
O uso de dispositivos eletrónicos é benéfico ou prejudicial?
O uso de dispositivos eletrónicos é benéfico ou prejudicial?
Estímulos para que te quero.
Desde que fui mãe tenho tentado manter a máxima de não julgar os outros pais.
Cada pessoa sabe o que funciona melhor para si, dentro da informação que dispõe e da vontade que tem de agir conforme esta.
Ainda assim, fui tomando algumas decisões um pouco contra corrente nos dias que correm, nomeadamente no que toca à alimentação e à exposição da minha filha às novas tecnologias.
Durante o primeiro ano de vida não a sentei em frente a nenhum dispositivo eletrónico, não liguei tablets, não lhe dei telemóveis para a mão. Hoje, aos cinco anos, não brinca com o meu telemóvel, vê televisão ocasionalmente e não tem um tablet. Tem uma ligação saudável e (a meu ver) ajustada à idade no que toca aos dispositivos móveis, já jogou playstation e no telemóvel de outras pessoas, vê filmes e brincou com tablets, mas tudo com conta, peso e medida. Não pretendo que seja info-excluída, mas sempre tive vontade que vivesse o mundo, que sentisse o que está à sua volta, que brincasse naturalmente, que não tivesse vícios e ressacas de estímulos quando nós, os adultos, temos exatamente esse papel de estimular e devemos fazê-lo estando presentes, brincando, mostrando espaços, lugares, objetos, músicas, etc.
Este ano a Mariana começou a ter aulas de informática e de inglês.
Pelo menos uma vez por semana temos o hábito de ler uma história em inglês, ela gosta e vai aprendendo sem grandes pressões e vai habituando o ouvido a novas sonoridades e criando uma relação de harmonia com uma segunda língua.
No decorrer das aulas tem-me surpreendido com o que aprende, com o que percebe e com a felicidade que tem em partilhar isso mesmo. A professora oferece um autocolante no final da aula ao menino que conseguir dizer tudo em inglês, o que obviamente não é expectável ao fim de um mês de “aulas”. Mas a verdade é que há um menino que tem sempre o autocolante e acha as aulas de inglês “aborrecidas”. Não porque esteja habituado a ouvir músicas em inglês, não porque tenha familiares ingleses, não porque veja filmes da Disney na versão original, não porque lhe falem nessa língua. Pura e simplesmente desde que consegue segurar a cabeça vê vídeos no Youtube em inglês.
Não o conheci nessa altura mas quem conheceu diz que ainda algumas crianças mal falavam e já ele dizia muito cheio de si “broccolis!”, que era uma coisa que nem sequer comia. Assim aprendeu as cores, os animais, os números ainda antes de ser suposto uma criança preocupar-se com esse assunto.
Acredito que este tipo de exposição dê bagagem, como se vê, mas também retira alguma alegria da descoberta.
Prefiro mil vezes que a minha filha aprenda a ler na escola do que chegue a Junho e comece a ser bombardeada com exercícios e estratégias para chegar a Setembro já a saber ler 28 palavras com rapidez e eficiência. Não é suposto. É suposto os miúdos passarem pelas etapas com tranquilidade, sem as antecipar, é suposto encontrarem alegria em aprenderem coisas novas e não verem essa alegria roubada e substituída pela falta de entusiasmo e expectativa, e uma grande frustração.
Dispositivos eletrónicos e as crianças
Há uns tempos vi um documentário sobre tecnologias e as crianças (sabiam que até aos dois anos de idade as crianças devem receber um estímulo visual eletrónico nunca superior a dez minutos?) e um dos estudiosos e especialistas dizia que sim, uma criança que brinca com tablets conseguirá fazer construções de legos nos mesmos com facilidade e agilidade, mas quando confrontado com os legos na sua forma física enfrentará duas dificuldades: a motricidade pouco desenvolvida fará com que não consiga montar as peças com facilidade e haverá uma frustração por, ao conseguir encaixar as peças, não receber uma gratificação imediata (nos jogos muitas vezes em forma de som, estrelinhas brilhantes a piscar, etc).
A minha filha e eu brincamos muito, construímos muito, subimos às árvores e construímos castelos na areia.
Optámos por uma experiência diferente da que é vivida por alguns amigos, mas acredito que, enquanto pais, devemos ponderar os benefícios a longo prazo.
O colega da minha filha, por exemplo, nas festas de aniversário ao ar livre escolhe não brincar. Não quer, não gosta, não tem vontade e não descansa enquanto a mãe não lhe dá o telemóvel para a mão. E depois usa o telemóvel como chamariz dos restantes colegas que se sentam à sua volta como se ele segurasse a tocha olímpica ????.
Vale o que vale, talvez mesmo sem o telemóvel esta criança fosse menos propícia a brincar, a conseguir desenvolver algumas capacidades sociais, é certo. Mas acredito que temos o dever de ensinar os nossos filhos a levantarem os olhos. Quer dos tablets, quer dos seus umbigos.
Para se relacionarem de forma saudável com quem os rodeia. Conhecerem os outros e se darem a conhecer como conseguirem.
Para verem o mundo à sua volta.
E como é bonito este nosso mundo.
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!
Verdadinha
Gostei muito
Continua a educar assim
😉