Somos invadidos pela necessidade de perfeição.
Ligamos o telemóvel e ela está em todo o lado.
No penteado perfeito, no creme perfeito, no exercício perfeito, a roupa perfeita, o destino de férias perfeito, a família perfeita… Tudo o que quisermos e não quisermos chega até nós, invade a nossa mente sem nos darmos conta.
A questão é que não invade apenas a nossa mente, também a molda. Aos poucos é-nos incutido que temos, ou devemos ter, a imagem perfeita. Temos que ter abdominais perfeitos, cabelos lisos e brilhantes, pele sem rugas e por aí fora.
Onde andam os cabelos rebeldes, a gordura na barriga e a celulite no corpo?
Tudo o que é feio é escondido, mas será que é feio? As rugas têm que ser eliminadas com cremes ou cirurgia. Porque é que temos de ser eternamente jovens? Envelhecer não é um sinal de que estamos vivos? Não são as rugas a prova da nossa história?
Quando olhamos para alguém o nosso cérebro automaticamente assume pré-conceitos sobre essa pessoa. A nossa primeira impressão vem dessa primeira imagem, mas se essa imagem é trabalhada até à exaustão, então como ver a imagem real?
As redes sociais têm a característica de nos sugar para essa virtualidade, onde ficamos embrenhados, sem dar conta do que se passa á nossa volta.
Critica-se muito os adolescentes por passarem horas nos telemóveis, mas nós adultos também o fazemos. São os “reels” os “ticktocks”, o WhatsApp, etc etc. E enquanto estamos absorvidos por essa irrealidade, o mundo real acontece à nossa volta.
Um filho precisa de atenção, uma mulher quer ser escutada, um marido quer contar uma história, uma mãe ou um pai precisam de ajuda. Ao nosso redor, aquilo em que não prestamos atenção, aconteceu e já passou, não se repete. O primeiro passo de um filho, um pôr de sol, um filme, uma conversa, um olhar nos olhos de alguém.
É preciso sentir, é preciso tocar, é preciso partilhar.
Os abraços têm o poder de curar, se os pudermos dar.
Então, quando tudo é praticamente avaliado pela originalidade de um “post” no Instagram, acaba por ser uma contradição querermos ser todos iguais.
Quando estamos de férias, quando estamos num restaurante, quando vamos ao cabeleireiro, ao ginásio, ao hospital, tudo serve para publicação nas redes sociais, a primeira coisa que se faz é tirar uma fotografia e publicar para depois se contabilizar a quantidade de “likes”. E porque é que é importante a quantidade de “gostos”, será necessidade de aceitação?
Neste novo culto da perfeição há fórmulas secretas para tudo.
Como usar o colarinho, como usar camisola com camisa, como usar um cinto, como pôr a camisa para dentro das calças, como fazer efeito nas fotografias, como alisar as rugas, como fazer exercício, como aplicar a base, como isto, como aquilo, um sem fim de vídeos tutoriais.
Esses vídeos abundam nas redes sociais e resumem-se todos a ficar perfeito. Será que os nossos adolescentes sabem que há mais para além disso? Ou será que sentem que não podem ficar atrás? Será que sabem que o que não se vê, não se mede e não se conta é que alimenta o coração?
Será que sentem que devem ser mais do que isso? Mais do que creme e botox. Mais do que a última compra da Bimba y lola ou de uma encomenda da Zara ou de um IPhone?
A necessidade de ter mais, de ser mais espetacular, mais original, mais moderno, será que sabem, como diria Antoine de Saint-Exupéry, que o essencial é invisível aos olhos?
É verdade que ninguém nos obriga a sermos todos iguais.
Podemos e devemos pensar por nós mesmos, mas sermos autênticos e não influenciáveis é quase uma missão impossível. Porque embora se fale cada vez mais da autenticidade, cada vez vemos mais pessoas iguais, as mesmas plásticas, a mesma cara, o mesmo cabelo, as mesmas roupas, as mesmas unhas..
Juan Ponce de Leon partiu de Espanha, no século XIV, em busca da fonte da juventude, não a encontrou, em vez da fonte encontrou a Florida, nos Estados Unidos. A busca da juventude não é de agora e haverá sempre quem a procure, mas talvez a melhor descoberta seja encontrar a juventude dentro de nós mesmos e perpetuá-la nas experiências de vida em vez da aparência. Talvez a juventude esteja na mente e não no corpo e o imperfeito talvez seja a nova perfeição.