O que deve saber uma criança de 4 anos?
Esta semana estive na escola dos meus filhos, na festa que normalmente é preparada entre alunos e professora para celebrar o dia da mãe. Nestas reuniões temos sempre a oportunidade de nos cruzarmos com umas espécies, também elas mães, que encaram a maternidade como uma corrida.
Uma verdadeira corrida contra o tempo e contra a criança.
Trata-se de uma competição renhida que disputa o troféu “Estatuto de melhor mãe“. O problema é que é considerada “a melhor mãe” aquela que apresentar o número mais rico neste concurso de talentos e destrezas do filho, como se se tratasse de um concurso de saltos de pulgas amestradas.
“A minha filha de 4 anos sabe o alfabeto completo, soletra 10 palavras, e sabe fazer contagem decrescente desde o 100. Anda de bicicleta, monociclo e faz surf. Mas claro, o surf é só nos dias que não vai para o Ballet, porque a dança é mesmo a sua paixão desde os 2 anos… E a sua filha, o que é que faz?”
“A minha filha brinca!”
E vejo aquela cara de suspense à espera que eu acabe a frase como se fosse obrigatório acrescentar mais qualquer coisa.
Esta moda de que crianças têm de saber fazer várias coisas para se tornarem adultos de sucesso e, devem frequentar várias atividades para desenvolver mais competências (e o tempo para brincar, onde fica?) não podia ser mais absurda.
Resolvi fazer uma pesquisa para perceber se havia ou não “metas” que as crianças deveriam alcançar com esta idade.
Encontrei um artigo de uma mãe de 5 filhos que escreve o blog A Magical Childhood, que vai exatamente ao encontro deste meu pensamento. Alicia Bayer criou uma lista simplesmente deliciosa que define o que uma criança de 4 anos deve saber e outra, que considera mais importante, que define o que os pais devem saber.
Foram traduzidas e adaptadas com autorização pela Up To Kids®:
Uma criança de 4 anos deve saber que:
É amada.
Total e incondicionalmente, todo o tempo.
Está segura.
Deve saber regras de segurança para se manter segura em público, com outras pessoas, e em situações diferentes. Saber que não tem de fazer coisas que não quer ou que com as quais não se sente bem, independentemente de quem lhe peça para o fazer.
Deve saber rir com vontade
Ser pateta quando lhe apetece, e deve ser criativa. Saber que o céu pode ser pintado de cor de laranja se quiser, e que pode desenhar gatos de 6 pernas. Deve saber usar a imaginação.
Deve saber de que é que gosta
Quais são os seus interesses e deve poder descobri-los e desenvolvê-los. Se não se interessa por números, os pais devem perceber que vai aprende-los sem querer, vai acabar por tropeçar neles e mergulhar nesse novo mundo deixando para trás os dinossauros, as bonecas ou as sopas de lama.
Deve saber que o mundo é mágico e ela também.
Saber que é maravilhosa, brilhante, criativa, compassiva e única. Deve saber que é tão importante fazer colares de flores, castelos na areia, e casas de fadas como praticar a fonética.
Os pais precisam de saber que:
Cada criança tem o seu ritmo.
Cada criança aprende a andar, falar, ler e fazer contas no seu próprio ritmo e isso não terá qualquer influência sobre a forma como ele vai andar, falar, ler ou fazer contas.
Que o único grande preditor de alto desempenho académico é a leitura para as crianças.
Não são livros de atividades, não são infantários da moda, não são brinquedos com luzes ou computadores, mas sim a mãe ou o pai (ou os dois) a passarem tempo com os filhos todos os serões e ler-lhes uma história.
Que o melhor aluno da turma nem sempre é o mais feliz.
Não há nada que relacione o bom desempenho escolar nestas idades com a felicidade de cada criança. Às vezes estamos tão envolvidos a tentar criar vantagens na educação dos nossos filhos que acabamos por sobrecarrega-los com atividades, tornando o seu dia a dia tão stressante e preenchido como o nosso. Uma das maiores vantagens que podemos dar aos nossos filhos é uma infância simples e despreocupada.
Que os nossos filhos merecem crescer rodeados de livros, natureza, fontes da arte e ter a liberdade para explorá-las.
