“Mas também sou a mãe que desatou a chorar a primeira vez que o deixou de férias em casa da avó. Que dança e canta com eles como se ninguém estivesse a ver. Que lhes diz todas as noites que os adora.”
Eu sou a mãe que o pôs na creche com 3 meses.
Sou a mãe que esperava 10 segundos antes de ir a correr ver o que queriam.
A que fingia que não via quando ele caía no parque.
A que ignorava o menino que se metia com ele.
A que nunca pôs mais de 4 canais na única TV de casa.
A que não permite que o computador e o tablet sejam usados nos seus quartos.
Sou a mãe que nega prendas fora do Natal, aniversário ou dia da criança.
A que acha que a fada dos dentes só dá prenda nos 2 primeiros dentes.
A que só lhes dá doces no fim de semana e nas festas.
A que faz comidas que não gostaram antes para que se habituem aos sabores.
A que não os obriga a comer.
A que já a deixou ficar sem jantar e não lhe deu mais nada para comer até à manhã seguinte.
Sou a mãe que não carrega as mochilas deles.
A que lhes dá sacos de compras para levarem para casa.
A que não o leva à escola mesmo que esteja em casa.
A que não lhe dá beijos à porta da escola.
A que não lhe ajeita a camisola na rua.
Eu sou a mãe que não lhes faz as camas.
Que não arruma os seus quartos. Que não dobra as roupas deles nem as arruma nos armários.
Que não põe a mesa para o jantar. Que não leva o lixo à rua, mesmo que seja depois do jantar.
Sou a mãe que não pergunta se têm TPC.
Que não sabe quando têm testes.
Que não vê os TPC depois de feitos.
Que não sabe todas as notas de todos os testes.
Que o obrigou a ir às aulas extraordinárias por ter tido má nota no exame apesar de ter passado à disciplina.
Sou a mãe que insiste para que passem noites fora de casa desde bebés.
Que não telefona quando vão de férias com os avós ou para o campo de férias.
E que fica feliz muitas vezes em que não estão por perto.
Mas também sou a mãe que desatou a chorar a primeira vez que o deixou de férias em casa da avó.
Que lhes faz bolas de sabão para que rebentem.
Que lhe dá um beijo de “Boa noite” à força mesmo que ele não queira.
Que a põe a sorrir em 99% das vezes em que amua.
Que os vai buscar mais cedo à escola sempre que pode.
Que ficou com o coração nas mãos os 10 minutos que ele levou a chegar da primeira vez que andou sozinho na rua.
Que brinca com eles sem se preocupar com mais nada.
Que dança e canta com eles como se ninguém estivesse a ver.
Que lhes diz todas as noites que os adora.
E que se sente feliz por vê-los crescer independentes.