
Não tenho o sonho de ser mãe
Não tenho o sonho de ser mãe. Se acontecer, aconteceu.
Não tenho o chamado instinto maternal e o meu relógio biológico, à semelhança da minha idade metabólica, deve estar avariado. A minha mãe diz que nunca fui de brincar aos pais e filhos e que os meus bonecos eram isso, bonecos, nunca foram meus “filhos”.
Já percebi que há quem olhe para mim com estranheza e quem torça o nariz (devem pensar, que sou incompleta, que me falta um chip qualquer) mas, sinceramente, eu vivo bem com isso. Sou eu que mando no meu corpo (quer dizer, tirando este 10 kgs a mais que apareceram sem ser convidados e mais um outro aspecto chato que não controlo) e na minha vida. Faço as minhas escolhas mediante as opções que tenho.
Ser mãe é uma opção.
Ir para a faculdade é uma opção. Desistir da faculdade é outra opção. Sou egoísta? E então? Não posso? Temos todas de casar, ter uma casa com jardim, um cão e dois filhos? Que bom que era, se assim fosse. Uma vida estável, férias no estrangeiro, os miúdos em colégios privados e com fios de prata ao pescoço.
Quando era mais nova e dizia que não queria ter filhos as pessoas afirmavam com convicção “isso dizes tu agora”, e a coisa ficava por ali. Hoje em dia fazem um ar mais espantado “mas porquê? Tens tanto jeito para crianças”. “– Porque não!” E é essa a única resposta que tenho para dar: porque não, porque não tenho motivos concretos. Porque nunca me virei para aí. Porque acho que não preciso de ser mãe para ser mulher. Porque se acontecer, acontecerá e talvez até me safe nesse papel. Mas se não acontecer tudo impecável na mesma. Não sonho com esse momento.
Hoje, não tenho o sonho de ser mãe.
Se calhar, a própria vida acabou por desviar-me da maternidade. Aos (quase) 33 anos ainda não tenho um emprego estável. Ainda não consegui viajar como queria. Ainda sinto que estou a começar qualquer coisa. Ou se calhar eu é que sou demasiado ponderada e gosto de ter tudo controlado e o meu ficheiro excel já me mostrou que o que sobra no final do mês não dá nem para uma embalagem de fraldas.
Mas uma coisa eu vos prometo, se nos próximos tempos baixar em mim o tal santo ou santa da maternidade não farei nenhum ritual estranho para os afastar e darei a mão à palmatória. Aliás até escrevo qualquer coisa sobre pés inchados, vómitos, enjoos, barriga pesada, mamas gigantes e bexigas hiperactivas. Até lá… continuo feliz e de bem com a vida, na esperança que compreendam esta minha opção mais ou menos assumida.
O importante é que cada pessoa se sinta feliz no seu papel, seja ele qual for, e que se sinta respeitada e compreendida por quem a rodeia.
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