A maioria de nós poderia livrar-se de 90% dos brinquedos dos nossos filhos que não faria qualquer diferença, mas há algumas coisas que são importantes: brinquedos construtivos, como legos e blocos, brinquedos criativos, como todos os tipos de materiais de arte, instrumentos musicais ( reais e uns multiculturais ), vestir roupas e disfarces e livros , livros , livros.
Que os nossos filhos precisam mais de nós.
Mais do nosso tempo. As revistas para pais recomendam que consigamos dedicar 10 minutos diários a cada filho e que as famílias devem organizar pelo menos um sábado de atividade conjuntas. Isso não é o suficiente! Os nossos filhos não precisam das consolas, dos computadores, das atividades extracurriculares, das aulas de ballet ou do futebol como precisam de nós.
O que precisam as crianças de 4 anos?
Precisam de pais que se sentem e conversem com eles
Sobre como foi o dia, de mães façam trabalhos manuais com eles. Precisam de pais que leiam histórias com eles e façam figuras de parvos a criar diferentes vozes para os personagens, só porque é mais divertido.
Precisam de pais que passeiem com eles.
E que não se importem de fazer o trajeto a velocidade caracol, e se necessário uma parte ao colo.
De pais que tenham tempo
Tempo para os deixar ajudar a fazer o jantar, ainda que muitas vezes só atrapalhem.
Precisam de saber que são uma prioridade para nós.
Que estão à frente de tudo, e que nós, pais, gostamos realmente de passar tempo com eles.
Afinal, que precisa uma criança de 4 anos?
Muito menos do que no apercebemos, e muito mais…
Por Up To Kids®, Todos os direitos reservados
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35 comentários
Olá! Passei só para dizer que aprendi a andar e a falar muito mais tarde que as outras crinças e apenas estive um ano no infantário quando era pequena, e de lá a única coisa de útil que trouxe foi aprender a escrever o meu nome. E aprendi de cor a palavra, como se se tratasse de um desenho muitas vezes repetido, pois não sabia o abecedário e só sabia contar o essencial, digamos que talvez até dez, mas não que me tivessem ensinado, era o tipo de coisa que de ouvir tanta vez a dizerem em casa uns aos outros se decora. Não sabia fazer contas nem conseguia dizer uma palavra de inglês, nunca tinha tido aulas de qualquer tipo de coisa pois fiquei cinco anos da minha vida em casa com a minha mãe, a brincar e a ser amada e a aprender a ser gente. E depois fui para a escola. E o que se espera de alguém que não sabia nada? Desde a primária ao secundário, sempre fui a melhor aluna da turma e mais tarde inscrevi me em aulas de piano porque eu quis e não porque os papás queriam gabar se da menina. Soube gerir amizades e trabalho e nunca ninguém me olhou como menos desenvolvida, longe disso. Portanto, deixem os miúdos brincar que para aprenderem e serem adultos têm eles muito tempo na vida .
Ótimo texto!
perfeitamente de acordo!
as crianças não devem competir , muito menos entre si.
Perfeito!
Creio que criança tem que ser criança enquanto lhe existir a infância.
Eu fui criança até meus 12 anos de idade, e soube conciliar estudos com brincadeiras! Nunca fui cobrara para fazer cursos de línguas ou aperfeiçoamento, pois meus pais, GRANDES PAIS, sabiam que para tudo tem seu tempo e que a infância foi feita para ser vivida de forma INFANTIL. Uma aula de judô ou um ballet não são os problemas, mas aulas de esporte, aulas de reforço, aulas de aperfeiçoamento e o compromisso da escola, tiram completamente a obrigação da INFANTILIDADE de ma criança, dando à eles somente a fase de aprendizado…
Reblogged this on DESNECESAREA.
Só temo que seguindo essas “regras” com flexibilidade infinita (e certo conforto para os pais), as crianças possam se tornar tão alheios à própria língua como muitas pessoas que sem se quer dominar o próprio idioma se considera apto a escrever e orientar outras!
A frustração de alguns pais, em constante competição, transmite-se para as suas inocente crias…
Brilhante!!!!
Que bom seria que muitos pais assim pensassem, inclusive ainda, durante o 1.º CEB e parte do 2.º. No nosso país, não estamos a deixar que as nossas crianças vivam a sua infância. Receio as complicações, visíveis a longo prazo, já que por aqui tudo demora.
Em perspectiva, a ps4 e a mensalidade do futebol fica bem barata que isso de ser pai, parece que dá trabalho!
