Um dia quando fores crescida…
Hoje conversámos sobre a velhice. Disseste-me que vais ser minha amiga para sempre. Que vais cuidar de mim nessa época em que eu já não terei mãe para o fazer. Fizeste-me uma festinha na cara e eu prometi-te que serei uma velhinha fixe. Sempre tua amiga. Tal e qual como somos agora. Só que nessa altura terei muitas rugas e tu serás grande, tão grande como só tu saberás ser. “O que são rugas, mamã?“ Explico-te que são as pequenas marcas que a vida vai deixando no rosto das pessoas à medida que envelhecem.
Falaste dos filhos que irás ter um dia. Perguntei-te se poderei ajudar a tomar conta desses seres de amor e luz que estão por vir e tu sorriste e respondeste que sim…
Que há tantas coisas que eu posso vir a fazer para ajudar. Olhaste para os lençóis que nos embrulhavam e lembraste-te que posso fazer a cama dos teus bebés. Beijei esse teu narizinho pequenino. Como eu gosto de beijar esse teu narizinho e de te fitar enquanto o coças e afastas os cabelos dos olhos.
“Fecha os olhos, meu amor… Dorme só um bocadinho aqui ao meu lado…” Lembrei- me de mim própria há muitos anos atrás. A tua avó a querer que eu dormisse a sesta e eu, com tanto caminho pela frente, com tanta pressa para me fazer à estrada, fosse para saltar de pés juntos para o meio das poças de água ou para levantar poeira na terra seca, pensava que não havia nada pior para se fazer ao tempo do que dormir.
Abraçámo-nos. Viajas comigo até às minhas primeiras recordações enquanto me deixas espreitar esse futuro cheio de possibilidades de encanto que hás de viver. E é uma paz que sentimos…
É sábado à tarde e hoje podemos ficar neste sossego. Não tarda a vida terá passado por nós e acordaremos deste sonho doce. Fecha os olhos, meu amor. Mas antes tira uma fotografia a este momento tão nosso. Fixa as cores, os tons da luz que entram pela janela e o perfume da cama feita de lavado. Sente o calor do nosso abraço, o toque da minha mão e a ternura em cada beijinho que te dou. O tempo vai passar por nós e vai deixar as suas marcas nos nossos rostos e nos nossos corações. Mas sempre que sentires muitas saudades do que ficou para trás, podes fechar os olhos e regressar a este quarto.
Estarei aqui à tua espera para te abraçar.
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Ожидая / Waiting from Vera Myakisheva on Vimeo.
Por Susana Pedro, Blog Coração da minha vida, fundadora da Sociedade do Bem
para Up To Kids®
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2 comentários
Maravilhoso…! <3
Lindo texto, poético e utópico infelizmente.
Eu diria…aí vc acorda e o tempo passou e sua filha foi cuidar da vida dela e tão pouco lembra que você existe.
Triste, mas muito real nos dias de hoje.
Só vejo filhos a estarem por perto quando lhes convém, ou quando podem obter algum benefício $$$$$$$$$$$$$$$$$.
Quando são os pais a precisarem, deixa estar que ninguém pode até porque eles têm que estudar Evolução das Ostras em
Cardiff ou algo que o valha. Cada um tem sua vidinha e como dizem…desculpem lá, querem que eu pare minha vidinha para ser enfermeira?
Tristes tempos, triste geração.