
Não ter o que dar de comer aos filhos
Conheci-a à saída do supermercado.
Perguntou-me se queria comprar um marcador de livros. Era um trabalho notável e fiquei a saber que era seu.
Tem trinta e dois anos e está desempregada. Sem direito a qualquer apoio, faz o que pode para levar dinheiro para casa. O seu passado como ilustradora deu-lhe a ideia de desenhar pequenas peças, baratas, porque sabe que a vida está complicada para toda a gente. É bonita mas ainda fica mais bonita quando fala dos filhos.
É por eles que está ali. Quer trabalhar, que ser útil, mas acima de tudo, tem de ganhar dinheiro. Tem contas para pagar e filhos para alimentar.
Não quer levar os filhos à Disney nem comprar-lhe ténis de marca. Quer alimentá-los, que o resto, garante ela, arranja-se.
Perguntei-lhe se preferia dinheiro ou comida. Respondeu prontamente que comida, um pão que fosse.
Trouxe-lhe fruta, pão e carne. Ficou emocionada: “o Miguel gosta tanto de bananas, sabe? Tanto que, sabendo que não as pode comer sempre, quando há dou com ele a comer só metade. Guarda para a refeição seguinte. Acho isso muito bonito, mas fiquei de coração cheio quando o vi a dar a outra metade à irmã. Eles podem não ter muito mas têm-se um ao outro. Têm-me a mim e ao pai. E isso não há crise nenhuma que dê cabo”.
Emocionou-me a mim. Dei-lhe o que tinha ali e ela deu-me muito mais que isso. Deu-me em que pensar. Deu-me razões para agradecer ainda mais, para repensar o que é importante.
Não sei o que é não ter o que dar de comer a um filho.
Não quero saber mas fico, a cada dia que passa, impressionada com a força que existe dentro de nós.
Aquelas crianças levam, do seu crescimento, uma lição de vida. Uns pais que admirarão e com quem aprendem, todos os dias, aquilo que realmente importa.
Perdemos tempo. Perdemos demasiado tempo. Ficamos frustrados e queremos mais coisas do que as que precisamos para ser felizes. Passamos essa frustração aos nossos filhos, a maior parte das vezes involuntariamente.
Todos temos dificuldades nas nossas vidas. Fazem parte dela, ajudam-nos a crescer, a aprender, a melhorar. Acredito que, mais tarde ou mais cedo, as iremos ultrapassar.
Como me disse aquela mãe, se nos temos uns aos outros, a maior riqueza já é nossa.
Temos de nos lembrar disso mais vezes.
Por Marta Coelho, para Up To Kids®
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Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!
A autora Marta Coelho pediu-nos que reencaminhássemos a sua resposta, pois não está a conseguir responder diretamente. Aqui fica:
– “Fico muito contente com a solidariedade que encontrei, mas infelizmente não fiquei com nenhum dado da rapariga e como não guardei nada do trabalho dela para que pudesse vender a outras pessoas não sei como chegar a ela. Este episódio aconteceu há três semanas no Pingo Doce do Lumiar mas não voltei a vê-la, tenho a sensação que vai estando onde pensa conseguir chegar a várias pessoas.”
Marta Coelho
Gostava de ajudar esta mãe. Como o posso fazer?
Olá boa tarde,
Fico sempre muito impressionada e emocionada com estas histórias de vida.
Sem me querer intrometer, não sei se é possível dizer em qual supermercado encontrou esta mãe?
Trabalho na área e no mínimo poderei entregar o seu portfolio aqui na empresa.
Um grande bem haja
Sofia Marques
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