O amor não é só uma palavra
Acredito que, no fundo, todos os pais dignos dessa designação amam os seus filhos.
Alguns serão melhores que outros nesta tarefa hercúlea de educar, nutrir e encaminhar uma criança, assim como outros serão melhor nas demonstrações de afecto.
Tenho vindo a testemunhar, quer no parque, quer nas escolas, quer nos transportes, onde consigo ser testemunha involuntária, que muitos pais têm a dificuldade de transmitir amor.
Falam, chamam à atenção, encaminham e orientam mas muitas vezes falta-lhes tacto. Falta-lhes carinho. Falta-lhes ter a correspondência do que dizem na forma como o dizem. Tantas vezes oiço pais chamarem nomes carinhosos como se chamassem o táxi, palavras vãs não de sentido mas de emoção.
Ao escrever estas linhas penso naquela geração que cresceu habituada a dizer “amo-te” como se fosse pontuação de uma frase. O amor, essa coisa tão complexa e impossível de descrever, passou a estar na boca do mundo mas de amor tinha pouco. Há muitas pessoas que cresceram a ouvir que eram amadas sem nunca o terem sido.
Daí talvez esta passagem de testemunho, em que as crianças poderão recordar uma infância em que as expressões carinhosas não são tabu e estavam muito presentes, mas no fundo fica um vazio.
E um vazio num ser humano em crescimento dá espaço a ser preenchido por bem ou por mal.
Não sou profissional e a minha observação é de mãe, muitas vezes eu própria falharei na arte de transmitir amor, principalmente quando estou exasperada a ralhar, em que a paciência já ultrapassou os seus limites e há só a vontade que o choro cesse, porque a pedagogia está a perder a batalha.
Não sou perfeita e sei que todos amamos de forma diferente. Recebemos, percepcionamos, transmitimos esta coisa do amor como sabemos e podemos, como conseguimos. Muitas vezes é uma herança, de outras uma descoberta.
Gostaria de, no futuro, ver mais amor nos olhos dos pais do que nas suas bocas: ou pelo menos que estivesse tudo ao mesmo nível. É um bocadinho como a humildade, de pouco adianta uma pessoa apresentar-se dizendo que é muito humilde, essa humildade já se perdeu algures no caminho.
Amo a minha filha como posso.
Digo-lhe que a amo e tento que este amor esteja presente nas nossas brincadeiras, nas nossas rotinas e até nas nossas zangas.
Porque isto de ser pai ou mãe (biológico ou não) não pode ser dissociado de amar.
O amor pode salvar uma criança de um futuro mais negro.
O amor pode tudo.
Amemos mais.
Demonstremos mais.
Sejamos todos melhores.
imagem@weheartit
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Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!