O pai Natal é imortal
Nesta época de Natal tenho tido conversas incríveis com a minha filha sobre o universo do cristianismo e o universo pagão, que andam tantas vezes de mãos dadas.
No outro dia perguntava-me afinal o que é que Jesus fazia. E eu expliquei o melhor que consegui, que falava sobre as coisas, punhas as pessoas a pensar sobre os assuntos, dava exemplos e ensinava as pessoas sobre as coisas importantes na vida: a bondade, a partilha, etc.
E ela olhou para mim “e as pessoas ouviam?”.
E eu disse que sim porque ele falava de coisas que as pessoas não estavam habituadas a ouvir. E isso ajudava-as a tornarem-se melhores. E ela contou-me que tinha sido como Jesus, nesse dia na escola. Que tinha ensinado tal a um amigo, partilhado aquilo com outro e que o primo tinha aprendido Y e por isso continuavam a fazer como Jesus. E ali eu tive a verdadeira essência do cristianismo à minha frente. Deixei essa liberdade poética acontecer. Mais tarde teremos outras conversas, se ela as quiser ter.
Depois veio perguntar-me onde andava o São José. E eu expliquei que já não estava entre nós. Porquê, mãe? Porque já morreu. Morreu porquê? Porque já era velhinho. Já tinha vivido muito e tinha tido uma vida boa, por isso
aconteceu como acontece a toda a gente. Morreu e foi para o céu. A toda a gente não, mãe.
Olhei-a.
O Pai Natal não morre. O pai Natal é imortal.
E eu sorri e disse que não, sem grandes explicações. E o pai disse que era o pai Natal e o Duncan Mcleod dos Imortais, mas dei-lhe uma pisadela debaixo da mesa e ele mordeu os lábios a rir.
Noutra altura, no jardim de nossa casa onde há um presépio de luzes com formas em tamanho real, a minha filha perguntou por que é que São José tinha um cajado. Se era velhinho. E eu expliquei que não, que tinham feito uma caminhada muito grande, ele a pé e Nossa Senhora em cima de um burro e o cajado ajudava na caminhada. Ela ponderou e disse que podiam ter ido os dois
em cima do burro ou Maria podia ter trocado de vez em quando com ele. Disse que o burro não aguentava com duas pessoas e Maria precisava mais da boleia porque estava grávida e quase em fim de tempo. E que ela trocou algumas vezes com José para esticar as pernas e caminhar e ele descansar um pouco. Ela gostou da resposta.
Para ela as coisas são simples mesmo quando são complicadas. E desejo que o espírito do Natal se mantenha assim na vida dela.
Como o Pai Natal. Imortal.
Boas Festas para todos!
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!