O problema não és tu, sou eu!

O problema não és tu, sou eu! Culpa é o nome do meio dos pais.

O problema não és tu, sou eu!

Nos dias que correm parece-me correcto dizer que a culpa é o nome do meio da maior parte dos pais.

Sentem culpa porque trabalham demais, porque estão cansados demais, porque perdem a paciência vezes a mais do que gostariam, porque sentem que não estão tão presentes quanto deveriam.

Este facto faz com que tantas, mas tantas coisas que acontecem sejam atribuídas exactamente à falta de tempo, ou paciência, ou por aí fora.

No outro dia, no jardim com a minha filha, cruzei-me com uma mãe que tinha uma menina mais velha que a minha.

A menina, de cerca de dois anos e meio ou três, quando via a minha filha a querer subir para o escorrega ou para o baloiço dizia “é meu!”. A mãe chamou-a várias vezes à atenção, com cuidado e sensibilidade e conversou um pouco comigo. Explicava-me que aquilo se devia ao facto de ela e o pai da menina se terem separado recentemente, de esta estar uma semana com cada um e de estar a receber mimo extra. Pedia desculpas, estava a tentar encontrar a melhor maneira de gerir tudo aquilo porque, dizia, “são muitas emoções, muitas mudanças, mas quem errou fomos nós, não ela. E somos nós que temos de fazer com que ela cresça bem. Mas não podemos deixá-la ficar perdida entre uma casa e outra, a achar que pode tudo só porque agora é uma espécie de vítima desta situação”.

Ainda que nada tivesse a ver com o assunto, achei que devia dizer alguma coisa.

Achei que aquela mãe precisava de conversar, mas acima de tudo de ouvir que estava no caminho certo. E foi o que lhe disse, que me parecia que estava a fazer as coisas equilibradamente, mas… E aqui ela olhou-me com algum receio. Senti que devia dizer-lhe que todas as crianças passam pela fase do é meu. Que é natural, que têm de passar por ela para perceberem que o mundo se espraia para além do seu umbigo e que apesar de serem muitas vezes o centro do mundo de alguém, este mundo maior que está à sua volta não ser curva perante eles. E esse “é meu” passará a ser um “também é meu, é nosso”. Com calma, com tempo, com acompanhamento.

No fundo, aquela mãe estava a culpar-se por algo que não era, em absoluto, culpa sua. Baralhava uma fase do desenvolvimento da filha com uma consequência de uma mudança na sua vida. E fazemos muitas vezes isso. Demasiadas vezes. E é por isto que acho que é importante conversar. Partilhar experiências, vivências, sem as impor. Passar informação. Opiniões. Sem julgar. Ajudar, deixar ajudar. Ouvir.

Porque muitas das vezes o problema não somos nós, são mesmo os outros. E esses “outros” podem ser muitas coisas.

Estamos a fazer o melhor que sabemos e podemos.

E tal como não devemos sacudir a culpa para as outras pessoas também não devemos apropriar-nos dela por termos algo menos bem resolvido.

É essencial procurar uma vida de meios termos, de equilíbrios.

Para nosso bem, para bem dos nossos filhos. Eles serão pais no futuro. Que possam dizer que são uma versão nossa melhorada.

imagem@weheartit

MÃE DE UMA MENINA, É PARA E POR ELA QUE ESCREVE SEMANALMENTE, PASSANDO PARA PALAVRAS OS MAIORES SEGREDOS DO VERBO AMAR.

Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!

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