Educar dá trabalho.
O seu filho precisa mesmo de ser assim TÃO feliz?
Quando eu era criança, os pais esforçavam-se para sustentar as suas famílias e pouco mais. Com ostentação ou sem, as pessoas preocupavam-se mais com o trabalho do que em ser felizes. Os tempos mudam, e hoje em dia a principal preocupação dos pais é fazer os filhos felizes.
Isso explica os valores escandalosos que se paga hoje em dia por uma festa de aniversário, a quantidade de brinquedos que as crianças têm e a ida, quase obrigatória, à Disney em família.
Claro que existe a culpa de muitos pais que trabalham demais e tentam compensar os filhos de alguma forma. Mas reflexo da culpa ou não, as crianças de agora nasceram para ser felizes.
Será que estamos a agir corretamente?
Vamos pensar na nossa infância. Eu pelo menos, era muito feliz. Brincava com a minha amiga que morava na casa ao lado, passávamos horas a pentear o cabelo uma da outra, ou a fazer papas com as plantas do jardim. A maior aventura de que me recordo era brincar à apanhada com o meu cão.
Muito básico para si?
Acontece que meu cão se transformava numa puma que na verdade era uma Medusa, e com um simples olhar podia transformar-nos em pedras. Por isso estávamos sempre equipadas com frascos de shampoo que enchíamos de água e explodiam como granadas quando caiam ao chão.
Pois é, as crianças trazem a imaginação do berço.
Por isso não é preciso ir a Orlando ou Paris ver os espetáculos de fogos de artifício para ficarem maravilhadas. Aliás, cá entre nós, já estive na Disney 3 vezes (2 em Orlando e 1 em Paris) e nunca vi tantas crianças tristes num parque. Cansadas, a chorar, angustiadas, com as mães e os familiares stressados.
Claro, já viram o tamanho do Parque? E a quantidade de informação? E de sorrisos maquilhados, brilhos e purpurinas, e alegria explosiva? Somos humanos. Isto não é um filme. É a vida real. Não somos super heróis, nem princesas. O seu filho vai comer um cachorro naquela roullote linda com várias coisas a girar, e pode ser que passe mal. E depois? Ninguém pode passar mal na Disney! Têm de aproveitar. Têm de ser felizes.
Eu trabalhei para a Disney como tradutora durante 4 anos. Adoro a empresa e o negócio em si. Gosto de lá ir porque moro a 300Km de distância e temos o passe anual. Para nós, é um programa barato num lugar super organizado e bonito na maioria das vezes. Só estou a usar o exemplo porque sei que é uma viagem muito cara para se fazer do Brasil, mas isso não está a impedir cada vez mais brasileiros de fazerem. A minha pergunta usando este exemplo é: será que precisamos fazer tanto pelos nossos filhos? (Viagem de 8 horas de avião, filas intermináveis, Km e mais Km de parque de diversão) Eu suponho que não. E considero errado os pais sentirem que são responsáveis por fazer dos filhos, pessoas felizes.
De onde tiramos essa ideia maluca?
O que eles precisam na verdade é de adultos para educá-los.
E como adultos, é claro que, estamos ocupados. Com a família, com o trabalho, com as funções da casa. Se nesta lista se somar “a felicidade dos meus filhos” alguém vai ficar muito sobrecarregado e frustado. Talvez o seu filho, talvez você, talvez toda a gente. É chato tentar e não conseguir. Pense como se sentem os pais que pagaram a viagem em 6 prestações, passaram 8 horas no avião tipo sardinha em lata, se o filho sair das diversões aos gritos e a chorar?
Uma vez eu li o livro Encantador de Cães e fiquei fascinada com o raciocínio simples que o genial Cesar Millan escreve ali: ele diz que os cães só obedecem a quem respeitam. E para ganhar respeito, é preciso ser a autoridade, é preciso impôr ordem antes do amor. Agora tente trocar a palavra “cães” por “filhos”, vai dar ao mesmo. A autoridade é o contrário de democracia. Os pais não podem estar sempre abertos “o que querem comer?, o que vamos fazer hoje?, onde vamos passar as férias?”.
Compreende como é complicado para uma criança ouvir isso? Sentir que não existe uma ordem? Ela no auge dos seus 4 anos (ou por volta disso) é que precisa saber, querer e lidar com os seus desejos.
A nossa infância e a infância dos nossos filhos
Quando eu era criança, a minha mãe interrompia a brincadeira e trazia uma bandeja com limonada fresca e bolachas Maria. Lembro-me desta cena (que aconteceu várias vezes) e na minha memória, a minha mãe aparece iluminada como uma fada. O que eu sentia era: a mãe é mágica! Como é que a mãe sabe que estamos com fome e com sede? Teria sido bem diferente se tivesse aparecido e perguntado: querem lanchar? vão querer gelado ou podem ser bolachas Maria? Estava a pensar fazer uma limonada, vocês vão querer? Ou é melhor eu trazer um sumo de laranja?
Infelizmente não estou a escrever isto por já saber a lição. Ainda estou a aprender. E só estou escrever sobre isto porque descobri que tenho errado bastante. Desde que nos mudamos para Miami, fico com pena e compaixão por qualquer expressão de sofrimento que meus filhos tenham. Porque sei que é difícil para eles. E até me esqueço que é difícil, também, para mim. A minha vida mudou completamente. Mas nem penso nisso. Só penso neles.
A consequência? A minha filha de 4 anos todos os dias faz uma coisa para me irritar. Percebi que, também eu, a ando a irritar . E porquê? Porque estou disposta todos os dias a ouvi-la, e a tentar perceber o lado dela. Não parece errado a princípio. Mas está errado. As crianças precisam de um adulto, alguém que tenha um norte, e ela sente-se frustrada porque percebe que estou a tentar adaptar-me também. A vida é para evoluir. Vamos tentar evoluir como pais antes que eles cresçam. Imagine como deve ser frustrante a adolescência de uma criança que tem sempre várias pessoas a responder aos seus pedidos?
Educar dá trabalho
Educar dá mais trabalho do que não servir um gelado antes do jantar, só porque o seu filho queria tanto. E educar envolve mais compromisso do que pagar as 6 prestações da viagem mágica. Educar é para adultos. Deve ser por isso que as crianças não podem ter filhos. Porque os filhos precisam de adultos. Aparentemente este é o grande problema da minha geração, não queremos ser adultos. No outro dia vi um post sobre a crise dos 25 anos. Nem queria acreditar! A maioria das pessoas que conheço estão nessa crise aos 35 ou 40 anos. Está na hora de dar o passo. Parar de se focar só na diversão e na felicidade e evoluir, amadurecer. Todo o grande passo na vida acontece quando fazemos aquilo que é desconfortável.
Já aprendemos muito sobre diversão e entretenimento, que tal agora aprender a viver?
Por Cristina Leão, Blog Antes que eles Cresçam
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2 comentários
Olhem eu como pai e avô posso dizer. Sem modéstia que todo o cidadão precisa entender que veio a este mundo para ser feliz, em primeiro lugar. Precisamos primeiro entender isto e não fazer um paralelo com o passado ou com a educação que os nossos pais nos deu ou deixou, pois eles tiveram muito pouco sobre este assunto, as pessoas não entendiam a vida dessa forma. O que precisamos fazer, ensinar, educar nossos filhos e a entender a vida é o porque da vida. Não precisamos dramatizar as coisas nem levar tudo a sério. Existem coisas em demasia em tudo isto, mas não se preocupem, os jovens são inteligentes e o mundo mudou!
🙂