O que aprendi com as crianças
Com as crianças aprendi que um ataque de cócegas salva o mundo.
Que um escorrega pode ser uma prancha num navio pirata, uma construção de areia uma cidade imaginária.
Com as crianças aprendi que temos tantas certezas porque muitas vezes deixámos de fazer perguntas.
Que o amor é a coisa mais pura do mundo e faz tanta falta…
Que uma palavra fere, mas também tem o poder de transmitir confiança.
Que um incentivo é tudo o que precisamos para acreditarmos em nós.
Que saltar em cima da cama é bom, que andar descalço na relva é maravilhoso, que fazer competições de “golfinhos” na praia é incrível.
A importância de brincar.
Que não é preciso muito para nos divertirmos, que com uma colher de pau e uma panela se faz música, que podemos fazer render um livro durante meses, por mais que na altura nos tenha custado gastar aquele dinheiro, talvez mais útil para outras coisas.
Com as crianças aprendi que só percebemos as diferenças quando alguém nos vem apontá-las, até lá somos apenas pessoas, iguais, irmãos.
Que o que é básico para uns é um luxo para outros.
Que o tempo é precioso e nem sempre sabemos usá-lo da melhor maneira.
Que encarnando super heróis somos capazes de tudo (e às vezes bastava pensarmos em nós como a Mulher Maravilha para aquela tarefa complicada parecer mais simples).
Que sujar é bom, e já me tinha esquecido.
Qual a sensação de saltar nas poças.
Que bons amigos nunca são demais e que o nosso primeiro instinto raramente nos engana.
Que cantar tem outro encanto, dançar outra dinâmica, sorrir outro valor.
Como é bom fazer bolas de sabão e tentar apanhá-las.
Com as crianças aprendi a importância de ser visto, reconhecido. A importância de ouvir e valorizar.
Como é importante estar verdadeiramente.
Que os telemóveis distraem e nos roubam momentos que não voltam mais.
Que o que dizemos importa e deve ser pensado.
Que a forma como vemos o mundo pode determinar a forma como elas o vão receber na sua vida.
Com as crianças aprendi o peso de saber pedir desculpas.
Que os bens materiais não interessam para nada, mas que algum dinheiro ajuda a levar os dias mais confortavelmente. Algum dinheiro, não uma fortuna, porque a riqueza verdadeira dos nossos dias está na forma como os vivemos. E não há fortuna nenhuma que nos salvaguarde isso.
Que a culpa que sentimos enquanto pais muitas vezes não é apontada pelos filhos.
Que os nossos filhos nos vêem com óculos de amor sempre postos e perdoam a maior parte dos nossos defeitos.
Com as crianças aprendi a importância de se ser criança.
De deixar os nossos filhos serem crianças sem lhe pormos constantemente o peso do amanhã nas costas, nem mil actividades, nem o stress que é e deve ser só nosso.
Aprendi a importância de esquecer o que não importa. De passar menos tempo preocupada com a casa e mais tempo a saber viver nela.
Com as crianças aprendi como é essencial não deixarmos morrer a que vive dentro de nós.
E fazermos perguntas ousadas.
Sem medo das respostas.
Sermos gentis. Abraçarmos mais.
Ligarmos menos ao que pensam de nós.
Sermos tão bons quanto fomos um dia, antes de o facto de sermos adultos nos ter distraído.
Com as crianças aprendi que não é preciso muito para ser feliz.
E é esse trabalho diário que pratico.
Olhar em volta e reter o que nos faz bem, deixar para lá o que não nos acrescenta nada.
Que nunca nos esqueçamos que os nossos filhos são (ou foram) crianças e nunca deixemos esmorecer a que ainda temos dentro de nós!
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!