deles, passam mais de 10 horas diárias dentro do recinto escolar. Para além disto, o desafio que é também para os próprios professores, manterem-se motivados e com bons níveis de energia.
Como Coach Infantil percebo ainda melhor a responsabilidade do professor, não só na formação intelectual das crianças, mas também emocional. Sou apologista de uma postura e abordagem coaching na dinâmica e gestão de turmas, como forma de gerar empoderamento, oportunidade de decisão e autorresponsabilidade nos alunos.
Não é o caminho mais fácil, mas é o que traz resultados melhores.
Observo muitas vezes que, devido ao cansaço e falta de tempo dos professores, o caminho mais frequentemente adotado é o de apresentar a solução pronta ou dar ordens, em vez de dar oportunidade à criança de pensar, decidir e agir por si. Obviamente que nem todas as situações são apropriadas para deixar a criança decidir ou fazer algo sozinha. Ainda assim, há muitos momentos em que tal é perfeitamente possível e esses momentos não são bem aproveitados.
É mais fácil e cómodo dizer:
- “tens esta tarefa para realizar e deve ser realizada desta forma”, do que:
- “tens esta tarefa para realizar, de que forma poderás realizá-la? Como gostarias de realizá-la?”.
Percebe a diferença entre uma abordagem e outra?
A criança precisa de ser orientada, sim.
Mas também precisa de sentir que tem capacidade de escolha e de decisão e saber responsabilizar-se por essas escolhas. É preciso não ter receio e permitir à criança experimentar, errar e refletir para aprender o que é certo. O próprio conceito do que é “certo”, “melhor” ou “bem feito” deve ser posto em perspetiva: a perspetiva da criança! Ao interferir constantemente para corrigir de acordo com o que para nós, adultos, é “bem feito”, estamos a passar a mensagem de que a criança não é capaz, deixando-a insegura e sem coragem de arriscar noutras situações semelhantes.
Estamos, em suma, a interferir de forma negativa na sua autoestima e autoconfiança.
A autoestima e a autoconfiança são construídas desde muito cedo e nem sempre se tem isso em consideração no contexto escolar tradicional. Ainda há uma grande necessidade de sugerir, manipular e intervir insistentemente nas opções da criança. Se estiverem garantidas, à partida, todas as condições de segurança para que a criança realize determinada tarefa adequada à sua idade e maturidade, o adulto (professor, educador, animador) deve manifestar a sua disponibilidade para ajudar, mas sem a impor. A ajuda só deve ser dada se solicitada pela criança e sempre acompanhada de um incentivo e reforço positivo.
Não queremos crianças-marionetas
Não queremos crianças-marionetas sempre dependentes das orientações do professor, mas sim, crianças capazes de identificar diferentes opções, tomar decisões e responsabilizarem-se por elas. Queremos crianças empoderadas e autênticas e a Escola é um dos locais privilegiados para promover essas qualidades. Para que tal aconteça é urgente cuidar também do bem-estar dos professores e da sua própria autoestima e motivação pela sua profissão.
O grito, o castigo e a punição
Observo que muitos professores ainda recorrem ao grito, ao castigo e à punição como forma de conseguirem controlar as turmas e conseguirem fazer o seu trabalho. Criando crianças-marionetas. As atividades de relaxamento, meditação e autoexpressão, bem como aulas ao ar livre ou brincadeiras de recreio menos padronizadas e “fora da caixa” são tão importantes para os alunos como para os professores.
Nas escolas públicas por onde tenho passado, existe algum esforço neste sentido, mas ainda está muito aquém daquilo que seria o mais benéfico para todos.
Contribuir para que as crianças se compreendam, se saibam expressar e superem os desafios que lhes são colocados no dia a dia, é o meu compromisso.