Eu cresci a ouvir falar de guerra na história de Portugal e do Mundo.
Cresci com a ideia de que foi algo hediondo. Tremia só de pensar que ela podia existir. E ela aconteceu! Entrava eu na adolescência e a guerra chegava-me a casa através da televisão, com os diretos da RTP no Kuwait. Ainda hoje sinto o arrepio na pele e o aperto no coração da altura.
Era longe, mas ao mesmo tempo parecia tão perto.
Habituei-me. Eu e todos.
Da guerra do Iraque às informações diárias dos confrontos no Médio Oriente e do conflito na Rússia, no meu dia-a-dia, a guerra passou a existir… mas longe, distante da minha vivência.
De repente, em 2001 uma nova realidade da guerra: o terrorismo.
Assaltou a minha vida! Deixou-me sem chão. Sem palavras. Apenas com memórias que guardarei para sempre.
O terrorismo passou a fazer parte da minha, das nossas vidas.
Quantas vezes a vontade de ser mãe e o receio de trazer um filho a este Mundo, cada vez mais inflamado, se digladiaram dentro de mim.
Ganhou a vida!
Fui mãe, uma primeira vez, e senti que talvez não fosse assim tão mau trazer um filho a este Mundo de loucos e dou por mim a ser mãe de uma menina de oito anos. Cheia de sonhos, de vontades, mas consciente de um Mundo com o qual não cresci.
Se para mim foi difícil aceitar que a guerra estava de novo a acontecer, para a minha filha, para os nossos filhos, os conflitos e o extremismo faz parte do dia-a-dia.
Mas não se tornou banal. Tornou-se ainda mais real. Saiu das histórias e dos livros da escola. Passou a fazer parte da informação diária. Os nossos filhos (gostemos ou não) têm a noção de que a guerra se passa perto (porque hoje um avião resolve tudo em pouco tempo) e que é real.
Se os faz acomodar?
Não! Fá-los querer um Mundo ainda melhor do que aquele que desejámos para eles.
Acredito que crescerem com a noção de que a guerra existe, que os refugiados são uma realidade… e acima de tudo, que esta vivência não é ficção, fará deles seres humanos mais desejosos do bem.
Acredito que grande parte da geração da minha filha lutará ainda mais pela Paz, pela igualdade e pela justiça humana do que alguma vez a minha lutará. Porque para eles pode existir o comodismo dos pais benevolentes e menos castradores, do que outrora, mas não existe um Mundo. E esse Mundo será a conquista da sua geração, pelo conhecimento, pela vivência e pela vontade que terão de ao partir desta vida deixar um Mundo melhor do que aquele que os recebeu.
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