David Alexandre, olhando pelo seu ponto de vista, seria melhor não ter filho! Filho nenhum pede pra vir ao mundo, mas se vem, merece no mínimo ter pais amorosos, atenciosos, responsáveis e esforçados! Muitos adultos priorizam suas tarefas e deixam os filhos de lado, quando na verdade, as tarefas sempre estarão lá… já os filhos, tem fases únicas que se vc não souber aproveitar, então, não será digno de ser chamado de pai!
Frase clichê: Não basta ser pai, tem que participar!
gostei disto
Tenho uma filha de 6 anos , q entrou agora para a primaria este ano, tem sido um pouco dificil o comeco d escola.. porque ela nunca frequentou a pre primaria, e estava um pouco atrasada em relaCao aos restantes alunos.. e ate sofreu um certo “bullyng” .. ouve alturas em que ela chegava a casa e dizia q n queria ir pra escola.. Hoje ela esta bem sempre com bolinha verde e super hiper mega feliz
SIMPLESMENTE FANTÁSTICO…
FICO FELIZ POR POR CONCORDAR COM ALGUÉM TÃO SÁBIO…
SÓ QUERO QUE O MEU FILHO SEJA FELIZ 🙂
Belo artigo! Tropeço todos os dias em pais que “gabam” desmedidamente as suas crias….exigem que sejam srs drs à força…. Para tapar quiçà as suas frustrações de forma mais fantasiada!
So quero um filho feliz!!!!
Chega-me tanto!
🙂
Em resposta ao/ à autor/a do artigo:Pergunto como é que irá explicar neste caso ao seu filho que no dia que precisar por exemplo de sangue, dum rim, de medula, não poderá usufruir de nada disso porque quem os tem, tem o direito de não “partilhar” partilhando do seu princípio sobre a “partilha” que aqui defende. Será que consegui partilhar consigo a gravidade do seu modelo de educação? já ouviu falar de educação cívica?
Cara Maria Alves,
Mesmo estando o seu comentário fora de sítio não resisto a responder-lhe:
Um pai não deve obrigar um filho a partilhar brinquedos da mesma forma que nenhuma autoridade pode obrigar um cidadão a doar sangue, medula, rins…
Uma criança tem de aprender que às vezes os outros não lhe emprestam as coisas, da mesma forma que muitos (adultos e crianças) têm de encarar a morte porque não se encontra um dador.
As boas notícias é que as crianças aprendem facilmente que para brincarem com os brinquedos dos outros também têm de emprestar os seus. (Não precisam de ir às aulas de educação cívica para o aprenderem, basta deixá-los juntos num recreio.)
As melhores notícias ainda é que há cada vez mais pessoas altruístas disponíveis para doar sangue, medula e rins!
Felicidades!
Adorei… tudo o que acredito e que acho necessário: Ser criança é isso… é sê-lo e brincar e imaginar etc etc. A minha irmã era reprimida na pré por pintar com imaginação….Felizmente tive uns pais que nos estimularam muito. Hoje trabalho com pessoas de todas as idades… e nos miúdos o máximo que tento é que sejam criativos e que sejam crianças… que se riam, sujem também… É tão bom ser criança… é pena que alguns adultos queiram mini adultos ou que queiram transportar para os filhos aquilo que idealizavam para si. BEm.. adorei ter tropeçado aqui no seu artigo.
Nota-se no texto uma tendência para mim excessiva e desequilibrada para tudo que seja relacionado com arte e leitura, e pelo contrário uma quase aversão pelas novas tecnologias. O problema é que o futuro vai estar repleto delas e se as crianças não aprenderem desde tenra idade perdem o comboio face aos outros porque nota-se claramente hoje essa diferença em adultos que começaram tarde.
Estou de acordo com a maior tarde do texto mas o equilíbrio é a chave,o importante é evitar os excessos e deixar as crianças descobrirem as suas paixões.
Está é uma opinião de um pai que não se considera um exemplo a seguir.
Deveras difícil o equilíbrio entre o potencial de quem está a crescer e o que ambiente “exige” dos miúdos… sem que eles saibam ao certo (embora o sintam), nem possam sequer, na grande parte das vezes, escolher que caminho tomar. Estamos a tentar redigir os novos direitos das crianças… Penso que poderá fazer sentido para quem leu este artigo. Fica a sugestão: http://www.pimpumplay.pt/pages/index/direitos-das-criancas
Bem feito, boa teoria, mas acho o texto mt extenso.
