O que eu me ri ao ler “Mãe do Ruca, odeio-te!”. A sério. Partilhei com amigas, li em voz alta ao meu marido e ri-me de novo sozinha. Obrigada Susana Almeida.
Ao ler alguns dos comentários que foram feitos ao texto percebi que muitas pessoas se identificam totalmente com a autora, outras ainda acrescentam aspectos da vida “animada” da mãe do Ruca sobre os quais eu nunca tinha reflectido e outras até discordam por achar que a senhora mãe é um óptimo exemplo a seguir. Todas me fizeram pensar, por isso, obrigada.
No meu caso, ainda que me identifique com o incómodo que a mãe do Ruca me traz, há uma coisa que me preocupa e com a qual me debato pessoalmente e que tem sido a base para os artigos que escrevo no meu blog. Para a minha vida pessoal nos últimos sete ou oito anos e até para o trabalho que desenvolvo com os meus alunos para que, em pequenos grupos de conversação nas aulas de inglês na escola que criei, consigamos vencer em cada aula o veneno da comparação.
Que maravilha, pensei, será o momento em que a nossa comparação pela positiva ou pela negativa com a mãe do Ruca não fica cravada nos nossos corações mais do que três ou quatro minutos. E que depois avançamos totalmente confiantes naquilo que somos. Imperfeitas e verdadeiras mulheres. Aqui não me refiro a uma falsa confiança super à defesa atrás da qual nos escondemos para nos sentirmos seguras. Mas de uma confiança que vem de estarmos alegres na nossa pele. A isto voltarei um pouco mais à frente porque penso que é importante.
Pessoalmente, posso dizer que nada me é mais difícil do que isto. Cedo aprendi a comparar-me. E agora como mãe da bebé Joana percebi que em nenhuma fase nos comparamos com outras mulheres e os outros nos comparam mais do que quando somos mães. Tantas expectativas, tantos modelos, visões, opiniões que por vezes só me fazem apetecer ir viver para uma ilha bem longe.
No meu percurso pessoal para acabar com este veneno e poder viver aqui e agora no meio das pessoas, recusando-me jamais a esconder-me por trás de ideias da vida que culpam tudo e todos pelas minhas inseguranças, uma das pessoas em que me tenho apoiado é a autora norte-americana Brené Brown. Recentemente estes dois textos ajudaram-me a reposicionar-me de novo nesta história da competição.
Em relação ao vários temas que ela aborda, o que aqui mais me interessa referir é o facto de defender que apontamos o dedo crítico às pessoas nas áreas da vida delas sobre as quais nos sentimos nós mesmos mais fracos. Aqui entra a história da mãe do Ruca e o ponto que referi antes sobre sermos sinceras connosco. De não usarmos de uma falsa confiança. Penso que vivemos tempos em que a sinceridade de sabermos porque fazemos o que fazemos é difícil. A Brené Brown sugere-nos perguntas de sinceridade interior que exigem uma pausa. Uma pausa que me tem ajudado bastante a não me esconder por trás da máscara de comentários como “ah, mas eu também não queria ser como ela”.
Que venha o dia em que abraçamos a mãe do Ruca, a mulher que se irrita com o filho no supermercado e todas as outras com quem nos comparamos. Contentes com quem somos e apoiando a mãe diferente de nós que está ao nosso lado. Porque – e agora muito sinceramente – todas as mães que conheço desde que nasci se queixam de alguém que as criticou ou que comentou a forma como educaram e como se sentiram magoadas com isso. Mas quase nenhuma vi depois a não repetir a proeza com a mãe que vem a seguir. Vou tentar, quero mesmo tentar. Porque isto dói.
Por Ana Calha, Blog Prá Vida Real
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