O peso das palavras. Não estavas lá então não fales.

O peso das palavras. Não estavas lá então não fales.

O peso das palavras. Não estavas lá então não fales.

Reza o ditado que há três coisas que não voltam atrás: a flecha lançada, a palavra dita e o tempo perdido.

É cultural, temos o hábito do diz que disse. Mas será que alguma vez parámos para pensar no que acontece quando falamos sobre algo ou alguém que não conhecemos? Ou mesmo sobre alguém que conhecemos, é um facto. Quando propagamos histórias que não vivemos ou testemunhámos? Será que alguma vez considerámos as consequências que esse acto, que parece inocente e simples, pode causar?

Uma mentira repetida muitas vezes passa a tornar-se verdade.

A imagem que temos sobre uma pessoa ou um acontecimento é automaticamente moldada pela informação que temos sobre ambos. Ou pela informação que nos dão. Ou lemos. E em que acreditamos, muitas vezes sem questionar. É esse o peso das palavras.

A verdade é que há vários níveis da chamada “fofoca”, as personalidades públicas sofrem bastante com elas, mas também no nosso pequeno mundo há efeitos. Se as nossas crianças nos ouvem falar sobre alguém vão apreender o que estamos a dizer. É bom que o que estamos a dizer seja verdade. E seja apropriado para os seus ouvidos. Porque eles imitam o que ouvem e o que vêm fazer. E serão eles a espalhar o que ouviram ou simplesmente a ter uma imagem sobre alguém baseada naquilo que lhes disseram. E mais crescidos falarão sobre isso, espalharão factos e não-factos com a facilidade de um sopro. É esse o peso das palavras.

Não o fazemos por mal, mas fazêmo-lo. O meu pai costumava perguntar, quando nos via a falar de alguém: estavas lá? Ouviste? Viste? Então não fales.

Como sempre estava certo.

Já tive a oportunidade de ver de perto o que o diz que disse pode fazer a uma pessoa. Pessoa essa perfeitamente correcta, capaz, profissionalmente exemplar, mas sobre quem se tinha vindo a passar, à boca pequena, histórias sobre uma reunião em que tinham sido ditas “coisas”. Eu estava lá. Vi em primeira mão e sei o tom, sei o que foi dito e o que provocou o que foi dito, qual foi a resposta que foi dada. O que saiu cá para fora foi apenas uma das partes. Descontextualizada. Que condenou a pessoa em causa a ser desconsiderada profissionalmente com base em informações que ninguém se deu ao trabalho de confirmar. E na maior parte dos casos é isso que acontece. É esse o peso das palavras.

Fala-se muito de bullying e ele existe em todo o lado e é perpetrado de várias formas.

Hoje falamos sobre o filho de alguém, amanhã poderá ser o nosso filho a vítima do falatório. Pelos motivos mais simples, ou por motivos mais complexos.

Quando andava na escola secundária houve um caso de uma rapariga que se zangou com a melhor amiga. Esta decidiu vingar-se dela e criou um perfil falso numa rede social da época, com fotos impróprias (outra coisa que devemos, até à exaustão, ensinar os nossos filhos a não fazer, a saberem proteger-se), que era alimentado com mentiras, em que a vítima era ofendida e ofendia os outros.

A rapariga teve uma depressão, deixou de aparecer na escola, teve de ter acompanhamento para voltar a sair de casa sem se sentir um alvo. Sem se sentir completamente invadida. Sem se sentir maltratada. Hoje, mais de dez anos depois, acredito que ainda deve lutar contra esses demónios. Não deve conseguir confiar em ninguém à primeira. E se a primeira pessoa que teve acesso ao perfil falso o tivesse denunciado para que fosse apagado nada disto teria acontecido. Mas a corrente foi alimentada, foram partilhadas as fotografias, foi-se espalhando o terror.

Se ensinarmos as nossas crianças a pensarem antes de falar, a medirem as consequências do que dizem e fazem, a falarem verdade, a questionarem o que ouvem, teremos um mundo melhor. Mas teremos nós, pais, de aprender a fazê-lo também, para o podermos ensinar convenientemente.

O diz que disse é cultural.

Irá sempre existir.

Até ao dia…

imagem@weheartit

MÃE DE UMA MENINA, É PARA E POR ELA QUE ESCREVE SEMANALMENTE, PASSANDO PARA PALAVRAS OS MAIORES SEGREDOS DO VERBO AMAR.

Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!

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