E se vos disser que tenho algum receio de viver neste mundo?
Perante as noticias tenebrosas e incompreensíveis que nos dão conta de um tempo em que tudo é permissivo, em que a educação está em perigo, em que os valores são esquecidos, em que pais matam filhos e filhos matam pais, em que os comportamentos humanos ultrapassam qualquer compreensão, onde os limites foram há muito ultrapassados, eu penso e questiono-me acerca dos factores que conduziram a este caos.
E gostaria de me focar sobre uma temática, que penso ser contundente e intemporal pois é nela que as crianças dão os primeiros passos na sua socialização: a Família!
SER Família não engloba, somente, a tradicional célula física.
Não está restringido ao espaço co-habitado ou ainda à união por laços sanguíneos, é muito mais que isso.
Na minha opinião, SER Família é sentir-se parte de um projecto que não é meu, mas NOSSO. Um caminhar paralelo e progressivo onde cada dia é necessário (re)construir a dinâmica familiar, (re)adaptar as alterações da constituição familiar, às perdas que nos mutilam, aos que entram. Porque uma família está em permanente construção. Não importa onde estamos na Família, mas sim o lugar que Ela ocupa em cada um de nós.
Precisamos identificar o nosso lugar e deixarmo-nos impregnar por esse espírito de pertença e numa dádiva bilateral, permitirmos que a Família ocupe um lugar em nós.
Família pressupõe ser o sustentáculo da vida, onde os condimentos deverão ser amor, amizade, companheirismo, união, compromisso e cumplicidade.
Mas não podemos esquecer que a Família também é frágil e não é lugar só de paz. É também lugar de desavença, de conflito, de discussão.
Mas apesar dos pontos de vista diferenciados existe um compromisso assumido de ligação, de “abraço” em função de um bem superior. O vínculo afectivo para o qual as ferramentas do diálogo, da perseverança, do querer estar, do olhar o outro com empatia, permitem que cada um na sua individualidade fortaleça a sua ligação através das suas escolhas e dos seus compromissos.
Partindo sempre da plataforma do respeito e do afecto, porque ambos caminham de mãos dadas.
É na afectividade, envolvidas na cápsula do amor, que as crianças moldam a sua personalidade e desenvolvem o seu crescimento cognitivo.
Com base nesta premissa, a família deverá ser o porto de abrigo, o colo, o “livro” onde tudo aprendemos, a orientação, o perdão, o incentivo.
Mas será que é esse espírito que as crianças encontram na Família?
Ou por outro lado, cada vez mais as crianças sentem que o espírito familiar apenas “acorda” em algumas épocas do ano, como por exemplo o Natal? E assim sendo, será justo enganarmos as crianças?
É verdade que tudo está em constante mudança e as famílias não são excepção. As de hoje, deparam-se com problemáticas que eclodem sem aviso prévio, como o desemprego, patologias, ausência de tempo, alteração nas dinâmicas e outras, exigindo uma responsabilidade acrescida por parte dos adultos para com as crianças, xplicando, incentivando e praticando a tempo inteiro o espírito de Família.
É URGENTE demonstrar às crianças que a Família é real e não existe apenas nos livros de histórias.
Para isso é necessário que, os adultos se apetrechem desse sentir, porque para se TER uma Família é necessário SER Família!