O Avô não volta
O ciclo da vida determina que um dia tudo acabará. Morrer deveria ser tão natural como nascer. No entanto, não é.
Para nós adultos, falar de morte é algo difícil. Não sabemos como abordar o tema e muitas das vezes mudamos de assunto para evitar explicações mais demoradas. É como falar de sexualidade,… ou talvez não! Este já não é um assunto tabu.
Na semana passada partiu o avô paterno dos meus filhos e pela primeira vez em muitos anos tive de enfrentar o medo. Talvez eu sentisse mais medo que eles… Os mais velhos já antecipavam o que estava para acontecer e embora a experiência de vida os tenha poupado destes momentos, já possuem bagagem para enfrentar a situação. O mesmo não acontece com a mais nova. A doença do avô era algo curável aos seus olhos e a morte não era algo viável no seu pensamento. Estava tão longe.
Durante algumas horas pensei em varias formas de lhe contar, de abordar o assunto, sabia que a notícia não seria de fácil gestão.
Não havia volta a dar. Por mais horas que demorasse a dizer, teria de fazê-lo… A voz tremeu e o som saiu… A primeira reação foi a negação e em tom de riso afirmou que eu estaria a brincar. O silêncio reinou e por momentos a brincadeira parecia negar os acontecimentos…
À noite tudo parou e ai surgiram as dúvidas… Não volto a ver o Avô? Não posso falar com ele e abraçá-lo? Ele já não sente e já não ouve? Tantas perguntas surgiram e eu não estava preparada para responder… Sabia que a frieza das minhas respostas não correspondia ao que ela queria ouvir… Teria de fazê-la sofrer… A única solução era minimizar o seu sentir com a ilusão da estrela brilhante no céu. Da alma que parte e que apenas deixa guardado na terra um corpo imóvel. Por entre soluços adormeceu e passados alguns dias diz que ainda está triste e que a dor não passa… Como mãe tive lhe de dizer que demora uns dias a sentir-se melhor, às vezes mais… Que as memorias perduram no tempo…
Como criança que sonha ela incorporou a missão de diminuir a dor da perda dos que ama e a experiência fez-la crescer. E nós adultos, temos muito a aprender, todos os dias, com as crianças. Pois o impossível para elas, é apenas uma questão de minutos…
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