Um dos meus filhos adolescentes chegou da sua primeira saída à noite a dois. Sentou-se no sofá, tirou os sapatos e contou-me… basicamente tudo! Sem grandes pormenores, graças a Deus. Mas o suficiente para ficar a saber que hoje deu o seu primeiro beijo.
Conversamos imenso, e acabou por me contar que ainda não se sente preparado para ter relações sexuais. Depois de lhe ter dado alguns conselhos sobre preservativos, que eu sei que nunca ninguém os dá até ser tarde demais, levantou-se e foi comer qualquer coisa.
Passado um bocado, a minha filha adolescente veio contar-me que a sua melhor amiga de infância, agora anda com um grupo de miúdos que fumam erva. Aparentemente, a festa de anos da amiga era uma fogueira na praia e todos a fumar ganzas à volta. Apesar de comentar comigo que acha uma estupidez miúdos de 14 anos andarem a fumar droga, ainda se questionou porque é que a amiga não a convidou para a festa. Sentiu-se excluída.
Um pouco mais tarde, os meus três filhos adolescentes sentaram-se comigo a comentar uma situação actual de vida de um amigo em comum que os está a preocupar por poder vir a ter dimensões que colocam em risco a sua segurança.
Após ter conseguido, finalmente, tirar toda gente do meu quarto, fiquei a repensar nos acontecimentos desta noite. Sexo, drogas, relações interpessoais… e conclui que, acho que nunca me senti tão orgulhosa dos meus três filhos como hoje.
Adeus gráficos de autocolantes!
Eu não sou perita nesta coisa da parentalidade. Eu segui a educação que me foi dada, a abordagem da minha mãe, simplesmente porque me era natural e aparentemente correta. Mas conforme os meus filhos foram crescendo e eu fui crescendo com eles, essa abordagem evoluiu.
Originalmente eu tinha muitas regras, recompensas, gráficos com autocolantes e até castigos. Os meus filhos sempre se portaram bastante bem, e por isso eu achei que era uma mãe espectacular. Um dia tornaram-se pré-adolescentes e começaram a contar-me aqueles disparates que tinham feito às escondidas, na altura que eu achava que cumpriam sempre as regras. Trepar pelas janelas e andar no telhado para passarem de um quarto para o outro (só para fugirem a um castigo) foi aquilo que me fez repensar tudo. Se os meus filhos conseguiram fugir pela janela, sem que eu ou o meu ex-híper-vigilante-marido nos apercebêssemos, era óbvio que controlar em pleno o comportamento dos meus filhos não estava funcionar.
Acabaram-se os limites.
Uma vez que não sou fã de perder tempo, resolvi experimentar uma nova estratégia. Abandonei todas as regras em minha casa excepto algumas básicas que ficaram definidas em reunião de família. Retirei todos os limites às tecnologias. Comprei-lhes smartphones. Não fiz qualquer esforço para controlar o comportamento deles on-line. Retirei-me enquanto pessoa que detém o poder e tentei criar um novo papel de líder mais envolvida. Deixei de dar tantos sermões e passei a escuta-los mais. E continuei a falar com eles sobre tudo, desde qualquer coisa que vi nas redes sociais e que me comoveu às notícias dos jornais. Quando algum tema me preocupava, passei a falar com eles sobre o assunto em vez de criar uma regra para controlar o problema.
Já passaram dois anos desde que mudei drasticamente a minha abordagem enquanto mãe. Ao longo do tempo, assumi os meus próprios limites – aquilo que estava disposta a aceitar dos meus filhos e tornei-os muito claros. Pode não haver muitas regras em minha casa, mas não aceito que me desrespeitem. Com sentido de humor, vamos aliviando as tensões.
Sugerir os filhos como amigos dos nossos amigos no Facebook
Ultimamente vi uma série de artigos e posts nas redes sociais sobre a necessidade de monitorizar o comportamento dos filhos adolescentes, especialmente online. Um amigo postou qualquer coisa sobre o tema, e os seus amigos sugeriram que se reencaminhasse o e-mail dos filhos para o nosso, pois desta forma poderiamos ver os comentários dos amigos dos amigos dos amigos e perceber com que tipo de miúdos os nossos miúdos andavam a interagir. Uma mãe dizia que lê os sms do seu filho todas as noites. Outra tem instalado software que monitoriza tudo o que o filho faz na net.
Quando me deparo com este tipo de comportamento entre os pais, eu questiono-me desde quando é que perseguir os filhos se tornou um comportamento aceitável. Perseguir um adulto é crime. Eu não percebo como é que perseguir uma criança pode ser considerado positivo e ser aceite em nome da “boa ”parentalidade.
Uma boa maneira de perder a confiança dos seus filhos
Pergunto-me qual o objetivo de tudo isto. É proteger os miúdos dos perigos? É garantir que não irão cometer erros? Em qualquer um dos casos parece-me que este comportamento está projectado para desenvolver ressentimentos, falta de confiança e de honestidade. Imaginem como é que se sentiam se as pessoas em quem confiam lhe exigissem cópias daquilo que faz no seu telemóvel diariamente.
Os miúdos também precisam de privacidade e autonomia. A adolescência é a fase em que os filhos devem começar a tomar decisões, a abrir as asas e… cometer erros! Os mesmos erros que todos os adolescentes cometem há décadas. Em nome do ser humano, imperfeito que erra, aprende e cresce.
Pecar por excesso de confiança
Eu dei aos meus filhos toda a liberdade que considero que poderia dar. No passado, pequei por excesso de zelo. Agora, peco por excesso de confiança. Não por achar que eles nunca vão fazer asneira, mas porque prefiro que tenham a liberdade de errar enquanto têm o seu porto seguro na nossa casa.
Às vezes abano a cabeça quando me contam os disparates que fizeram. Mas porque lhes dei confiança para fazerem as suas próprias escolhas, aprenderam a confiar em si próprios e nas suas opções. Aos 16 anos, por exemplo, o meu filho mais velho ainda não que aprender a conduzir. Ele prefere andar de transportes públicos, e esperar até se sentir mais responsável e confiante.
Eu sei que os meus filhos não vão fazer as escolhas “certas” em todas as situações, como aconteceu esta noite. Eventualmente vão escolher ter relações sexuais cedo demais e fumar erva. E tendo em conta que 99% dos adultos que conheço fizeram estas duas escolhas, eu acredito que os meus filhos vão ficar bem.
Há umas semanas atrás desamiguei os meus filhos do FB. Apercebi-me que, sendo amiga deles, não podia postar tudo livremente. Eles ficaram em choque com a minha decisão, e quase em uníssono disseram “ Mas e agora como é que vamos saber tudo o que se passa na vida da mãe?”
É simples, disse-lhes. Perguntem-me!
Por Jody Allard, publicado em Free–Range Kids
Autorizado por Lenore Skenazy, Author of the book, blog and Twitter feed, Free–Range Kids
Traduzido e adaptado por Up To Kids®, Todos os direitos reservados.
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