Mãe cansada
Pura e simplesmente Mãe. Mãe cansada.
Ontem à noite o meu filho de 4 anos foi para a minha cama.
Dormiu lindamente.
Eu não dormi, claro. Dormir com um miúdo de 4 anos é como dormir com uns ponteiros de relógio. À medida que a noite avançava, acordava inevitavelmente com um pé na cara, depois uma mão, e passado uma hora outra vez os pés!
Acordei cansada. Aliás, mais do que cansada, acordei de rastos.
Ele acordou feliz.
“Adoro-te mãe!”
Ele não tem noção de quão cansada eu fico por ele vir dormir comigo, nem como ficam as minhas costas, e que na verdade quando acordamos eu só queria dormir mais cinco minutos.
Ele só fica grato e feliz por olhar para mim.
E tu? Também és uma Super Mãe cansada?
Acordas a desejar que o dia tivesse mais horas? Fazes tudo até à exaustão extrapondo aquilo que julgavas ser os teus limites?
Trabalhas? Lidas com miúdos que passam a vida a discutir sobre de quem é a vez de jogar? Questionas-te se aquilo que fazes diariamente faz ou não a diferença na tua família? Estás farta de viver diariamente a mesma rotina?
Às vezes ser mãe significa, simplesmente, estar sempre cansada.
Às vezes ser mãe significa sentir um vazio de solidão. Como se ninguém se apercebesse daquilo que fazes. Do teu trabalho “invisível”. Na verdade ninguém sabe que eu dormi uns sólidos 43.7 minutos de sono a noite passada, a não ser vocês, e porque eu escrevi aqui.
A maternidade é tão entregue a si própria e tão fechada nas nossas casas que é geralmente subvalorizada.
Nós trabalhamos. Nós passamos o dia a cozinhar, e às vezes pratos diferentes para as idades diferentes dos filhos. Às vezes cozinhamos mais que uma vez o mesmo prato porque deixamos queimar o primeiro.
Apanhamos pequenos brinquedos e peças de lego do chão, e perguntamo-nos de onde vem tanta coisa. Dobramos toalhas, emparelhamos meias, marcamos consultas e falamos com os médicos. Limpamos impressões digitais das paredes. Primeiro com um toalhete, e se não sair vai de esponja mágica, ou detergente em spray.
Lavamos caras e mãos pegajosas (também pode ser primeiro com um toalhete para disfarçar), ajudamo-los com os TPC, arrumamos a cozinha, limpamos o micro-ondas depois de um miúdo de 9 anos aquecer qualquer coisa durante tempo de mais. Saímos para trabalhar, voltamos do emprego, apanhamos miúdos no colégio, trabalhamos em casa, somos mães todo o dia, fazemos tudo o que nos compete, e depois vamos para a cama dormir.
Podem sempre argumentar que a maternidade é assim, e que ao longo dos tempos todas as mães fizeram isto.
Mas sabem que mais? Pois fizemos. Desde o princípio dos tempos, as mães sempre se levantaram de manhã, tiveram de lidar com os assuntos dos seus filhos, com problemas financeiros, com problemas das escolas, problemas de saúde, e por aí fora.
Mas lá porque sempre foi assim, não significa que a maternidade não seja honrada e celebrada.
A Maternidade e a paternidade são algo extraordinário. Não são só arco-íris e dias de sol, e póneis cor-de-rosa a saltar de mãos dadas nas nuvens. É algo real, que acarta muita responsabilidade e que é diariamente difícil e desafiante. Pequenas coisas que achávamos não valorizar muito, podem por vezes levar-nos aos limites – basta meter um filho nosso ao barulho. Como é que uma “coisa” que que nos dá tantas alegrias e nos pões constantemente de sorriso na cara a soltar umas gargalhadas parvas do nada, de repente nos faz querer arrancar o cabelo da própria cabeça?
Saímos de casa de manhã para ir trabalhar. Fazer aquilo que somos. Sorrimos para outras mães da pré-escola e pedimos os nossos cafés cheios ou pingados ou como gostamos de tomá-los e sorrimos. Pegamos no carro ou vamos de transportes para o nosso local de trabalho e cruzamo-nos com outras mães com crianças e sorrimos.
A questão é: não estás sozinha. Ouviste? Não. Estás. So – zi – nha.
As outras mães no pré-escolar, no café, nos transportes, no supermercado, nas consultas médicas, em todo o lado que andas e passas podem estar tão cansadas como tu. A questionarem-se sobre a maternidade. E no entanto, a fazer das tripas coração pelos seus filhos.
