Um amor que não se mede

O amor de mãe é um amor que não se mede

O amor de mãe é um amor que não se mede

Há quem diga que se ama um filho assim que sabemos que estamos grávidas.

Eu digo que não, que é mentira, o que amamos é a ideia abstrata de um filho, a ideia de sermos mães.

Eu não amei os meus filhos ao primeiro olhar, nem ao segundo, nem ao terceiro, nem sei precisar o momento exato em que os comecei a amar.

Ao primeiro olhar, acabados de sair da minha barriga, vi-os roxos, com restos de mim e com um cordão umbilical ainda por cortar. Perguntei-me se aquilo que me parecia um filme estava mesmo a acontecer. Fechei os olhos e voltei a deitar a cabeça.

Ao segundo olhar, depois de os ouvir chorar ao longe, trouxeram-nos até mim, enquanto os médicos costuravam o corpo que já lhes tinha servido de casa. Beijei-lhes a testa e pedi que os fossem mostrar ao pai. Ao terceiro olhar, no recobro, deitaram-nos ao meu lado e eu percebi que estava presa dentro de um filme e ninguém me tinha dado o argumento.

Em nenhum destes olhares senti amor. Senti estranheza e medo.

Os meus filhos nasceram e com eles nasceu a mãe e a mãe ama. Mas, amar? Amar como, se acabei de os conhecer? E logo ali senti-me culpada por não sentir o que diziam que devia sentir. Senti-me esmagada pelo peso das expectativas dos outros. Peguei neles, cheirei-lhes os cabelos vezes sem conta, beijei-lhes as mãos pequeninas e a testa. Aconcheguei-os no meu peito, decorei-lhes as linhas do rosto e nada.

Estranheza e medo. Conversei com eles, talvez o amor de mãe fosse assim, mais medo que coração acelerado. Mais culpa que amor. Pedi-lhes desculpa, alimentei-os, dei-lhes banho, vesti-os e mudei-lhes as fraldas. Cantei-lhes canções de embalar, adormeci-os no meu colo e num dia qualquer, no meio da confusão dos dias que mudaram para sempre, houve um momento em que o meu coração bateu mais forte e rebentou-me o peito. No meu peito ficou um buraco e o meu coração ficou exposto. À mostra. E assim ficará, como naquele lugar-comum, que diz que os filhos são um coração a bater fora do peito.

Não importa quando foi.

Autora do blogue Ser Super Mãe é uma Treta

Tenho nos meus filhos e no mundo depois dos filhos uma enorme fonte de inspiração e o blogue nasceu da necessidade de escrever sobre o lado menos fofinho da maternidade.

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