Eu fui uma dessas crianças precoces que aprende a ler sozinha aos 4 anos sem qualquer tipo de instrução (eu queria mesmo aprender a ler, não suportava que me lessem histórias pois sou tão impaciente que perco a concentração com o ritmo de leitura dos outros). Era de tal forma tão obsessiva por ler todos os livros que aparecessem à frente que a minha mãe decidiu fazer o que pudesse para me meter na escola com 5 anos pois achava um desperdício eu ser assim e não me desenvolver (a minha mãe nunca me meteu em nenhuma actividade, nunca me tentou ensinar nada, eu é que sou obsessivamente curiosa para aprender tudo e continuo a sê-lo na idade adulta, aprendo a fazer tudo sozinha)..
É verdade que as minhas capacidades me trouxeram coisas muito boas mais tarde mas sofri de bullying durante anos, desenvolvi stress pós-traumático por causa disso, e estou quase sempre sozinha.
Não é assim tão fixe ser-se inteligente e criativo. Ganho dinheiro com a minha paixão, é verdade, mas a nível social e pessoal sempre foi uma prisão pois não sou capaz de ter conversas simples nem de me dar com a maioria das pessoas. Preciso de trabalhar com imensa informação ao mesmo tempo o que me faz ser extremamente impaciente e preciso de desafios constantes. Quase ninguém é assim, quase ninguém me compreende.
Só quem não é assim é que acha que deve ser excelente ser-se assim.
Pelo seu breve resumo, já procurou ajuda? Conheço uma pessoa assim e foi lhe diagnosticado Síndrome de Asperger.
“Encontrei um artigo de uma mãe de 5 filhos que escreve o blog A Magical Childhood, que vai exatamente de encontro a este meu pensamento”.
É ao encontro de e não vai de encontro, o que significa exactamente o oposto.
Esta semana fui a um batizado e uma das senhoras que estavam na festa e pouco ou nada conhecia os meus filhos… no final do dia disse-me “Nota-se mesmo que os seus filhos são crianças felizes.”
Foi o melhor elogio que ouvi na minha vida…
Ups! Sou uma mãe que está sempre com minha filha, brincamos muito juntas, dançamos (porque ela adora música), damos risadas, passeamos todos os dias… ela ainda não foi para nenhum infantário e nem frequenta nenhuma actividade. Tive a oportunidade de estar com ela até agora… esse ano é que ela vai para a creche, em Agosto ela faz 3 anos.
Mas minha menina já sabe contar até 20, sabe o alfabeto todo, separa as vogais e as consoantes, sabe as cores (as vezes confunde o preto e o branco), os dias da semana e tem mais: as formas geométricas, o dia que ela me corrigiu dizendo a diferença do losangulo pelo quadrado eu fiquei de boca aberta!
Sinceramente não sei se ela ta muito avançada. Quase tudo que ela sabe aprendeu com as músicas e nos programas infantis tipo Disney e Panda… só agora é que eu comecei a ler histórias para ela.
Afinal está no início a referência ao magical childhood, retiro o que disse
Ok.
Seria de bom tom citar o original:
Olá Jcor.
Aparentemente não leu o texto completo. Está referido o nome da autora no artigo, Alicia Bayer e, também está o link para o artigo original, que foi publicado no seu blog A Magical Childood. A Up To Lisbon Kids atribui os créditos dos textos de acordo com as exigências dos autores e sempre com autorização ou através da compra dos direitos dos mesmos.
Obrigada.
Favor ler na última linha “Fala a voz da experiência”
Desenvolver uma cumplicidade grande com os filhos é meio caminho andado para criar crianças felizes e que, mais tarde, têm tendência para formar famílias felizes. Dediquemos pois aos nossos filhos, momentos de qualidade mesmo que não possamos estar muito tempo com eles – de cada vez. É preferível estar com um filho durante 15minutos e dar-lhe toda a atenção de que ele/a precisa do que estar um dia inteiro e não lhe dar atenção e, ainda por cima, passar a tecer reparos negativos a maior parte das vezes. A auto-estima é muito importante na formação da personalidade e os pais têm mesmo que ajudar. Brinquem com eles e, principalmente, falem com eles. Sintam o que eles sentem e lhe querem transmitir.
Fala a vez da experiência (uma avó de 11 netos – felizes!)