Então, hoje eu levanto-me para homenagear todas as mães cansadas e no entanto fantásticas na maternidade.
A mãe que sofre de privação de sono.
A mãe que precisa de ser encorajada.
A mãe que trabalha, e trabalha, e trabalha para a sua família e no entanto ninguém dá valor.
A mãe com 3 crianças com menos de 4 anos.
A mãe do recém-nascido que não que comer ou dormir.
A mãe dos adolescentes que fica acordada até tarde à espera que cheguem.
A Ti mãe. Pura e simplesmente Mãe. Mãe Cansada.
A maternidade é uma viagem dos bravos. Sempre foi um acto de bravura criar crianças independentes que esticam os limites, que nos derretem o coração e que amaremos para sempre mesmo quando nos levam à loucura.
Porque é isto que andamos a fazer. Mesmo nos dias mais cansativos.
Tu. A mãe incrível, brava, poderosa, que sofre de privação de sono, fantástica e cool, andas a criar Humanos.
Haverá algo mais importante e gratificante no planeta?
Aliás, quem precisa de dormir, certo?
(Hoje o melhor é pedir logo dois cafés e beber de penalty….)
imagem@tumbrl
Por Rachel M. Martin, no blog Findingjoy, publicado por Huffingtonepost
Autorizado para, traduzido e adaptado por Up To Kids®
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11 comentários
Entretanto os anos passam a voar, continuamos a ser mães mas com preocupações diferentes e passamos a ter saudades dos tempos em que dormíamos mal, muito poucas horas e andávamos a correr – de casa para o trabalho e vice-versa. Ajudar nos trabalhos de casa, etc. Eu lembro-me de me levantar diariamente às 6H00 para preparar almoço para a escola para os meus 3 filhos (entre a mais nova e mais velha há uma diferença de 4 anos) porque nunca queria enviar o menu do jantar de véspera (que eu comia) para que eles diversificassem o tipo de alimentação…. Era chegar a casa às 19H00, descalçar os sapatos/botas de salto alto, enfiar uns mais confortáveis, por um avental e ir directamente para a cozinha para fazer o jantar, enquanto os filhos se sentavam na mesa ali ao pé de mim a fazer os trabalhos de casa. Quando era matemática tinha de ser o pai. Fui sempre uma nulidade…. Mas acreditem, jovens mães, que olhando para trás, esse tempo passou a correr e tenho saudades de ter o meu “ranchinho” ali reunido ao jantar. Era o nosso ponto alto do dia em que cada um contava as “peripécias” da escola. Não havia televisão ligada nem sequer tinha aparecido o telemóvel…. Foram tempos trabalhosos mas que cimentou a grande cumplicidade que hoje temos e agora já cada filho construiu a sua família – a sua nova família – mas da qual sentimos que fazemos um bocadinho parte através dos netos – o nosso grande orgulho. Por isso, querem um conselho? Segundo o escrito Erich Maria Remark “há tempo para amar e tempo para morrer”. Amem muito e agarrem esta maravilhosa época em que os filhos estão convosco. É que sabem??? Não vai nunca mais voltar e depois terão todo o tempo para descansar. Esta é uma dica de uma feliz avó de 13 netos!
Sou uma mãe cansada também…. Sou mãe de 3 crianças pequenas, com diferentes exigências. Sou mãe trabalhadora, dentro e fora de casa, e bebi cada palavra deste texto porque é o espelho da minha alma…
Obrigada:)
Sou uma mãe cansada também…. Sou mãe de 3 crianças pequenas, com diferentes exigências. Sou mãe trabalhadora, dentro e fora de casa, e bebi cada palavra deste texto porque é o espelho da minha alma…
Obrigada:)
Obrigada 🙂
Hoje gostei particularmente do artigo, soube bem lê-lo. Vi-me em quase todas as palavras e repito, soube bem como se de um chocolate quente num dia de frio se tratasse.
🙂
e mesmo assim, ainda somos Mulher! O Eu manifesta-se abertamente e ainda tens tempo para passar lápis nos olhos e o batom hidratante com uma leveza na cor…. entramos no elevador carregadas de mochilas e lancheiras e, enquanto descansamos uns breves instantes em frente ao espelho do elevador, alguém pequeno de sorriso rasgado e com orgulho diz: Estás tão linda, mamã!
Obrigada 🙂