“Até podes ter mais um filho, mas nada te garante que será rapariga desta vez!” disse a minha mãe, no meio de uma conversa sobre o tema. A minha mãe, nestes assuntos, tem a sensibilidade de um camião Tir. Ou talvez haja algo na nossa relação mãe-filha que já não nos permita andar com rodeios.
Eu tenho dois maravilhosos, queridos, doces e loucos filhos. Eu e o meu marido decidimos ter dois filhos com 5 anos de diferença. Assim poderíamos dar tudo ao primeiro, e quando ele entrasse para a escola dávamos tudo ao segundo. 10 anos de criancinhas e depois “acabava”.
Admito que, quando fizemos a eco morfológica do meu segundo filho e me apercebi que era a nossa última criança fiquei com um nó nos estômago. Se não fosse uma rapariga, não era. E eu seria mãe de rapazes para o resto da filha e nunca iria saber o que era ter uma filha.
Até ao último minuto eu estava na duvida se iria ou não querer saber o sexo do bebe, mas assim que o técnico desceu para a parte inferior do seu corpo mínimo, tornou-se claro: as suas pernas estavam bem abertas e um micro pénis apontava para cima. Até eu consegui perceber antes que me dissessem qualquer coisa.
Cresci numa casa de mulheres. A minha mãe, eu e a minha irmã mais nova. Imaginem 3 mulheres com síndrome pré-menstrual ao mesmo tempo. Imaginem uma à beira do abismo: portas a bater, pés a bater no chão, lágrimas por todo o lado. Barbies, Minies e Princesas enfiadas em todos os cantos da casa.
Agora estou rodeada de rapazes. Digo que sou a Wendy e os meus filhos os rapazes perdidos da Terra do Nunca. A verdade é que os rapazes são uma lufada de a fresco. São cativantes. Eu estou loucamente apaixonada pelos meus filhos, por tudo relacionado com eles, e não mudava uma palha. Sinto-me preenchida.
Claro que às vezes questiono-me sobre como seria ter uma menina, as roupas amorosas com folhos e os laços do cabelo, pentear-lhe o cabelo, comprar o primeiro sutien, conversar com ela sobre a mudança de idade. Claro que até podia ter uma menina, e ser uma Maria Rapaz, mas seria mais provável explorar um pouco o mundo das raparigas se tivesse tido uma menina. Às vezes tenho mesmo pena de perder tudo isto, que não me doa a cabeça.
No entanto, há uma coisa, que só de pensar que nunca experimentarei, dá-me logo um nó na garganta, e é esta a única coisa pela qual me arrependo verdadeiramente por não ter uma filha:
Eu nunca vou ver a minha própria filha a tornar-se mãe. E quando penso nisso fico um bocadinho (gigante) com o coração apertado.
Eu sei que mesmo que tivesse uma filha, ela poderia não quer, não poder, ou não conseguir ter filhos. Mas tenham paciência comigo, estou a viajar na terra da fantasia, sim?
Então, alinhem sff.
Para a filha que eu poderei nunca vir a ter:
Eu quero estar contigo e segurar-te no cabelo sempre que vomitares durante os enjoos do 1º trimestre de gravidez.
Eu quero receber um telefonema e ouvir-te a dizer que achas que já sentiste o bebé a mexer. Ou, então, que eram gazes.
Eu quero ir ter a tua casa quando já estiveres farta da barriga, e confortar-te, aliviar-te das dores de cabeça, ajudar-te a pôr as pernas para cima, e fazer-te uma sandwiche mágica de queijo, e tudo o que um final de gravidez merece.
Eu quero ir à tua festa de anos se for convidada, e quero respeitar a tua decisão se não me convidares.
Eu quero ajudar-te a acreditar que o teu corpo vai conseguir reagir bem ao parto, independentemente das tuas opções de parto, e da forma como o bebé venha a nascer.
Eu quero ajudar-te a amamentares o teu bebé (se assim o quiseres) e dar-te o espaço que precisares para descobrires o teu ritmo.
Eu quero preparar-te as refeições, e limpar-te a casa. Quero que fiques a descansar com o teu bebé, os dias ou semanas que precisares, sem teres de te preocupar com tarefas domésticas.
Eu quero que me mandes embora quando quiseres.
Eu quero ver-te a apaixonares-te pelo teu bebé, como eu me apaixonei por ti.
Eu quero estar lá para te apoiar quando sentires que o teu mundo está a desmoronar-se e que o teu “velho eu” está de rastos no chão, tal como a roupa suja que acumulaste.
Eu quero dizer-te que sentires-te assim é normal, quero que saibas o quão bonita estás com o teu bebé, mesmo sem maquilhagem e com esse rabo de cavalo meio desmanchado.
Eu quero sentir a tua coragem, a tua sabedoria, e a tua força – qualidades que tu tens, mas ainda não sabes.
Eu quero rever-me em ti, quero rever a minha mãe em ti, e todas as gerações de mães e mulheres, nos teus maravilhosos olhos cansados.
Eu quero ver-te a dormir, com o teu bebé enroscado ao teu lado como se fosse uma virgula.
Eu quero estar lá e ver-vos a respirar tranquilamente.
Os meus dois filhos descendem de uma linha de pais sensíveis e presentes. O meu pai, o pai deles, e o pai do meu marido. Estes homens choraram quando os seus filhos nasceram. E não hesitariam em deixar um dos seus bebés a dormir metade da noite no seu caloroso colo de pai.
Se os meus filhos algum dia tiverem filhos (por favor, pelo menos um dos dois que tenha!) eu sei que irei ficar de lágrimas nos olhos a primeira vez que pegarem nos seus recém-nascidos ao colo, e que iremos ter uma relação diferente a partir do momento em que se tornarem pais. E com sorte, pode ser que tenham escolhido mães para os seus filhos que me deixem envolver um pouco no processo de maternidade.
Mas não posso negar, que será sempre um desejo meu – uma dor adormecida – partilhar a entrada na maternidade com uma filha minha.
Wendy Wisner publicado em Scary Mommy,
traduzido e adaptado por Up To Kids®
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2 comentários
Uau, nunca pensei nisto assim… e agora também fiquei meio “deprimida”! :s Tenho 3 rapazes…. três, acabou! O mais velho fala muito de ser pai (tem 7 anos), mesmo que mantenha este desejo, nunca será como se fosse uma filha……. como é que nunca pensei nisto! …ainda bem que nunca pensei nisto…. mas estou a apensar agora 🙁
(Adoro este site, é o único site de crónicas que vou acompanhando! Parabéns!)
Obrigada Teresa! <3