
preconceito
O preconceito está em nós
É muito difícil para uma pessoa assumir preconceitos em contextos sociais.
Esta é a regra.
A excepção? Quando há filhos envolvidos na questão.
O preconceito de que hoje escrevo supreendeu-me, em pleno ano de 2016 mas talvez ele esteja tão presente exactamente pelo ano que vivemos.
Na creche da minha filha uma das educadoras está de saída. Diligentemente estão a ser feitos todos os esforços para que seja substituída por uma pessoa igualmente capaz, competente, sensível com as crianças, justa e com perfil.
Têm sido vários os candidatos que nos têm chegado a nós, pais, sob a forma de carta de apresentação, uma vez que os candidatos seleccionados estão à experiência na sala dos nossos bebés.
Até aqui tudo tranquilo. Foram recebidos três emails de três candidatas e foram raras as pessoas que responderam a essa comunicação. Até que a situação mudou. Em vez de educadoras, era um educador. De longe o que tinha mais experiência com crianças, um currículo mais completo, com pós-graduações e mestrados com os mais variados temas ligados à infância.
Fui buscar a minha filha à escola e perguntei como estava a correr e tive a notícia. Tiveram de desistir desse educador, tal a avalanche de emails contra, telefonemas de pais, conversas em que encarregados de educação mostravam a sua apreensão. Fiquei estupefacta.
Uma das mães foi bastante directa e, pedindo desculpa, confessou o medo que sentia por ter um homem a cuidar da filha. Por causa das notícias que se ouvem ultimamente. Porque não é comum haver homens educadores. Porque…
Enfim, deixei de ouvir. Pensei naquele homem que estudou, se dedicou, se mostrou competente e se viu privado de uma oportunidade de emprego por causa do seu género. E de um estigma, na verdade.
Quantas vezes criticamos quando acontece com uma mulher? Quando é contratada apenas por ser mulher, quando não é contratada, apesar de ser a mais competente dos candidatos, porque pretende ter filhos, porque é mulher e as mulheres ainda são vistas como seres inferiores?
A verdade é que o contrário acontece também.
Tive vontade de perguntar àqueles pais para fazerem uma viagem no tempo: se o seu filho chegasse a casa de rastos depois de ser recusado num emprego em que tinha tudo para se dar bem, para ser competente. Como se sentiriam se percebessem o preconceito? Sentir-se-iam injustiçados e teriam vontade de cruzar sete mares em defesa do filho, porque o conhecem, porque sabem que é mais do que o seu género, porque acreditam na justiça, porque sabem que todos deviam ter as mesmas oportunidades. No entanto, com o filho de outro alguém não foram capazes de olhar mais longe.
Pensar no bem estar dos filhos? Claro, sou a primeira a defendê-lo. Usar do poder que temos enquanto pais para pressionar uma instituição de educação a seguir um caminho com base no medo acho errado. E deixei bem clara a minha opinião.
Infelizmente a maldade não tem sexo. Infelizmente a maldade existe em todo lado, inclusivamente onde os nossos filhos deveriam estar em segurança. Infelizmente, na maior parte das vezes, não conseguimos antecipar os problemas deste tipo. Mas é por isso que existem equipas multidisciplinares nas escolas. Para que quando há algo que não acontece como deveria, esse facto ser detectado. E sejamos sinceros, quantas notícias ouvimos sobre amas a maltratarem crianças? Educadoras nas escolas a abusarem do seu poder para castigar miúdos inocentes e dependentes? Façamos então o exercício de nos lembrarmos da última vez que, numa creche, houve um caso semelhante com um homem. A minha memória não registou nenhuma.
Porque, como disse, o que existe são pessoas más, sem escrúpulos, sem coração, sem vergonha, pessoas doentes.
As restantes não devem ser castigadas antecipadamente com base numa característica.
Não é pela igualdade que lutamos?
Pois não pode ser só quando dá jeito…
Para haver um mundo melhor temos de mudar muito, olhar mais em volta, pôr o coração ao largo algumas vezes e pensar duas vezes antes de agir.
Para educarmos crianças melhores.
Que sejam justas com os outros. Para que os outros sejam justos com elas.
Pela verdadeira igualdade.
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!
Há uns anos ‘apanhei’ na tv uma sequência/cena de um documentário sobre a implementação da educação sexual, ali numa creche italiana, pelo pp educador de uma das salas. Este fazia uma roda e todas as criancinhas sentadas respondiam em uníssono às perguntas teatrais do educador que, pouco depois, até a mim me fez rir: colocando uma mão na barriga (proeminente) outra nas costas e um ar cansado/atrevido, sentava-se com dificuldade como uma qualquer grávida em fim de tempo, numa cadeirinha dizendo que, de dia para dia, estava mais difícil de aguentar aquela barriga…
É claro que não houve uma criança de 4 ou 5 anos que não se risse, não ensinasse, não observasse, enfim, não dissesse que a Barriga do ‘Pedro’ não era possível… e porquê.
O educador era tão bom que a até me fez rir e pensar, que sorte têm estas crianças italianas!..