Nisto do amor (como se fosse uma coisa simples e definitiva), as coisas mudam muitas vezes.
Quando nos apaixonamos. Quando percebemos que afinal não era bem amor, que agora é que é (e que daquela(s) outra(s) vez(es) nem contou). Quando encontramos pessoas que nos fazem amá-las de uma forma não amorosa. Quando conhecemos sítios e culturas novas. Quando encontramos a casa dos nossos sonhos. Quando somos tios, ou padrinhos de uma criança, quando os nossos amigos têm filhos. Quando somos pais de um bebé.
Definir o amor seria uma tarefa demorada, bastante relativa e ainda mais redutora, mas há quem, tendo chegado à parte de ter filhos, se esqueça dos outros amores que sentiu – e deveria continuar a sentir.
A gestão do tempo é complicada e ter um filho requer uma entrega gigante, nunca ninguém o negará, mas este amor, este viver com o coração fora do peito, não pode nem deve obliterar o restante amor que existe nas nossas vidas.
Há pessoas que passam a ir trabalhar a olhar para o relógio, ansiosos que chegue a hora de voltarem para perto dos rebentos, há pessoas que quase se esquecem que precisaram do companheiro para que aquele bebé ali estivesse. Há pessoas que deixam, pura e simplesmente, de ter amigos. Nos casos mais extremos, as pessoas esquecem-se de se amar a si próprias.
Amar um filho é reaprender a amar. É não conseguir compreender como é que tanto amor cabe dentro do peito… como é que esse amor, não se repetindo, também não se divide quando chegam outros filhos.
Mas tal como o amor materno e paterno é elástico, também todos os outros níveis de amor o são. E têm de ser nutridos, alimentados ou desaparecem.
Os nossos filhos, se tudo correr bem, estarão sempre lá. Mas chegará a altura em que voam. E vai saber bem ter alguém ao nosso lado para os ver voar, seja um companheiro, sejam amigos. E vai saber ainda melhor perceber que mesmo tendo eles voado, nós continuamos a existir na nossa plenitude. Porque nos lembrámos de nos amar. Porque não nos esquecemos de distribuir o amor à nossa volta.
Às vezes precisamos de nos lembrar disto e abrir um pouco a roda. Para deixar chegar perto quem nunca deixou de ali estar.
Para o bem deles.
Para o nosso bem.
O amor, essa dádiva, chega para todos.
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!
1 comentário
O nosso coração deve ser tão amplo que consiga albergar tudo e todos os que nos fazem viver e gostar de viver. Todos são importantes, todos têm um papel a desempenhar.