Já estive do outro lado, do lado infeliz, do lado cansado… ao mesmo tempo que, por uns minutos, tinha laivos do lado feliz da maternidade. Esta mudança deveu-se muito a dormir melhor, mas também a tratar da minha ansiedade e a voltar a trabalhar.
Coisas que noto em mim, agora que está tudo mais calmo:
(não sei quanto tempo durará, mas sei que não será assim sempre e para sempre)
- Quando a Irene me chama de manhã para acordar, vou cheia de vontade de a ver e entro no quarto com alegria e a brincar com ela e cheia de vontade de a mimar. – Dantes entrava triste, cabisbaixa, sem lhe passar alegria nenhuma por estar tão cansada e até zangada por ter sido acordada.
- Consigo arranjar estratégias mais criativas para contornar problemas temperamentais. Dantes, assim que ela me dissesse que não queria trocar a fralda (assim que acorda), ficava logo enervada. Agora, brinco e lá se muda a fralda até de uma maneira divertida.
- Tenho mais vontade de a integrar nas minhas tarefas. Em vez de a privar de ver a mãe a cozinhar (como se eu cozinhasse) ou a maquilhar-se, tenho vontade de lhe mostrar o que são batons, as cores, etc. Dantes ela ficaria excluída e dir-lhe-ia só “isto é dos crescidos“.
- Preparo-lhe os lanchinhos (e para mim também). Ontem lavei e cortei os morangos todos para, sempre que ela quiser, ser só servir.
- Presto mais atenção aos detalhes dela. Às vezes ela anda com as unhas mais tortas ou com o cabelo menos penteado ou, quando vamos à rua, visto-lhe a primeira coisa que me aparece à frente. Agora, até as unhas limei, tive finalmente paciência para inventar uma brincadeira para lhe conseguir secar o cabelo, ponho-lhe creminho da cara na cara, faço-lhe massagens nos pés depois do banho e escolho com imenso gosto e carinho a roupa que ela vai usar (se depois resulta, isso é outra coisa).
- Menos ipad e mais livros. Estou mais disponível para lhe dar de comer e para lhe contar histórias e ler coisas que impliquem paciência e não a despacho para o ipad.
- Mais dança! Mais vontade de por música a tocar, inventar coreografias, mais actividade física.
- Mais gosto em adormecê-la. Adormecê-la deixou de ser uma tortura e passou a ser um momento maravilhoso em que contemplo e saboreio e depois sinto um prazer enorme em que ela se “entregue ao sono” por se sentir protegida pela mãe que está ali ao lado dela.
- Mais carinho físico. Acaricio-a mais vezes, dou-lhe mais mimos, olho mais para ela, sorrimos mais juntas. Há mais silêncio.
- Maior vontade de fazer planos diferentes. Principalmente agora que o tempo não tem estado grande espingarda, apetece-me ensiná-la a descascar a banana para os bolos, a mexer nos ovos cozidos, a experimentar aulas de natação (ainda tenho de ir ver disto).
- Vejo-a mais como ela é e o crescimento dela. O tempo abranda um bocadinho e consigo vê-la a crescer, que qualidades tem, como será a personalidade dela…
Isto tudo para vos dizer: se tiverem algo que vos esteja a impedir de serem felizes, resolvam! Ajam! Cada dia que passa é mais um que poderia ter sido muito mais fabuloso. E o bom disto é que, assim que descubramos como é bom quando as coisas correm assim, não queremos outra coisa e facilmente voltamos ao nosso equilíbrio.
Assim, sim!